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sábado, 19 de julho de 2025
Epidemia

São Carlos lidera mortes por dengue na região

Em outras cidades com população igual ou até maior, como Ribeirão Preto e Araraquara houve 6 mortes e em Rio Claro 8 mortes ao longo deste ano

24 Jun 2025 - 17h13Por Marco Rogério
Dengue: várias ações podem ajudar no combate ao mosquito, mas nada é mais eficaz que eliminar os criadouros - Crédito: agência BrasilDengue: várias ações podem ajudar no combate ao mosquito, mas nada é mais eficaz que eliminar os criadouros - Crédito: agência Brasil

São Carlos está em primeiro lugar em 2025 num ranking nada invejável: é o município da região com o maior número de mortes por dengue. Até agora, foram registrados no ano um total de 18 óbitos — dez mortes a mais do que Rio Claro e 12 mortes a mais do que o volume registrado em Araraquara e Ribeirão Preto, cidades onde 6 pessoas morreram vítimas da doença.

Em 2025, foram registradas 24.640 notificações para dengue, com 5.251 casos descartados e 18.996 casos positivos (45 casos referentes à última semana e 20 referentes a exames de semanas anteriores, cujo resultado saiu somente agora), sendo todos autóctones. Outros 393 casos ainda aguardam resultado de exame, com 18 óbitos confirmados, 6 óbitos em investigação e 16 descartados.

Neste momento, duas pessoas estão internadas em enfermaria e duas em UTI. Para chikungunya, foram registradas 470 notificações, com 465 casos descartados, 2 casos positivos (todos importados) e 3 aguardando resultado de exame. Para zika, foram registradas 416 notificações, todas descartadas, e para febre amarela, uma notificação e 1 óbito confirmado, sem exames pendentes para humanos. Portanto, até o momento foram registrados 18 óbitos por dengue e 1 por febre amarela.

PICO ENTRE MARÇO E ABRIL - A diretora de Vigilância em Saúde, Denise Martins, afirma que o surto grave da doença causou este número de mortes no primeiro semestre de 2025. “Tivemos 18.996 casos confirmados no município. O pico foi entre março e abril. A Secretaria Municipal de Saúde tem mobilizado todos os serviços de saúde de maneira intensa, tanto para a assistência quanto para a notificação de todas as pessoas com sintomas. Isso faz com que tenhamos um número muito exato”, comenta.

Ela explica que quase todas as vítimas tinham idade avançada, entre 53 e 93 anos, e também comorbidades, o que aumenta o risco e a evolução para casos graves, severos e até fatais de dengue. A diretora ressalta que o governo do prefeito Netto Donato tem feito de tudo para reduzir esses números. “Mesmo com este grande número de casos, a gestão municipal trabalha desde a primeira semana de janeiro, tanto na prevenção quanto no combate ao mosquito Aedes aegypti. Fizemos campanhas de conscientização e mutirões, no início aos finais de semana e, diante do grande número de casos, ampliamos para a Operação Cata-Trecos, realizada diariamente, junto às visitas dos agentes de endemias por todos os bairros com o maior índice de casos. Realizamos uma forte mobilização para alertar a população para evitar o acúmulo de água parada e a formação de criadouros. Lembramos que 75% dos criadouros do mosquito estão dentro das residências”.

Segundo Denise, durante todo esse período foram recolhidos toneladas de materiais inservíveis e possíveis criadouros. “Na educação, mobilizamos professores e alunos para que sejam agentes transformadores no combate ao Aedes aegypti. Mobilizamos também comerciantes e outras empresas. Dessa maneira, a Prefeitura trabalha tanto na prevenção quanto na conscientização e com agentes nas ruas todos os dias para realizar vistorias nas casas e terrenos”, destaca.

Drones próprios para combate à dengueDrones próprios para combate à dengue

AÇÕES DE LIMPEZA E USO DE DRONES - As ações de limpeza também foram destacadas pela Vigilância em Saúde. “Tivemos mobilização da fiscalização da Prefeitura para notificação de donos de terrenos com mato alto e inservíveis, com grande trabalho de limpeza. Finalizamos o mapeamento por drones para verificar e mapear possíveis focos do mosquito em toda a cidade e distritos, e ampliamos a dispersão de pastilhas em piscinas e colocação de larvicida em pontos estratégicos. Semana após semana temos registrado números bastante baixos. Nesta semana, por exemplo, registramos 45 casos. O trabalho tem que ser feito todos os dias do ano para que possamos, em 2026, aumentar o controle e reduzir o número de casos de dengue”.

