sábado, 27 de julho de 2024
Artigo Rui Sintra

Pesquisadores da USP de São Carlos e do Canadá publicam estudo que pode eliminar o melanoma ocular

10 Mai 2024 - 07h00Por (*) Rui Sintra
Pesquisadores da USP de São Carlos e do Canadá publicam estudo que pode eliminar o melanoma ocular -

Uma notícia publicada pela “Agência FAPESP”, ontem, dia 09 do corrente mês, deu destaque a um estudo publicado na revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences” onde se dá a conhecer, pela primeira vez, a eficácia demonstrada na utilização de um determinado tipo de fototerapia para eliminar o melanoma ocular*. Com base em um laser pulsado, a técnica utilizada pelos cientistas  consistiu na aplicação de uma grande quantidade de luz por um curto período de tempo para a ativação de um fármaco. Esta pesquisa, realizada em camundongos e financiada pela FAPESP, foi desenvolvida por equipes de pesquisadores do Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica (CEPOF), alocado no Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), e da  University of Toronto e Princess Margaret Cancer Center, no Canadá, permitindo que num futuro próximo seja desenvolvido um tratamento mais efetivo e menos invasivo, atendendo ao fato de que as técnicas atuais para tratamento do melanoma ocular se têm mostrado pouco eficazes, muitas vezes provocando a remoção do olho do paciente afetado pela doença. Os testes foram realizados com camundongos doentes, que, após serem submetidos à terapia para a ativação do fármaco Visudyne, utilizado para o tratamento da degeneração macular, passaram a não apresentar nenhum tumor residual visível. Recorde-se que a terapia fotodinâmica é uma técnica já bastante estudada pelos pesquisadores do IFSC/USP e utilizada, por exemplo e mais recentemente, no tratamento do carcinoma basocelular (tipo mais comum de câncer de pele), envolvendo o uso da luz para a ativação de fármacos em condições adequadas de radiação e na presença de oxigênio (todas as células – de câncer ou normais – precisam dele para realizar suas funções metabólicas). Os estudos, coordenados pela pesquisadora do IFSC/USP, Profª Cristina Kurachi e pelo pesquisador Prof.  Brian Wilson, do Departamento de Biofísica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Toronto (Canadá), apontaram que a parte mais interessante da pesquisa, segundo declarações à “Agência FAPESP” da pesquisadora Layla Pires, co-autora do estudo e pós-doutoranda do IFSC/USP que desenvolve sua atividade no Princess Margaret Cancer Center (Canadá), foi observar que “(...) a técnica foi mais eficaz nos tumores pigmentados, mostrando que a melanina atua como um mediador do tratamento, sendo que esses resultados trazem uma nova perspectiva na área de biofotônica e quebram o paradigma de que lesões pigmentadas não podem ser erradicadas com terapias à base de luz (...)”. Já a Profª Cristina Kurachi relatou, na mesma matéria da “Agência FAPESP”, que foi demonstrado que o método é seguro, uma vez que não causou danos nas estruturas adjacentes. “O tratamento se mostrou altamente seletivo e efetivo”, pontuou a pesquisadora. Outra vantagem significativa da terapia fotodinâmica é que diversos estudos ao redor do mundo vêm indicando sua capacidade de induzir a resposta imunológica, melhorando a ativação do sistema imune do próprio organismo para também atuar nessa eliminação de tumores. Embora estes estudos mostrem um caminho promissor rumo a um tratamento eficaz contra o melanoma ocular, o certo é que ainda faltam percorrer longas etapas, ou seja, muito anos para que esta terapia seja utilizada na prática. A Profª Cristina Kurachi lembra, na matéria da “Agência FAPESP”, que “Realizamos apenas a primeira fase da pesquisa, que é justamente mostrar que o método é efetivo e seguro; os próximos passos incluem testes em camundongos humanizados com melanoma de origem humana e primeiros estudos em humanos”, pontuou a pesquisadora. Os pesquisadores confirmam que esse é, ainda, um processo demorado, até porque os instrumentos específicos que auxiliarão nessa abordagem ainda estão em fase de desenvolvimento. Durante o estudo, os pesquisadores utilizaram microscópio, mas a ideia é que o tratamento propriamente dito seja feito com oftalmoscópios (aparelhos para a visualização da retina) ajustados, tecnologia que já vem sendo criada por outros grupos de pesquisa. Para Layla Pires “A expectativa é que este estudo sirva de fundamento para expandir o uso da tecnologia para outros tumores oncológicos, como o retinoblastoma, que afeta crianças”. O estudo incluiu especialistas de diversas áreas, como biofotônica, óptica e medicina translacional, e contou com o financiamento das seguintes instituições: FAPESP, Cancer Prevention and Research Institute of Texas (EUA), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, Brasil), Governor's University Research Initiative (EUA), Henry Farrugia Research Fund (Canadá), Princess Margaret Cancer Center Foundation Invest-in-Research Fund (Canadá) e Vision Science Research Program Award (Canadá). Caso o leitor tenha curiosidade em acessar o estudo publicado  na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, basta acessar este link -  https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2316303121

O autor é jornalista profissional/correspondente para a Europa pela GNS Press Association / EUCJ - European Chamber of Journalists/European News Agency) - MTB 66181/SP.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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