
Alguns partidos que fazem parte do chamado “Centrão” (PSD, MDB, PP e Republicanos) elegeram os prefeitos de 17 dos 26 municípios da Região Central Paulista. Nas eleições de 2024, o PSD elegeu 7 prefeitos, o maior número entre as 26 cidades da Região Central.
O PL elegeu 6, o MDB 5, o PP 3 (inclusive Netto Donato em São Carlos), o Republicanos e o PT elegeram 2 prefeitos cada (sendo que a região elegeu 50% de todos os prefeitos do PT no Estado, que foram um total de apenas 4 – com mais duas peculiaridades – apesar da crise que o PT vive no Estado, Cido Ferrari foi reeleito com mais de 63% dos votos e no município de Santa Lúcia, Júnior da Farmácia foi eleito como candidato único.
As eleições municipais de 2024 apontaram para um significativo crescimento do PSD, o partido criado e dirigido por Gilberto Kassab conquistou prefeituras de 887 municípios no país, sendo cinco capitais, o que representa aumento de 35% se comparado ao resultado da eleição anterior. “No Estado de São Paulo, a sigla elegeu 206 prefeitos entre os 645 municípios paulistas, desta forma, o cenário na região central está bem conectado o cenário estadual e nacional, entretanto, fica o desafio para que esta base se mantenha coesa e apresente outros avanços nas eleições gerais de 2026”, destaca o administrador público e analista político Gulherme Rezende.
FEDERAÇÃO DE CACIQUES SEM IDEOLOGIA - O comentarista político Henrique Affonso de André, o Cebola, é mais ácido. “O PSD não foi o maior só na região, mas sim do Brasil. Ele já nasceu para ser assim, sem compromisso ideológico, apenas uma federação de caciques. Não tem uma posição ideológica definida, encaixa em qualquer coligação… é o centrão institucionalizado”, diz ele.
Cebola diz que a região apenas reflete o que ocorre em todo o Brasil. “Os quatro partidos com mais prefeitos no Brasil são do Centrão: PSD, MDB, PP e União. O MDB e o PP têm o histórico e o legado dos partidos do regime militar (pelo menos para contar a história). O PSD e o União, curiosamente, são descendentes da grande percursora do centrão, que é a Frente Liberal, que virou Democratas, cindiu no PSD e depois de fusões se tornou o União. Fica mais fácil governar com um PSD ou um União na frente do nome. Se você for do PL, os petistas não aceitarão um vereador com cargo. Se for um governo do PT, um eleito pelo PL não vai poder se imiscuir no governo sem perder a confiança de seus eleitores. Num partido cuja legenda não significa nada, fica mais fácil negociar, ceder ou receber”, explica.
Rezende comenta que as eleições de nível municipal possuem características específicas, é difícil que os candidatos evitem os problemas locais e são pleitos marcados por forte pragmatismo político. “Desta forma, os partidos mais ideológicos que por vezes logram maiores taxas de sucesso nas eleições parlamentares, sobretudo num contexto de alta polarização e o uso massivo das redes sociais, enfrentam grandes dificuldades para conquistar prefeituras. Neste contexto, partidos mais pragmáticos e que possuem maior facilidade para conquistar e negociar apoios, o que ajuda a explicar a prevalência destes partidos no comando das cidades”.
BUNKER PETISTA – Com relação à vitória petista em Matão, onde o prefeito Cido Ferraria se reelegeu com 63% dos votos, os analistas têm opiniões diferentes. Para Rezende, o Partido dos Trabalhadores se mobilizou para buscar melhores resultados na região. “Entretanto, considero que um contexto nacional de polarização somado ao “antipetismo” de parcela da população dificultaram os planos da sigla, em especial, nas prefeituras de São Carlos e Araraquara. A situação em Matão pode ser analisada também em função da avaliação da gestão pelos matonenses e por se tratar de um caso de reeleição, dois fatores que conjugados podem ajudar a compreender esta vitória num contexto adverso”, pondera ele.
Já Cebola acredita que Cido Ferrari venceu praticamente “pela lei da gravidade”. “Faltou concorrência. Os concorrentes eram muito fracos. Tenho família em Matão. O Neto Masselani era um que poderia ter entrado na disputa, mas não o fez, grupos antigos perderam espaço. Matão tem um vácuo, e o Cido que assumiu como vice do finado Adauto Scardoelli manteve o governo sem sobressaltos. Bolsonaro teve 61% dos votos na eleição para presidente, esse subconjunto de 20% entre as votações, se analisarmos ideologicamente, não deu à concorrente do PL uma ajuda significativa. Mas como disse, é uma ilhota no estado. Quatro prefeituras em 645 com um presidente da república é simbólico”, critica ele.
