sexta, 26 de julho de 2024
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Coluna de Rui Sintra: Dar nozes para quem não tem dentes

04 Ago 2015 - 16h57Por Rui Sintra - Colunista
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Não é uma questão isolada o fato de uma parte considerável das obras destinadas à Olimpíada do Rio, em 2016, não estarem ainda concluídas: o mesmo se passou com as obras da Copa do Mundo, em 2014, muitas delas ainda não concluídas. Isso comprova que não se trata de um acaso, mas sim de algo que já é endêmico - permitam-me utilizar esta expressão que já entrou na moda, por outros motivos. O Brasil teve seis anos - repito, seis anos - para se preparar para o maior acontecimento esportivo do planeta e não está - nem nunca esteve, segundo parece - em condições de cumprir os compromissos assumidos, principalmente os relacionados com o famoso "legado" para a população. Já no aspecto competitivo das Olimpíadas, vejamos, por exemplo, o lastimável caso da Baía de Guanabara, onde foi preciso uma agência de notícias estrangeira -Associated Press - denunciar a gravíssima situação de poluição das águas da Baía de Guanabara (RJ), sujeita (há anos) a contínuas descargas diretas de esgotos domésticos. A Associated Press, que durante cinco meses analisou as águas da Baía, comprovou que os locais onde ocorrerão diversas competições olímpicasestão infestados de vírus e bactérias causadores de doenças, com elevados riscos para a saúde dos atletas. Devido a essa noticia e como um passe de mágica, foi instalada no início desta semana uma "força tarefa" para tentar diminuir o problema que, de fato, deveria ter sido combatido no mínimo há seis anos, e que, segundo consta, envolverá diversos técnicos de universidades e centros de pesquisa brasileiros. Ou seja, só agora os responsáveis governamentais descobriram que em seu próprio país existem algumas das melhores universidades e centros de pesquisa do mundo, que estão em condições de ajudar a sanar o grave problema. É óbvio que apenas a um ano da realização das Olimpíadas, no Rio de Janeiro, essa "força tarefa" não conseguirá anular nem minimizar suficientemente o descaso que dura há várias dezenas de anos na Baía da Guanabara e em outros locais paradisíacos da Cidade Maravilhosa: na verdade, essa "força tarefa" deveria ter sido instituída há muito mais tempo, não por causa das Olimpíadas, mas sim em prol da saúde da própria população e de quem a visita - já que o turismo é a principal fonte de receita do Rio de Janeiro. O descaso do poder público em relação ao seu próprio meio-ambiente revela, em simultâneo, a incompetência e o desprezoque os governantes nutrem pelas populações ao longo de várias décadas, em nível nacional; um exemplo disso é a escandalosa e permissiva proliferação de favelas, modernamente chamadas de "comunidades" - não só no Rio de Janeiro, como em São Paulo e em outras cidades -, onde foi - e é - mais fácil deixar o cidadão de bem coabitar e confrontar-se diariamente com o bandido, do que fazer investimentos em habitação social de qualidade.

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