quinta, 25 de abril de 2024
Qual escolher?

Partos normal, cesárea e humanizado geram dúvidas nas futuras mamães

Os dois primeiros são bem conhecidos pelas gestantes; já a terceira opção é um procedimento que procura protagonizar a mulher

15 Jul 2020 - 07h39Por Marcos Escrivani
Partos normal, cesárea e humanizado geram dúvidas nas futuras mamães - Crédito: Jemima Ribeiro Crédito: Jemima Ribeiro

A escolha do parto (normal, cesárea ou humanizado) é algo que coloca interrogações diversas na cabeça de uma mulher desde que ela descobre a gravidez. Às vezes até antes, quando se prepara para um momento especial. Algumas mulheres têm a ideia formada de como querem que seu filho venha ao mundo. Porém, a escolha nem sempre depende da futura mamãe. Às vezes o tipo de parto é escolhido pelas condições de saúde tanto da mãe como do bebê.

O mais convencional, hoje, entre as mulheres, é o parto normal (vaginal). Há ainda aquelas que optam pelo cesárea e tem ainda o humanizado, que não é tão conhecido entre as gestantes.

No intuito de levar a informação às leitoras, o São Carlos Agora entrevistou a doula e estudante Juliana Ferreira de Souza, 24 anos e que há seis anos realiza partos humanizados em São Carlos.

Em uma entrevista, ela procurou, sob sua ótica, tirar dúvidas das mulheres que se preparam para ser mamães. “O parto humanizado é um processo que preza pela protagonização da mulher na gestação e parto, dando-a conhecimento para poder escolher, em acreditar e deixar que o parto ocorra de forma fisiológica e em medicina baseada em evidências científicas atualizadas”, disse Juliana.

A ENTREVISTA

São Carlos Agora - O que é parto humanizado e qual o trabalho de uma doula durante o processo de gestação? Quando foi criado? Por quem?

Juliana Ferreira de Souza - O parto humanizado é um processo que preza pela protagonização da mulher na gestação e parto, dando-a conhecimento para poder escolher, em acreditar e deixar que o parto ocorra de forma fisiológica e em medicina baseada em evidências científicas atualizadas. O papel da doula é de orientação informacional, emocional, de métodos não farmacológicos de alívio da dor, tudo para que a experiência do parto seja a mais positiva possível. O papel a doula já era executado antigamente por mulheres nos partos, então não houve exatamente uma criação. Eu diria que é algo até instintivo - mas que para ser bem feito hoje em dia, exige cursos, atualizações e treinamentos.

SCA – Este tipo de parte traz que tipo de benefício para a gestante e para o recém-nascido?

Juliana Souza - O parto humanizado só traz benefícios para a mulher e para o bebê. Posso citar, como exemplo, menos intervenções desnecessárias tanto na mãe quanto no bebê, menor risco de morte (visto que cirurgia cesárea só é feita em 10 a 15% dos casos, apenas quando há real indicação nos casos e a mortalidade dessa cirurgia é três vezes maior para a mulher), melhor vínculo mãe-bebê com contato pós parto imediato e durante a primeira hora de vida, se tudo estiver bem com o bebê.

SCA - A água, posição, intensidade de luz e o acompanhante interferem no bem-estar da mulher e do bebê?

Juliana Souza - A água, liberdade de posição e intensidade da luz causam mais bem-estar à mãe e não estão ligados à nenhum mal estar materno ou fetal.

SCA - Atualmente as mulheres têm optado por ele? Há rejeição?

Juliana Souza - Quando uma mulher conhece o que de fato é o parto humanizado e não o que se fala de errado dele, muitas optam por ele. Como não optar por algo que é melhor para mim e para meu filho? Infelizmente, há rejeição, principalmente de pessoas que não entendem direito o que é o parto humanizado ou que fizeram cesárea eletiva e se sentem atacadas quando se fala dos riscos atribuídos a ela.

SCA - A mulher que optar por este parto necessita uma prévia preparação? Até mesmo antes de engravidar?

Juliana Souza - Não precisa de preparação prévia à gravidez, mas o ideal é ter uma boa preparação pré-parto com doula e uma equipe humanizada.

SCA - O que difere o parto humanizado de um normal?

