sábado, 20 de abril de 2024
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Saúde Mental diante das epidemias

09 Mar 2020 - 07h00Por (*) Bianca Gianlorenço
Saúde Mental diante das epidemias -

A China vive uma quarenta que atinge mais de 50 milhões de pessoas devido à epidemia do coronavírus. A OMS alerta para um estado de emergência mundial.

O confinamento de doentes para enfermidades infectocontagiosas é uma prática antiga, lembrando de que já foram registradas na história da humanidade epidemias como varíola, malária, tuberculose, poliomielite, febre amarela, AIDS, etc.

Neste momento a ciência está à procura de uma vacina contra o coronavírus.

Atualmente, porém, vê-se com preocupação o crescimento do movimento antivacinal, alimentado por pessoas que propagam a ideia completamente errada de que as vacinas fazem mal. É exatamente o contrário, foi somente por causa da vacina que a humanidade conseguiu erradicar algumas das doença citadas acima. Não se pode retroceder neste campo, sob o risco de vermos de volta enfermidades que a ciência já havia dominado, um aviso foi dado pelo sarampo, doença que estava praticamente erradicada, mas que voltou a se manifestar em diversos países inclusive no Brasil.

E como essas epidemias afetam nossa Saúde Mental?

Uma epidemia de grande magnitude implica em uma perturbação psicossocial que pode ultrapassar a capacidade de enfrentamento da população afetada. Pode-se considerar, inclusive, que toda a população sofre tensões e angústias em maior ou menor grau, sem contar o estresse.

Essencialmente, estima-se um aumento da incidência de transtornos psíquicos (entre um terço e metade da população exposta pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, de acordo com a magnitude do evento e o grau de vulnerabilidade).

Os efeitos para a saúde mental em geral são mais marcados nas populações que vivem em condições precárias, possuem recursos escassos e têm acesso limitado aos serviços sociais e de saúde.

No plano individual, muitas pessoas podem enfrentar uma crise, definida como aquela situação gerada por um evento vital externo que ultrapassa a capacidade emocional de resposta da pessoa. Isto é, seus mecanismos de enfrentamento são insuficientes e ocorre um desequilíbrio e incapacidade de adaptação psicológica. Quando ocorre a morte de um ente querido o quadro se agrava, pois é necessário enfrentar o luto.

O medo coletivo pode desencadear transtornos mentais, por isso devemos nos atentar as informações de qualidade, pois são inúmeras as informações que circulam sobre o coronavírus e muitas são falsas.

Um estudo publicado no periódico científico East Asian Arch Psychiatry mostrou que 42% dos sobreviventes da SARS (síndrome respiratória aguda grave), última epidemia de coronavírus, em 2003, desenvolveram algum tipo de transtorno mental.

Assim como a epidemia atual, a SARS também teve início e registrou o maior número de casos na China — em todo o mundo foram 8.098 pessoas infectadas e cerca de 800 mortes.

O Estresse pós-traumático, um tipo de transtorno ansioso, foi a condição mais presente entre os pacientes que apresentaram alguma comorbidade psiquiátrica: 54,5%. A depressão ficou em segundo lugar, com 39%.

A epidemia atual já infectou cerca de 65 mil pessoas, levando a óbito cerca de 1400 pessoas e 7200 que se recuperaram.

Após a recuperação, essas pessoas podem desenvolver transtornos ansiosos e depressivos por conta do estresse e do isolamento.

Quando o sistema de saúde está concentrado no combate à epidemia, outras demandas ficam negligenciadas e o setor de saúde mental é o primeiro a ser colocado de lado, então vamos nos atentar.

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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