CONJUNÇÃO DE FATORES - O médico infectologista da UFSCar, Bernardino Geraldo Alves Souto, explica que o número de casos de dengue depende de uma complexa conjunção de fatores: grau e qualidade da urbanização, saneamento ambiental, questões climáticas e pluviométricas, qualidade e cobertura do sistema de coleta e destinação de lixo e recicláveis, educação e participação popular em saúde, condições de vida da população, qualidade e capacidade da vigilância epidemiológica e da rede assistencial de saúde e a imunidade das pessoas contra o sorotipo do vírus circulante.

“Para evitar epidemias de dengue, é necessário investir nos fatores mencionados. Quanto mais melhorar cada um deles, menor a probabilidade de ocorrência de epidemias. Obviamente não é possível gerenciar alguns, como as condições climáticas e pluviométricas, mas ao investir nos demais, minimizamos o impacto dos não gerenciáveis”, ressalta.

Segundo o especialista, epidemias de dengue são evitáveis, mas não são bloqueáveis por nossas ações no atual momento científico e das contingências que as determinam. “Quando uma epidemia de dengue se instala, segue seu curso natural sem que consigamos bloqueá-la. Nesse momento, temos como possibilidade oferecer atendimento de qualidade para evitar mortes. Portanto, precisamos envidar todos os esforços para prevenir essa e outras doenças transmissíveis pelo mesmo mosquito. Em última instância, dificultar ou impedir a proliferação do mosquito por meio de medidas coletivas, compartilhadas entre a gestão pública e a população, para melhorar as condições citadas e reduzir a vulnerabilidade das pessoas por meio de medidas de proteção individual, como uso de repelentes, vacinação e roupas protetoras contra picadas de mosquito”, comenta.

Bernardino faz algumas recomendações para evitar surtos de dengue. “Se a gestão pública administrar bem o modelo de urbanização e o planejamento do espaço urbano para melhorar a condição ambiental e a qualidade de vida e saúde para a população, melhorar a distribuição de renda, as condições de moradia e qualificação da educação, e se cada cidadão fizer sua parte no descarte adequado do lixo e de recicláveis para que não haja acúmulo de água parada em recipientes, calhas e vasos de flores, aplicar repelente de insetos em áreas expostas do corpo e usar mais frequentemente roupas claras e com mangas e calças compridas para se proteger contra picadas de mosquito, e tomar as vacinas disponibilizadas pelo sistema de saúde, isso contribuirá muito para o controle da dengue e de outras doenças transmitidas pelo mesmo mosquito”.

O médico epidemiologista Daniel Castorino: queda na temperatura causadas pela chegada do inverno vão ajudar na queda do número de casos

FRIO AJUDA A REDUZIR CASOS - Para o médico infectologista Daniel Castorino, o número de óbitos é mais expressivo devido à grande quantidade de casos registrados no município, mas observa que as baixas temperaturas provocadas pela chegada do inverno ajudam na queda do número de casos.

“Esperamos que, a partir de agora, a situação comece a melhorar. Temos um grande número de casos, e a taxa de óbitos acaba ganhando destaque justamente por isso. Para não passarmos por isso novamente, temos que ter cuidados básicos, como evitar o acúmulo de lixo nas casas e prestar atenção a recipientes, vasos, baldes e lonas que possam acumular água. Basta uma residência ou terreno abandonado para termos uma nova disseminação de casos. Se deixarmos o mosquito proliferar, teremos mais problemas pela frente”, explica.

Ele destaca que a gestão correta do lixo nas áreas públicas e particulares e as campanhas educativas são essenciais para o controle. “A população às vezes acha que são necessárias tecnologias complexas para resolver esse problema, mas a solução, na maioria das vezes, passa por medidas simples e de baixo custo. A Prefeitura utilizou medidas experimentais e novas tecnologias para o controle do vetor, mas a prioridade segue sendo evitar água parada para impedir a formação de criadouros”.

Castorino destaca que idosos e crianças estão entre as vítimas mais comuns da doença. “A dengue acomete principalmente pessoas idosas e com comorbidades mal controladas. O quadro de dengue aumenta o estresse do organismo, provocando desidratação e complicações graves para uma população mais vulnerável. O tratamento para dengue passa basicamente pela hidratação e controle de fenômenos hemorrágicos, não havendo outra estratégia terapêutica eficaz”.

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