sexta, 19 de abril de 2024
Resplandecente Alma

A criança interior - o que é e como se manifesta na vida adulta

30 Jan 2020 - 14h30Por Anaísa Mazari
A criança interior - o que é e como se manifesta na vida adulta -

Desde a vida intrauterina, somos formados não apenas biologicamente, mas também emocionalmente. O histórico da concepção, contexto pessoal de cada um dos pais no momento, a chegada a um sistema familiar repleto de crenças e dinâmicas relacionais já operantes, bem como o momento histórico do sistema maior, são fatores que devem ser considerados ao analisar histórias de vida humanas, suas características e até mesmo suas demandas de cuidado quando algo não vai bem na vida emocional.

A fase de molde, fase na qual acontece a formação da personalidade, compreende os primeiros anos de vida até aproximadamente 5 anos, sendo, em algumas literaturas pertinentes ao tema, estendida até os sete anos. Ou seja, é na infância que são criadas as bases para a continuidade do desenvolvimento emocional. Nesta fase, recebemos o cuidado dos pais ou daqueles que estão na função de cuidadores, experimentando vivências diversas qualitativamente positivas e negativas e ainda ocupando um lugar no sistema familiar que pode ou não ser pertinente ao desenvolvimento na infância. Tudo isso sendo influenciando por um histórico muito maior do que possamos imaginar...  

Mais tarde, o desenvolvimento segue, mas a intensidade das experiências infantis e suas repercussões constituem a nossa Criança Interior, que caminhará conosco para as experiências adultas, levando consigo a gama do que foi aprendido afetivamente na família e nos demais ambientes significativos. A criança interior se manifesta de muitas formas. É o nosso lado sensível e perspicaz, nossa criatividade, nossa maneira de se expressar, a voz da nossa alma em um sentido mais profundo. É essencial que consigamos identificar as manifestações da Criança Interior, permitindo que ela se comunique conosco, mas com a consciência de que o comando da vida jamais deve ser um comando infantil - o que acontece com muita gente de forma inconsciente quando criança e adulto não se integram.

Quando esta integração não acontece, observa-se que a criança começa a determinar decisões, avaliando a vida a partir do crivo dos traumas que já aconteceram e impondo vontades pouco pertinentes a uma vida adulta potente e amadurecida. Isso ocorre em razão das forças inconscientes que imperam até alcançarmos a consciência das nossas dores emocionais e de quem nos tornamos a partir destas. Quando atingimos a consciência de que como adultos, a responsabilidade pelo cuidado com a nossa própria vida é nossa, não sendo mais pertinente que este cuidado seja proveniente dos pais ou de outras pessoas que passam pela nossa vida, de quem esperamos coisas que não nos foram suficientes na infância, são criadas as condições para que o lado adulto de fato comande.

Quando conscientes da nossa criança interior e de suas necessidades, o lado adulto se responsabiliza pelos cuidados de que ela necessita e também decide quando será pertinente ou não que ela apareça. Comparando um carro à vida, o adulto deverá estar no volante e a criança como passageira. Ela poderá opinar sobre o caminho e a direção, mas a escolha final é sempre adulta, capaz de avaliar consequências que nossa criança interior não conseguirá... pois afinal, é uma criança! Seu lugar é ao nosso lado, não à nossa frente ou atrás de nós. Ela precisa ser vista e precisa caminhar conosco de forma integrada.

Com a integração criança e adulto, é possível se permitir escutar a melodia da alma e do coração, praticando a dança da vida adulta com muito mais sincronia e prazer, crescendo e evoluindo no maravilhoso palco da vida, com muito mais qualidade de vida emocional. Alguém consciente de suas necessidades e assumindo seu autocuidado, contribui não apenas para sua própria existência, mas para e evolução do seu sistema familiar e também para o desenvolvimento do amor saudável no sistema maior chamado Vida.

 

 

Anaísa Mazari, é graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. CRP 06/100271, especialista em  Saúde da Família e Comunidade através do Programa de Residência Multiprofissional da UFSCAr,   Terapeuta e Consteladora Sistêmica através do Instituto Brasileiro de Consciência Sistêmica - IBRACS Ribeirão Preto. Atua como psicóloga clínica e Consteladora.

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