sexta, 26 de abril de 2024
Memória São-carlense

Odette dos Santos e a tradição dos antigos carnavais

21 Fev 2020 - 07h30Por (*) Cirilo Braga
Odette dos Santos e a tradição dos antigos carnavais - Crédito: Acervo digital da FPMSC Crédito: Acervo digital da FPMSC

Participando por vários anos do carnaval de São Carlos com sua escola de samba, o Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio marcou época nos desfiles da cidade e revelou notáveis sambistas, como a inesquecível Odette dos Santos.

Odette foi uma referência como mulher trabalhadora e sambista. Com muito talento e contagiante entusiasmo, ela despertou a autoestima e a valorização de todo um povo que dedicou à nossa cidade uma contribuição cultural inestimável.

Filha de José e Nair Balthazar dos Santos, fundadores do Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio, Odette nasceu em 27 de agosto de 1929 e com 12 anos já trabalhava. O repentino falecimento de seu pai a levou a ser muito cedo um esteio para a família, garantindo a manutenção de sua mãe e irmãos.

Criada num ambiente musical - desde os 4 anos já saía nos cordões carnavalescos -, ainda jovem ela criou com a diretoria do Flor de Maio a primeira escola de dança de salão de São Carlos. Fundou também a primeira escola de samba da cidade, “Odette e sua Escola de Samba”, passando a ser reconhecida como a principal carnavalesca são-carlense, aclamada com os títulos de “Dama do Samba” e “Madrinha dos sambistas e das Escolas de Samba de São Carlos”.

Quando a Rádio São Carlos estava no auge com seus programas de auditório, lá estava Odette liderando os eventos pré-carnavalescos. Funcionária pública no Instituto de Educação Dr. Álvaro Guião, orientava os alunos para as danças típicas nas festas juninas, além de ensiná-los a tocar instrumentos de percussão.

Em 1974 foi homenageada pelo compositor que a ela dedicou um samba-enredo, cujos versos diziam: “Ao carnaval com o corpo e alma entregou seu ideal sambando/com amor e com carinho alcançou/salve Odette, protetora do samba e da alegria/e na avenida meu senhor, ela jamais deixará de ser rainha”.

Odette faleceu em 11 de março de 1991, aos 61 anos, tendo seu nome dedicado ao Centro de Cultura Afro-Brasileira inaugurado em novembro de 2006.

O samba são-carlense de outras épocas teve João Francisco e sua Orquestra e também os acordes e a alegria da Escola de Samba do Sabino. Na verdade, um imenso bloco, formado por uma legião de pelo menos 200 componentes. Antes ainda, havia os carnavais de Rua do Aristeu, o bondinho do Totó Fiorentino.

Já no começo do século passado,  cordões com trajes “pobres e esdrúxulos” desfilavam pela Avenida. Cantavam em alto e bom som a marcha de Chiquinha Gonzaga: “Ô abre alas que eu quero passar/ eu sou da lira/ não posso negar”. No lugar de lira falavam o nome do bloco. E esse embalo se repetiu por muitos anos.

São Carlos revelou carnavalescos de talento, como Claudionor,Maria Angélica, Mestre Tim Tim, Mestre Bira, Robertinho, Mestre Rantim, Bertão, Valtinho, Carioca,Odacyr Martins, Ângelo Missiato, Rui Sitta, Luiz Carlos Pietrolongo, Fernando Zóia e tantos outros.

Sem falar no talento de Ruth Amaral, a são-carlense que se tornou uma célebre compositora de marchinhas de carnaval. Em parceria com o marido Manoel Ferreira, Ruth compôs mais de 320 marchinhas, entre elas “Transplante de Corintiano”, “A Bruxa vem aí”, “Me dá um geladinho aí”, “A Pipa do Vovô” entre outras.

O carnaval são-carlense teve grandes momentos e seus melhores dias ficaram no passado. Com o acelerado crescimento urbano, o declínio dos bailes dos clubes e desfiles de rua estimula a refletir sobre a necessidade de uma reinvenção dos tradicionais festejos de fevereiro. Até porque uma cidade que teve Odette dos Santos como Rainha do Samba pode não parecer, mas sabe o que é fazer um bom carnaval.

(*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos  (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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