CRISE TUCANA - Ambos também comentaram a sobre a desidratação do PSDB na região. “O PSDB vem enfrentando dificuldades em diversos planos, depois da derrota para o Governo do Estado, foi possível observar grande debandada de prefeitos e quadros históricos do partido. Este atual cenário de fragilidade está conectado com resultados abaixo do que estamos acostumados para a sigla na região”, avalia Rezende.
Mais ácido, Cebola vê os resultados das urnas em 2024 como uma espécie de “funeral” dos tucanos. “É reflexo do ocaso do partido. O PSDB por ingenuidade achou que bastava ser oposição ao PT, mesmo tendo nascido na centro-esquerda. Aproveitou vinte anos de Plano Real mantendo a estabilidade econômica e construiu um bunker no estado de São Paulo. Somente assumiu o papel de antagonista do PT nos anos de Lula, mas não se reformou, não tomou uma direção bem definida. Se tornou, isso sim, um a mais no centrão. Quando a população percebeu que ideologicamente era mais próximo ao PT que da direita, o povo abandonou. Um grande catalisador foi o João Dória, que acabou afastando a população paulista do PSDB, que foi derrubado do poder do estado de São Paulo sem muito esforço”, analisa.
DISPUTA SINGULAR NA REGIÃO - Para Cebola, a política regional não reflete apenas conjuntura nacional. “Existem outros fatores, como os que influenciaram Matão, por exemplo. Existe uma enorme influência, como essa facilidade de trânsito do centrão e a abundância de verbas para campanha, mas alguns pontos precisam ser ressaltados. Aqui em São Carlos, mesmo sendo do PP, o prefeito se colocou ao lado da família Bolsonaro como ateste de despegue do PT (mesmo tendo sido aliado quando estava no MDB), e talvez por ter sido do PSDB na última eleição. Em Araraquara foi determinante o Lapena se colocar como a alternativa ao PT para vencer a máquina de Edinho Silva, que é hoje um dos nomes mais poderosos do PT nacional e viu sua candidata ser derrotada”.
DISPUTA ACIRRADA EM 2026 -Ele ainda enfatiza a disputa parlamentar do próximo ano em São Carlos. “A eleição que podemos tentar pensar em algo é a parlamentar. Eu achava sinceramente que esta briga entre o Djalma Nery e o Newton Lima era muita fumaça para pouco calor, mas parece que é uma ruptura. Pelo tanto de acusações de um lado a outro, voltar atrás seria o pior para ambos. O Newton Lima não tem o poder regional que tem o Edinho, e só conseguiria algo com uma dobradinha. O Djalma teria de tentar o mesmo com alguma figura maior do PSOL. Já no centro e à direita em São Carlos, vejo muito rarefeita qualquer possibilidade de eleição de um candidato. Para isso teriam de todas as forças da cidade se concentrarem em um candidato, o que é impossível. Todos vão querer usar a eleição do ano que vem como palanque para 2028”, lamenta ele.
OS PARTIDOS E AS PREFEITURA NA REGIÃO
PSD – 7
Descalvado – Luizinho Panone
Ibaté – Ronaldo Venturi
Gavião Peixoto – Adriano Marsal
Ibitinga – Florisvaldo Fiorentino
Tabatinga – Valter Camargo
Trabiju – Marcelo Fonseca
Motuca – Fábio Chaves
PL – 6
Araraquara – Lapena
Porto Ferreira – André Braga
Rincão – Tenente Rodrigues
Itápolis – Mi Reggiani
Cândido Rodrigues – Tiago Ravazzi
Borborema – Sheila Maria
MDB – 5
Santa Rita do Passa Quatro – Marcelo Simão
Taquaritinga – Dr. Fulvio
Nova Europa - Lidiane Rodrigues
Boa Esperança do Sul – Manoel do Vitorinho
Dobrada – Carlos Dentista
PP – 3
São Carlos - Netto Donato
Ribeirão Bonito – Paulo Veiga
Santa Ernestina – Dedé
PT – 2
Matão – Cido Ferrari
Santa Lúcia – Júnior da Farmácia
REPUBLICANOS – 2
Américo Brasiliense - Terezinha Viveiros
Dourado – Juninho Rogante
PSDB – 1
Fernando Prestes o- Mariel da Rocha