quinta, 28 de março de 2024
Memória São-carlense

Dr. Álvaro Giongo, um ilustre vizinho

26 Out 2018 - 07h00Por (*) Cirilo Braga
Dr. Álvaro Giongo, um ilustre vizinho - Crédito: Arquivo Câmara Municipal Crédito: Arquivo Câmara Municipal

Quando minha família veio morar em São Carlos no começo do ano de 1972, eu tinha oito anos e nosso vizinho mais notório era o Doutor Álvaro Giongo, advogado e então vereador, uma figura elegante na mais clara acepção da palavra.

Era então um privilégio observá-lo na sua rotina de caminhar a pé até seu escritório na rua Major, notar a serenidade de sua fala e a atenção que dedicava a seus interlocutores – mesmo que fosse um menino a quem incentivou o gosto pelas lides da imprensa.

“Qualquer dia vou lhe dar uma entrevista”, me dissera por volta de 1978, ao saber que, adolescente, eu editava um jornalzinho doméstico, lido semanalmente por meus familiares. Mas nunca calhou de acontecer o encontro, pois quando passei a ter contato com o mundo político local, ele já deixara em definitivo a tribuna da Câmara de Vereadores.

Aprendi nos registros da história da cidade que os Giongo chegaram a São Carlos na primeira fase industrial são-carlense – Abel, seu tio, imigrante tirolês foi empreiteiro e construtor da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, aqui chegou recomendado por carta de um amigo a Antonio Prado e instalou uma serraria defronte à estação, onde seu pai trabalhou.

De Álvaro bastava a informação de tratar-se de um homem do Direito, de trânsito desenvolto nos meios religiosos e na Associação Comercial e Industrial de São Carlos e para seus vizinhos bastava a referência familiar da dona Clyde e dos filhos Samuel, Bia, Adriana e Teresa que cresceram ali na casa da esquina da São Joaquim com Padre Teixeira.

Nascido em São Carlos no dia 28 de maio de 1919, filho de Bruno Giongo e Adua Marro Bacci Giongo, Doutor Álvaro viveu a intimidade da política local em dois períodos distintos, com mandatos de 1948 a 1951 e de 1973 a 1977. Do estado novo aos anos de chumbo, a ponderação foi sua marca. O que faz supor que talvez não fosse ouvido se detivesse um mandato nos dias atuais, com também pareceriam insólita a postura de seus contemporâneos de Câmara, Mário Tolentino e Ary das Neves e das lides jurídicas, doutores Gypsi e Aldo de Cresci.

O compulsar das atas das sessões legislativas, com raros intervalos, colocava a cultura no centro do efervescente debate político. Havia sim – os registros não deixam negar -, as manobras, as discussões acaloradas, os volteios regimentais nas sessões que varavam a madrugada até o raiar do dia. Algo não mudou: o Legislativo sempre foi um poder desarmado, sujeito à cólera de muitos que o observam de longe. Mas é até de lastimar que não existissem nos idos tempos os holofotes e o “big brother” de agora, pois os tribunos da época faziam por onde serem chamado de “professor”, “doutor” e “vereador”.  Palavras que tinham neles, designações precisas, as suas virtudes não eram produto de marketing, daí o respeito que conquistaram naturalmente.

Como detectei quando conheci o Doutor Álvaro, os homens ilustres de uma cidade bem menor que a São Carlos de hoje, eram tal como aparentavam ser. Não eram santos, obviamente, mas havia entre eles a voluntariedade que lhes dava a noção de ser preciso ter algo a dizer, algo a oferecer e a contribuir para a cidade, olhar primeiro o bem comum.

Álvaro Giongo faleceu no dia 24 de maio de 2011, cumprindo a jornada de 92 anos em que acompanhou muito de perto a construção de São Carlos como a conhecemos. Deixou o legado da dimensão ética do trabalho de quem a seu tempo e a seu modo, ajudou a acender a lanterna que iluminou os caminhos da história da cidade.

Em sua homenagem foi sancionada a lei municipal 15.893, de 10 de novembro de 2011, que deu o nome de Álvaro Giongo a uma rua no bairro Jardim Santa Julia, próximo ao shopping Passeio São Carlos, na região noroeste da cidade.

(*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos  (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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