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Pesquisa da UFSCar detecta impactos ambientais no Ribeirão das Araras

31 Mai 2017 - 08h15Por Redação
Ribeirão das Araras tem pontos que acarretam impactos ambientais negativos. Foto: Adriel Bentos - Ribeirão das Araras tem pontos que acarretam impactos ambientais negativos. Foto: Adriel Bentos -

Nos últimos anos, a urbanização e a industrialização têm gerado impactos negativos ao meio ambiente, afetando, inclusive, as fontes de abastecimento de água para a população. A partir dessa realidade, Adriel Barboza Bentos, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural (PPGADR) do Campus Araras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), realizou uma pesquisa na microbacia do Ribeirão das Araras - localizada inteiramente no município de Araras - com o objetivo de indicar o seu estado de conservação, bem como mapear quais atividades mais acarretam impactos ambientais negativos em seu corpo hídrico. O trabalho contou com a orientação do professor Rubismar Stolf, do Departamento de Recursos Naturais e Proteção Ambiental (DRNPA) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFSCar.

Para realizar o estudo, o pesquisador selecionou seis pontos de amostragem do Ribeirão, compreendidos entre áreas rurais e urbanas do município de Araras. "Ao longo dos meses, utilizei a ferramenta de avaliação denominada Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats (PARs)", relata Bentos. Outro método utilizado foi o monitoramento sazonal do ambiente, a partir de coletas de amostras de água e análises de parâmetros de ordem física e química de qualidade da água, tais como: pH; Oxigênio Dissolvido (OD); Temperatura (Tº); Turbidez; Nitrogênio Total; Fósforo Total (P); Cloreto; Sulfato; Condutividade Elétrica; Resíduos Totais; entre outros.

Ao observar as características do Ribeirão das Araras, o estudante da UFSCar detectou que a microbacia sofre com ações de degradação e perturbação ambiental. "Pudemos observar os principais fatores perturbadores como lançamento de esgotos domésticos, canalização das margens, desflorestamento acentuado, depósito de lixo nas margens e livre acesso do gado; além dos aspectos que denotam a realidade local como odor da água, fundo lamoso ou cimentado, processos erosivos e habitats pouco diversificados", descreve Bentos.

Dentre os seis pontos de avaliação, aqueles localizados em área urbana - que correspondem aos pontos 4, 5 e 6 da pesquisa - apresentaram as piores condições de qualidade da água. "Tanto as análises de qualidade da água quanto o PARs indicam o ponto 4 e o ponto 5, este último conhecido como Ribeirão das Furnas, com os piores estágios de conservação ambiental. Em contrapartida, o melhor estado ambiental foi verificado no ponto 1, trecho localizado em propriedade rural privada, próximo a nascentes e com a composição da vegetação ciliar mantida", explica o pesquisador.

Em relação aos parâmetros de ordem física e química de qualidade da água, a quantidade de fósforo encontrada é preocupante e está acima do limite máximo permitido pela legislação - Resolução nº 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, de 2005. "Os pontos 4, 5 e 6 registraram as maiores concentrações de fósforo, devido ao despejo de esgoto urbano já que as regiões no entorno desses pontos são bastante urbanizadas com inúmeras fábricas, indústrias, comércios e residências. Outro fator preocupante é desmatamento da mata ciliar, que acarreta processos erosivos em diversas áreas", afirma Bentos.

De acordo com o pós-graduando, não há nenhum trecho analisado totalmente isento de degradação, embora no ponto 1 tenha sido observada ocupação diversificada - acima de 70% - da vegetação ciliar no entorno, bom aporte de serapilheira, presença de pequenos peixes, microclima agradável, ausência de processos erosivos e boa diversidade de substratos; além disso, os parâmetros de qualidade da água nesse ponto também não indicaram possíveis fontes de contaminação.

CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL

Segundo Bentos, o estudo indica que um dos principais problemas ambientais que vem acometendo a microbacia do Ribeirão das Araras é a retirada da vegetação ciliar - ou seja, o desmatamento. "Com base nos resultados críticos que obtivemos, as medidas iniciais e de maior urgência consistem na recomposição e preservação da vegetação ciliar no entorno da microbacia. Também sugerimos que órgãos competentes e, principalmente, a população, sejam alertados das condições locais, visando assim uma maior conscientização ambiental, já que o Ribeirão é extremamente importante para as comunidades próximas e está constantemente sofrendo com ações de degradação", defende o discente.

Em muitos trechos próximos à bacia, o pesquisador encontrou lixo doméstico e materiais que demoram centenas de anos para se decompor. "O quadro se agrava quando o lixo entope passagens onde a água deveria fluir o que favorece a ocorrência de enchentes. Além disso, a pesca irregular e o pastoreio nas margens do Ribeirão também são fatores agravantes da situação local. A pesca, quando não legalizada, coloca em risco de extinção importantes espécies de peixes que compõem as cadeias alimentares. Enquanto isso, o livre acesso do gado acentua o assoreamento, em virtude do pisoteio do rebanho nas margens instáveis", alerta Bentos que acredita que o estímulo à conscientização ambiental é fundamental para a transformação da realidade encontrada.

Na opinião do professor Stolf, a pesquisa de Bentos foi importante por seu ineditismo e seu caráter prático. "Além de utilizar tecnologia de análise inédita no Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural da UFSCar, proporcionou uma contribuição científica ao município de Araras, algo essencial para aprimorar a qualidade de vida e o bem-estar da população", conclui o orientador.

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