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Coluna de Rui Sintra: O rugido verde e amarelo

18 Ago 2015 - 09h50Por Rui Sintra - Colunista
Foto: Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas - Foto: Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas -

Pela terceira vez este ano, o Brasil saiu nas ruas de todos os estados do país, incluindo o DF, em uma manifestação popular que reuniu cerca de 790 mil pessoas em 149 cidades. O governo esteve expectante ao longo de todo o dia 16 de agosto em relação aos números da adesão ao chamado popular feito nas redes sociais, quando na verdade deveria ter estado extremamente atento às pautas que poderiam surgir nesse movimento. Com alegações de que essa manifestação reuniu um número muito menor de participantes, comparativamente aos protestos de 15 de março (2 milhões de pessoas), o certo é que esta manifestação conseguiu superar a anteriormente realizada no dia 12 de abril (660 mil pessoas), com a particularidade de ter apresentado três pautas perfeitamente sincronizadas, ao contrário das outras manifestações que ostentaram reivindicações difusas. Neste protesto de dia 16 de agosto, a mensagem do povo brasileiro foi clara e dirigida: pedido de impedimento para a presidente da república, a saída do PT do governo por alegado envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras e o dedo apontado a Luiz Inácio Lula da Silva, com alegações de que ele seria o chefe oculto dos desmandos ocorridos ao longo do tempo. Em contraponto, o juiz Sérgio Moro foi elevado à categoria de herói nacional pela sua coragem e determinação em levar por diante - e com maestria - a operação "Lava Jato", que cada vez mais se aproxima da quase intocável classe política.

Embora tente minimizar o protesto e insista na mesma ladainha de discurso, a verdade é que o governo se sente muito incomodado com o resultado dos protestos do dia 16 de agosto, exatamente pelas pautas que foram para a rua, principalmente num momento indicativo que o Palácio do Planalto tenha conseguido dividir lençóis com o Senado e com Renan Calheiros, embalando com uma mão, o berço do TCU e envenenando, com a outra mão, o cálice de Eduardo Cunha. Enfim, um governo exaurido, acuado num beco sem saída, sem dinheiro, sem criatividade e sem diálogo - exceto para seus correligionários que se sentam nas mesas dos almoços e jantares no Palácio do Planalto. Para o povo brasileiro - naquilo que se pode constatar -, de todos estes personagens nenhum se aproveita, muito menos o ex-presidente Lula, que, como seu partido político, caiu em desgraça completa e que, com o andar da carruagem, nem com a distribuição gratuita de churrasquinhos ficará com espaço suficiente para tentar vencer as próximas eleições presidenciais de 2018.

Para muitos analistas políticos, inclusive internacionais, a famosa "Lista de Janot" (Procurador Geral da República) poderá ser o golpe de misericórdia de um governo que se sucedeu a ele próprio através de falsas expectativas, de promessas baseadas na mentira e de metodologias pouco sérias, que esconderam da opinião pública a real dimensão da economia nacional e dos perigos que corria: em suma, um populismo desenfreado.

Enquanto o PT tenta, a todo o custo, arrastar os poucos militantes que ainda têm ânimo para agitar as bandeiras do partido, no sentido de auxiliarem a compor as seletas plateias amigas que possam aplaudir a "obra" da presidente da república - por forma a que a foto fique mais colorida nas páginas dos jornais -, sempre aparece algum personagem que acaba por estragar todo o esforço da presidente de república e de sua equipa. O mais recente caso - aliás, pitoresco - foi protagonizado no passado dia 13 de julho, no evento "Diálogo com Movimentos Sociais", presidido por Dilma Rousseff, onde Vagner Freitas, presidente da CUT - Central Única dos Trabalhadores, pediu aos movimentos sociais que fossem "à rua entrincheirados, com armas na mão, se tentarem derrubar a presidenta". Posteriormente, certamente tendo refletido sobre o que disse, Vagner Freitas alegou que as palavras proferidas eram meramente figurativas, tipo figura de linguagem. Figura de linguagem? Bem, parece que o povo brasileiro entendeu bem essa "figura de linguagem" e quem parece também ter entendido muito bem essas palavras foram os investidores, o mercado nacional e internacional, as agências de risco, os candidatos a parceiros econômicos, etc..

Finalizando, uma vez mais o povo brasileiro deu uma lição prática na disciplina de Democracia, colocando no chinelo a demagogia barata que tem assolado o país nos últimos tempos. As ruas das cidades brasileiras encheram-se de cor e de esperança por dias melhores, num rugido verde e amarelo que ecoou por todo o lado.

O texto acima é de inteira responsabilidade do autor.

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