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Coluna de Tati Zanon: Entre justiceiros, bandidos e professores

24 Set 2015 - 13h33Por Tati Zanon/Colunista
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Andando na contramão da evolução social (como de costume), o Brasil, nos últimos anos, tem aberto mais presídios e fechado mais escolas. A informação foi retirada de um artigo de autoria do jurista Luiz Flávio Gomes, no qual constam também outros dados não menos assustadores a esse respeito, que acho muito importante compartilhar, visto que 87% da população brasileira são a favor da redução da maioridade penal.

O Brasil é o 3º país no mundo com a maior população carcerária, ficando atrás apenas de China e Estados Unidos. Mesmo achando que colocar pessoas atrás das grades é a solução para resolver os graves problemas de segurança e violência no país, na prática, estamos cansados de saber que esse tipo de ação não tem efeito duradouro. Arrisco-me até em dizer que, sequer, tem efeito de curta duração.

Mas, voltando ao artigo de Gomes, entre 1994 e 2009, houve uma queda de 19,3% no número de escolas públicas, enquanto houve o aumento de 253% no número de presídios. Pela lógica da mentalidade brasileira, se temos mais presídios, temos mais segurança. Se hoje temos cada vez menos coragem de colocar os pés na rua, há algo errado nessa lógica, correto?

Para não ficar na mesmice dos argumentos já tão desgastados nas notícias de jornal e redes sociais, acho também importante misturar ao assunto em questão uma informação sobre a qual tive conhecimento um dia atrás: depois dos arrastões ocorridos no último final de semana no Rio de Janeiro, estão sendo formados, através das redes sociais, grupos de pessoas autodenominadas "justiceiros", com o objetivo de realizar a famosa "justiça com as próprias mãos", e se vingar dos inúmeros delinquentes que causaram pânico generalizado na cidade maravilhosa.

Os "justiceiros" soam como uma alternativa apavorante ou necessária? Independente disso, o que é, novamente, colocado em evidência nesse fato? Para mim, mais uma vez, a ineficiência da máquina pública em tomar medidas que, de fato, tragam maior segurança à população. E a resposta para isso, queridos leitores, não são mais prisões, nem justiceiros, e sim mais escolas.

Peguemos dois exemplos de educação mundial: Coreia do Sul e Finlândia. Embora com métodos de ensino diferentes, o pilar que coloca os dois países como referência em educação é o investimento pesado na formação e capacitação de professores. Novamente, sabemos que, por aqui, os vergonhosos salários pagos aos educadores e a paupérrima infraestrutura das escolas tornam-se dois grandes obstáculos para tornar o ensino no país exemplar- ou, pelo menos, de boa qualidade.

Sabemos que parece muito mais fácil erguer altos muros e colocar dentro deles todos aqueles delinquentes que vemos por aí assaltando, violentando e trazendo tanta insegurança a todos nós. Mas gostaria que, por um momento, querido leitor, você pudesse pensar em toda nossa história recente e reavaliar seus conceitos sobre aquilo que, de fato, pode funcionar e trazer um cenário mais próspero ao Brasil.

Pense, por um momento, nas mãos de quem você quer ficar: dos delinquentes, dos justiceiros ou dos educadores? Antes de votar a favor da redução da maioridade penal, pense nisso. Afinal, reduzir a maioridade penal trará como consequência a abertura de mais presídios. Investir nesse tipo de obra, além de não resolver o problema da violência, piora ainda mais o da educação, única forma possível de remediar os assustadores números da violência e, de quebra, acabar com bandidos e justiceiros de qualquer espécie.

As informações acima são de responsabilidade da autora.

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