
Com mais de 13 mil notificações e 8.689 casos de dengue confirmados e três mortes registradas nesta terça-feira, 8 de abril, São Carlos vai viver uma situação ainda pior nas próximas semanas. De acordo com o médico infectologista do Hospital Universitário de São Carlos, Daniel Castorino, a cidade deve terminar o mês de abril com 20 mil notificações de dengue.
“A cidade de São Carlos tem mais de 13 mil casos notificados de dengue. A gente notifica as suspeitas e não só os casos positivos. Quem apresenta sintomas clínicos, como febre alta, alguns outros sinais de sangramentos e outros sintomas nos levam a estas suspeitas”, explica Castorino.
Segundo ele, os casos com testes positivos temos mais de 8.600 com expectativa de aumento. “Poderemos chegar nas próximas semanas a 20 mil casos notificados até o fim do mês. A suspeita de dengue é notificável e é isso que monitoramos mais. Temos um número bastante importante, sendo infelizmente um caso de um dos campões de dengue do país. Isso está pressionando o sistema de saúde do país.
São Carlos, Araraquara, Matão, Américo Brasiliense e Pirassununga estão entre as cidades da região que integram a lista do Ministério da Saúde com 80 municípios do país com prioridade para o combate à dengue.
O Ministério da Saúde ressalta que esses municípios têm alta transmissão da doença ou número de casos em ascensão e com mais de 100 mil habitantes. Dos 80 municípios prioritários, 55 são de São Paulo, 14 do Paraná e 11 dos estados da Bahia, Goiás, Rio Grande do Norte, Acre e Pará, abarcando todas as regiões do país. Do total de casos no Brasil, 73% estão concentrados em São Paulo, Minas Gerais e Paraná; e esses mesmos estados concentram 86% dos óbitos. Essa lista estará constantemente em revisão, para a inclusão de mais cidades, se necessário. Entre as medidas anunciadas pelo Ministério da Saúde estão centros de hidratação, expansão vacinal e equipamentos UBV contra o Aedes
O infectologista Castorino explica que nesta época do ano também há uma circulação maior do vírus. “Gostaríamos que não existisse, mas é assim. A capacidade do vírus se replicar neste momento é grande. Mas, ainda assim, leste é um período endêmico e o grande número nos preocupa. É um período endêmico bastante agressivo. Isso gera muita preocupação”, avisa ele.
Castorino comenta que a Prefeitura de São Carlos juntamente com os órgãos competentes fazem intervenções com a Vigilância Epidemiológica, que tem a missão de acompanhar os casos, fazer as medicações, mas também é necessário se tomar ações de limpeza, o que vem sendo feito pelo governo municipal para tentar conter os focos de dengue, seja nas áreas públicas ou privadas”, destaca.

CONVOCANDO A POPULAÇÃO - Para o médico, a população pode impedir que a dengue continue acometendo as pessoas com medidas simples. “A gente tem uma obrigação moral dentro deste contexto de tantos casos de olhar para o nosso umbigo. Uma pessoas sozinha não vai ter tanto impacto, mas, se uma comunidade inteira, ruas bairros, distritos, regiões, cidades se unirem do combate ao mosquito, teremos o que precisamos”.
Castorino alerta que a maioria dos criadouros está dentro das casas. “Temos participado de reuniões da Vigilância epidemiológica do município e o que é mais constatado é que muitas vezes a sujeira, a bagunça dentro de casa, não é a única, mas é umas principais responsáveis. Uma casa que esteja fechado e que não tenha a atenção devido é capaz de servir como um grande criadouro do mosquito. Às vezes o pessoal da Vigilância vai nas casas e passa mais de uma hora em casa residência retirando coisas inservíveis e possíveis criadouros. A gente não está falando de uma coisa só, mas sim muitas coisas. A mea culpa tem que ser feita pela população. Não podemos só esperar que a administração pública seja responsável por tudo.
“Cada um de nós tem que ser responsável e parte do processo de senhores desta missão. Não é só o prefeito, ou os órgãos de saúde. Todos têm que fazer sua parte, deixando tudo limpo e também orientando seu vizinho para que, com pequenas intervenções, poderemos garantir a saúde de toda uma comunidade. E é algo que não necessita de grande tecnologia para se fazer”, esclarece o infectologista.
NOVAS TECNOLOGIAS – Castorino ressalta que Existem alguns projetos que vem implementados na cidade, mas de caráter experimental. “Temos algumas estações para disseminação de larvicidas. Não é algo em larga escola. Esta tecnologia pode ser utilizada para as colônias de mosquitos. Também existe a alternativa do método Wolbito, um projeto inovador que utiliza uma bactéria muito comum no ambiente – o Wolbitos – e que, quando presente no mosquito Aedes aegypti, impede que os vírus se repliquem nele, reduzindo a chance de transmissão dessas doenças. São ainda pesquisas, que ainda não terão um grande impacto na cidade. A população precisa se engajar para mudarmos esta realidade com pequenas medidas”, explica.
VACINAS – As vacinas, segundo o infectologista, não existem em quantidade suficiente para uma vacinação em massa de toda a população. Segundo ele existem algumas vacinas. “Antes podia vacinar apenas se a pessoa já tivesse tido dengue, agora não precisa disso, a nova vacina é mais moderna e será aplicada gratuitamente. O problema é que ela tem que ser produzida e para chegar no consumidor final precisa de critérios de qualidade. É uma relação de oferta e demanda. Quando uma vacina destas surge, o mundo todo a quer, mas isso não é possível. A indústria não tem a matéria prima e a tecnologia para fazer vacina para todos. É por isso que o Ministério da Saúde prioriza públicos prioritários”, explica.
SISTEMA DE SAÚDE SOBRECARREGADO - Castorino destaca que as UPAs, USFs, UBSs e dois hospitais públicos, um filantrópico e outro federal, estão trabalhando muito mais do que o normal. “Já trabalhamos sobrecarregados e no limite e agora temos novos desafios pela frente. As outras doenças continuam acontecendo. Temos ainda os hospitais de caráter privado, como a UNIMED e o Norden, sendo que 50 a a55% estão sendo notificados peal UNIMED, que vem sofrendo muito com a grande demanda que vem tendo que atender diariamente”, fala ele.
A situação das cidades prioritárias da região são:
AMÉRICO BRASILIENSE: 831 casos e 1 morte
ARARAQUARA: 5.456 casos e 3 mortes
MATÃO: 5.522 casos
PIRASSUNUNGA: 1.223 casos e 1 morte
SÃO CARLOS: 8.689 casos e 3 mortes.