sexta, 29 de março de 2024
Memória São-carlense

O Hotel Estância Suíça

28 Jun 2019 - 07h00Por (*) Cirilo Braga
O Hotel Estância Suíça - Crédito: Acervo FotoArte/Reprodução A Folha Crédito: Acervo FotoArte/Reprodução A Folha

A noite de 20 de junho de 1969, uma sexta-feira, foi marcante para São Carlos, quando autoridades e figuras representativas da vida social da cidade compareceram ao vitorioso retorno às atividades do tradicional Hotel Estância Suíça.

O lead desta matéria é emprestado do jornal “A Folha” que assim noticiou, dias depois, a realização do evento que acaba de completar 50 anos.

Registrava entre os presentes o então prefeito José Bento Carlos Amaral e o vice, Alderico Vieira Perdigão, o presidente da Câmara, João de Santi, e o vereador e diretor geral da Casa, Francisco Xavier Amaral Filho, o juiz de Direito Marino da Costa Terra e representantes da imprensa, como José Inocentini e João Neves Carneiro, na época correspondente do jornal “O Estado de S.Paulo”, e também a colunista Lãines Paulillo e Ubirajara Rosa, presidente do Lions Clube, entre outros que discursaram na ocasião.

Julio Caio Schmidt, diretor proprietário do estabelecimento, trazia de volta muito do glamour do setor hoteleiro da cidade, impulsionado com o empreendimento idealizado por seu pai, Arnold Schmidt, notável cidadão suíço que adotou São Carlos.  Ao assumir em 1968 a incumbência de reavivar os tempos coloridos do Estância Suíça, Julio concretizava o sonho de seu pai – falecido em 24 de dezembro de 1968, aos 64 anos.

Foram alguns meses de obras que remodelaram radicalmente as acomodações do Hotel para atender, nos dizeres dele, “pessoas que de outros lugares vêm a São Carlos, seja a turismo, para negócios ou simplesmente para conhecê-la”.

O hotel circundado por um terraço, ponto agradável no verão, passava a dispor de amplo restaurante para recepções, banquetes, coquetéis, enfim para festas em geral, um bar que cumpria a proposta de atender “aqueles que apreciam um bom drink” e um bem equipado parque infantil.

A cozinha foi organizada para introduzir no cardápio “especialidades apreciadas” e atendida até as 22h.

Na maioria dos discursos pronunciados naquele 20 de junho, foram recorrentes as lembranças de Arnold Schmidt, que urbanizou aquela região onde realizou a partir do ano de 1949 o loteamento da elegante Vila Elizabeth, nome de sua filha. Os oradores evocaram a importância do idealizador e de sua esposa, dona Mercedes.

Lãines Paulillo, emocionada, lembrava que o Hotel originou-se na área onde se localizou a Chácara Giongo, de sua família. Ao discursar, recordou que seu pai nasceu naquela chácara e plantou muitas árvores ali, onde ela própria costumava brincar quando criança. “Aquelas terras foram vendidas e se transformaram no Hotel, que está realmente um encanto. Emociona ver que no chão em que meu pai nasceu se construiu uma das propriedades mais conhecidas de São Carlos”.

O então proprietário do jornal A Folha, José Inocentini, destacou a iniciativa de Arnold de dotar a cidade de um hotel campestre e apontou a relevância do fato de Julio ter realizado curso de hotelaria na Suíça.

Por sua vez, o então prefeito José Bento Carlos Amaral mencionava que a administração municipal naquele período estava empenhada em estabelecer a cidade – grande centro industrial e educacional prestes a receber a Universidade Federal – como um importante centro turístico do Estado de São Paulo. Assim, considerava que a inauguração do hotel representava um ponto marcante para encurtar o caminho nessa direção.

Os Schmidt há tempos se ligavam ao desenvolvimento de São Carlos. Arnold, radicado na cidade desde 1933, foi assistente comercial da fábrica de lápis Johann Faber, depois de representante geral foi coproprietário da Casa Hugo, especializada na industrialização e comércio de couros.

É atribuído a seu empenho e colaboração a implantação na cidade das indústrias Hero e Tapetes São Carlos. Também doou terreno e ajudou na construção do Abrigo de Idosos Dona Helena Dornfeld. Na vida pública, exerceu o mandato de vereador entre 1956 e 1959. Em 1965, pelos serviços prestados à comunidade, foi agraciado como título de “Cidadão Honorário de São Carlos”.

Como um dos pioneiros da hotelaria de padrão internacional na cidade, ao fundar o Hotel Estância Suíça, Schmidt fincou naquela área um negócio prestigiado pela sociedade são-carlense. Ali se realizavam reuniões importantes de líderes políticos nos tempos de ascensão do deputado Ernesto Pereira Lopes e do prefeito Luis Augusto de Oliveira; e também as recepções a personalidades ilustres em visita à cidade, encontravam no Estância Suíça o seu ambiente ideal, o lugar moldado para ser o retrato perfeito da boa hospitalidade da então “Capital do Clima”.

Já no ano de 1969, alguns meses depois da reabertura, o hotel hospedou a delegação do lendário Santos Futebol Clube, que trouxe Pelé para sua primeira visita a São Carlos. O fotógrafo Thomaz Ceneviva clicou o craque ao lado de um grupo de torcedores. O cronista social Aduar Dibo, Adu, torcedor santista, registrou uma curiosidade ocorrida naquele dia: “Pelé comprou um bilhete de loteria de um cambista são-carlense e ganhou uma bolada”.

No princípio de 1981, a “Coluna do Adu” elogiava a atuação de Caio Schmidt que na época propulsionava a noite no hotel Estância Suíça e trabalhava também no Fazenda Hotel São Carlos.  E no réveillon de 1983, informou que mais de duzentas pessoas assistiram à entrada do ano no alegre e descontraído ambiente do Hotel Estância Suíça, com coordenação de Vicente Causin Neto e Celso Rinaldi, música do Conjunto Elite Som (direção de Serafim Batarce).

No período, o Hotel Estância Suíça era cenário de grandes eventos, foi o local do jantar comemorativo de posse do prefeito Dagnone de Melo, que com a esposa Vanderlice recepcionou amigos e correligionários.

O hotel hospedava frequentemente delegações dos grandes clubes de futebol de São Paulo e do país. Nos anos 1970 e 1980, sediou também entrevistas coletivas de políticos e autoridades de governo que compareciam à cidade.

De tão importante cenário em que parte da história de São Carlos se passou, o hotel teve seu nome estendido extraoficialmente como a designação do bairro no seu entorno.

(*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos  (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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