Juliana Souza - O parto normal pode ser feito com muitas intervenções desnecessárias, como episiotomia (o famoso "pique"), soro com ocitocina para todas, manobra de kristeller, puxo dirigido, posição litotomica. Todas essas são intervenções desnecessárias e muitas vezes prejudiciais, sendo às vezes até traumática. Mas também pode ocorrer sem intervenções ou apenas com as intervenções necessárias - que são raras e poucas. O parto normal engloba qualquer parto vaginal. O parto humanizado não é um tipo de parto e sim um processo de empoderamento feminino, medicina baseada em evidências e muita informação.

SCA - Durante os nove meses, a doula faz o trabalho para um parto humanizado. Mas no momento do nascimento, houver a necessidade de uma cesárea. Qual o procedimento?

Juliana Souza - A maior parte dos hospitais só aceita um acompanhante para a cesárea e a parturiente normalmente escolhe seu/sua acompanhante. Mas caso ela escolha a doula, a maioria das doulas também topam assistir às cesáreas necessárias.

SCA - Uma doula é fundamental neste processo. Como ela se prepara para exercer tal função?

Juliana Souza - Para ser doula, precisamos fazer um curso. Também temos opções de aprimoramentos como outros cursos e congressos. Mas também acredito que a prática é essencial para o aprendizado.

SCA – A doula necessita um trabalho psicológico diferenciado, bem como um aprendizado para os procedimentos que irá realizar ao longo dos partos?

Juliana Souza - A doula não faz procedimento técnicos. Procedimentos técnicos são feitos apenas pelos técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos. Nossa função durante o parto é muito mais de apoio emocional e técnicas não farmacológicos de alívio da dor.

SCA - A futura mamãe. Passa por trabalho psicológico?

10. Doulas não são psicólogas, logo não há um trabalho psicológico. Há sim um trabalho emocional feito, como por exemplo entender os medos relacionados ao parto durante a gestação para poder esclarecê-los.

SCA - O termo “humanizado”. É porque as mulheres sentem menos dores do momento do parto? O bebê tem a sensação de nascer em um mundo mais humano?

Juliana Souza - As mulheres compreendem a dor. Dor é muito relativo e cada uma tem seu limiar. Mas entender que dor não é sofrimento necessariamente e que a dor da contração é a dor que vai trazer seu filho é essencial e muito trabalhado. Já o bebê, ao não passar por intervenções desnecessárias, luz amena, nascer no seu tempo e não ser separado da mãe ao nascer, tem uma recepção mais amigável ao mundo.

SCA – Considerações finais

Juliana Souza - Ser doula é um presente. Estar presente em momentos de nascimento é a coisa mais especial do mundo. Espero muito que as pessoas se informem mais sobre o nascer humanizado e sigam mais esse caminho. É muito especial.

OS PARTOS

No parto normal, trata-se do parto vaginal, não consiste apenas no nascimento do bebê, mas em todo o processo que ele leva, como o trabalho de parto, as contrações, a ruptura da bolsa até a episiotomia (corte realizado no períneo).

As contrações são as responsáveis pelas dores e o intervalo entre elas diminui conforme a dilatação aumenta e chega a hora do parto. Aliás, uma boa dilatação está entre 10 e 12 cm de diâmetro. Hoje em dia, você pode fazer um parto normal com anestesia e há duas opções: a peridural e a raque. A recuperação do parto normal é bastante rápida e quase sem dor, o que ajuda a mãe nos primeiros cuidados com o bebê. Em algumas maternidades, a mãe é até liberada para amamentar assim que o bebê nasce.

O parto humanizado, tão falado nos dias de hoje, é aquele que respeita o tempo de nascimento do bebê, sem nenhuma intervenção médica e às vezes é até feito em casa. A ideia é que a mãe tenha contato com o bebê para confortá-lo imediatamente após o nascimento, o que não acontece nos outros partos.

O parto cesárea é a forma cirúrgica do nascimento, no qual a extração fetal é feita por via abdominal. Geralmente, utiliza-se a anestesia raque ou a peridural, mas em casos excepcionais, é necessária anestesia geral. Esse é o tipo de parto mais prático, pois acontece com hora marcada e sem imprevistos. No entanto, alguns especialistas condenam a prática e acreditam que deve ser usado apenas em casos extremos, pois é altamente agressivo ao bebê.

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