terça, 23 de abril de 2024
Memória São-carlense

Miltinho Olaio, o legado de um vencedor

30 Nov 2018 - 06h59Por (*) Cirilo Braga
Miltinho Olaio, o legado de um vencedor - Crédito: Arquivo FPMSC/Leisa Olaio Crédito: Arquivo FPMSC/Leisa Olaio

Dezoito anos depois de sua morte e quatorze após a inauguração do Ginásio Municipal de Esportes que leva o seu nome, Milton Olaio Filho, o Miltinho, são-carlense que brilhou no basquete nacional com sua tradicional camisa 13, faz por merecer também um memorial naquela praça esportiva, para que suas conquistas sejam conhecidas pela atual geração.

Uma foto de seus netos durante a realização dos Jogos Abertos do Interior, edição de 2018 – cuja cerimônia de abertura demonstrou a beleza do Ginásio -  me permitiu ligar o momento ao dia em que, com entusiasmo, o falecido vereador Antonio Florindo Zanette me informou que iria propor o nome de Miltinho para o Ginásio de Esportes. Confesso que na época, associava o nome do então ex-atleta ao da Casa Olaio, tradicional estabelecimento de comércio da família. Mas Zanette com sua ênfase habitual tratava de relatar o quanto seria importante perpetuar o nome de um esportista de grande talento e motivo de orgulho para a cidade.

Miltinho foi cestinha do selecionado brasileiro e figurou com destaque no time que alcançou o vice-campeonato no mundial de basquete de 1970 na antiga Iugoslávia.

Tudo começara no São Carlos Clube onde ainda na infância, nos anos 1950, foi mascote da equipe que marcou época como uma das melhores do estado.

Vale lembrar que seu pai, Milton Olaio, fora diretor do São Carlos Clube em 1952, quando o então presidente Romeu Santini, após inaugurar em grande estilo o primeiro ginásio de esportes coberto da região – o “Ginasião” - reuniu um grupo de jogadores talentosos e montou um time de basquete que entrou para a história, conseguindo algumas proezas.

Miltinho, ainda criança na ocasião, faria suas primeiras cestas no ano do centenário da cidade, 1957, quando estava com 15 anos. Era o começo de uma caminhada brilhante: depois viriam o Clube dos Bagres, em Franca, o Palmeiras, o XV de Piracicaba e em meio a tudo, as convocações para defender o Brasil.

Ao atuar em Franca foi que alcançou a seleção brasileira. Também figurou no selecionado paulista e atuou pela Federação Universitária Paulista de Esportes. No forte time francano em que jogavam os irmãos Garcia (Fransérgio, Toto e Hélio Rubens), figuravam também os irmãos são-carlenses Miltinho e Zé Luis Olaio, campeões brasileiros e vencedores de vários campeonatos disputados entre 1967 e 1968. Registre-se que José Luiz, pivô de excelente nível técnico, mais tarde acabou se radicando em São José dos Campos por conta do basquete. No auge de sua forma foi contratado para jogar no Tênis Clube daquela cidade, em 1970.

O rol de vitórias de Miltinho incluiu os Jogos Abertos (por São Carlos) e o estadual pelo Clube dos Bagres de Franca, além do título brasileiro nas categorias Juvenil adulto e universitário e a medalha de bronze na universidade em Tóquio, Japão.

Em 1968, a vitoriosa temporada em Franca teve também outro fato marcante na vida do atleta, que conheceu Leisa Ribeiro de Carvalho - eleita miss Franca no ano anterior – com quem se casou em 1971, vindo morar em São Carlos. O casal teve dois filhos, Leonardo e Milton Neto. Em sua cidade natal, após retirar-se das quadras, Miltinho - que era graduado em Engenharia Química, administração de empresas e educação física -, deu continuidade ao comércio da tradicional Casa Olaio.

Ao falecer subitamente no dia 22 de junho de 2000, deixara um legado de amor ao esporte que mereceria ser perpetuado em São Carlos, e disso se deu conta o poder público local, quando se aproximava a conclusão do Ginásio de Esportes que demorou vários anos para ser concluído.

A denominação de Milton Olaio Filho à praça esportiva foi sacramentada pela Lei Municipal No. 12.797, de iniciativa de Antonio Florindo Zanette, sancionada no dia 26 de abril de 2001 pelo então prefeito Newton Lima Neto. A inauguração oficial ocorreu no dia 13 de maio de 2004, em cerimônia que contou com a presença do ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz.

A partir de então, o público amante de diversos esportes haveria de ouvir muitas vezes o nome de Milton Olaio Filho, que os são-carlenses conheciam melhor pelo apelido de “Miltinho”. Em 2012, o esporte são-carlense viveria um momento de emoção quando outro notável jogador de basquete nascido na cidade, Nenê Hilário, adentrou a quadra do Ginásio Milton Olaio Filho para atuar pela seleção brasileira em um torneio internacional no qual fez questão de usar a camisa 13, de Miltinho.

O pivô Nenê, astro da NBA, foi treinado durante sete anos pelo técnico Nivaldo Meneghelli Júnior, que por sua vez teve Miltinho como treinador. Ao comparecer ao ginásio, Meneghelli dizia ter rememorado toda a sua história no basquete enquanto seu antigo pupilo jogava pela seleção.

A emoção não foi menor para a professora Leisa, viúva de Miltinho, que doou o acervo de fotos e objetos para o arquivo histórico da cidade e espera que um memorial possa ser constituído. Leisa se identificou plenamente com São Carlos e deu continuidade ao tradicional empreendimento comercial dos Olaio. Em 2003 tornou-se a primeira mulher a compor as fileiras do Rotary Club São Carlos e em 2012 foi agraciada com o título de “Mulher Empreendedora Emérita do Ano”.

Em todos os momentos, enalteceu a lembrança daquele cestinha que jogava com garra e sempre se orgulhava de sua origem, de ter nascido para a vida e para o basquete na cidade de São Carlos: Milton Olaio, ou simplesmente Miltinho, que além do Ginásio de Esportes, emprestou seu nome também para uma rua localizada no Conjunto Habitacional Santa Angelina.

Que se faça, pois, um Memorial do desportista que honrou o nome de sua terra natal nas quadras do Brasil e do mundo.

(*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos  (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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