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DIA A DIA NO DIVÃ: Transgênero - na mira do preconceito e da não conformidade

18 Set 2017 - 03h13Por (*) Bianca Gianlorenço
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

O assunto do transgênero vem sendo uma das questões mais atuais nos últimos anos. Especialmente porque a maioria das pessoas, sempre que fala em gênero, se pensa em dois tipos bem estabelecidos. A tendência na sociedade e os avanços nos apresentam que a questão não é tão simples.

Geralmente a constituição e os comportamentos são vinculados ao sexo biológico, mas uma pessoa transgênero seria precisamente aquela que não sente identificação com seu gênero sexual, ou mesmo, não se expressa segundo o que é esperado. A maioria das vezes a pessoa transgênero sente um desconforto total e constante em relação ao seu próprio sexo, sentindo que se encontra em um corpo errado.

A transição sinaliza a possibilidade de lidar com contradições expostas, e lidar com esses contextos torna estes momentos únicos pela libertação que podem propiciar, a despeito da dor que possam causar. É quando, em geral, se procura fugir do enfrentamento. 

A transição de gênero, no entanto, pode ser algo bem diferente de ser vivenciada.  Vamos para o mundo em busca de nossas identidades usando o corpo como veículo. Habitamos o corpo e vestimos as couraças sociais, profissionais, de gênero, da idade. Acabamos fazendo o que se espera de nós, guiados pelo senso comum, tentamos encontrar meios de ser o que entendemos que somos, fazendo escolhas que limitam os campos de atuação. Escolhemos o tempo todo: esconder ou mostrar, submissão ou revolução. 

A essência, fica sob o manto do corpo. Se a veste não nos representa claramente, o que resta a fazer? Rebelar-se, tentar fugir dessa coação cotidiana, se trancar, silenciar, morrer um pouco todo dia, exercendo o que se impõe como certo, líquido, garantido? 

Vivemos sobre o preconceito, sobre a não conformidade.

Quem determina se uma pessoa é do sexo masculino ou feminino é a natureza, mas a maneira como nos comportamos e nos sentimos, é construída ao longo da vida.

Por exemplo: se um menino brinca com uma boneca e é repreendido por alguém, que associa essa brincadeira "a coisa de menina", esse garoto tem o contorno do próprio gênero delimitado pela sociedade. As diferenças entre homens e mulheres, não são totalmente naturais, e sim, influenciadas pelo convívio social.

O gênero é o resultado da junção de dois fatores, como a pessoa se percebe, e como ela se expressa.

Preconceito,

 

Exclusão,

Dificuldade no acesso educacional,

Indisponibilidade de vagas no mercado de trabalho,

Violação de direitos,

Esses são alguns dos desafios diários enfrentados por pessoas transgênero no Brasil. O   país lidera os rankings de violência contra trans, segundo um levantamento da ONG Transgender Europe.

Em um período de sete anos, de 2008 a 2015, 802 trans perderam suas vidas no país, o que evidencia uma realidade de severa intolerância.

A expectativa de vida, de um transgênero no Brasil, é de 35 anos, segundo associações que trabalham com o tema.

A sexualidade humana é muito complexa, devemos procurar conhecer, refletir e acolher sua complexidade, avançando de modo humano, para que a vida possa trafegar, independente de um órgão genital, e sim, potencializa-la para a diversidade existencial, afetivo-sexual e corpórea.

Não existe um modo único para expressar a sexualidade, e sim diversas possibilidades de estruturação e constituição enquanto ser humano. O transitar por entre os sexos, expressa mais uma possibilidade.

 O apoio da família é fundamental para que a pessoa possa enfrentar a mudança de forma saudável.

Uma pessoa transgênero, não é doente, não precisa de tratamento para curá-la, precisa ser olhada enquanto sujeito, com desejos, e a clínica psicanalítica supõem que em toda pessoa existe esse sujeito. Ela auxilia esse sujeito a discriminar os desejos das fantasias. É uma aliada nessa transição, tanto para ele quanto para a família, que muitas vezes não aceita.

(*) A autora é graduada em psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, Especialista em psicologia clínica psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua em uma clínica, situada a rua 7 de setembro, 3168, Vila Nery - São Carlos/SP e como psicóloga clínica e social em uma organização não governamental. Telefone de contato: 16 997375436. Dúvidas e sugestões: biagian@hotmail.com. Facebook: Bianca Gianlorenço.

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