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Polícia

Caso Sundermann completa 20 anos e deverá ser mais um crime prescrito no Brasil

10 Jun 2014 - 17h28
Casal Sundermann - Casal Sundermann -

Na madrugada do dia 12 de Junho de 1994 os dois dirigentes do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados - PSTU, José Luis e sua esposa Rosa Hernandes Sundermann, ambos de 37 anos, foram executados a tiros no interior da própria residência no Jardim Nova Estância, região norte de em São Carlos. A Polícia Civil rodou por diversos pontos deste país para tentar identificar os autores e possíveis mandantes do bárbaro de um dos crimes mais divulgado na crônica policial na época, porém nenhuma pista foi encontrada. Cerca de quatro anos após o filho mais velho do casal Carlos Eduardo Sundermann, o "Duda", na época com 21 anos em companhia de vários companheiros da UFSCar, foi passar o final de semana no Sítio Bocaina, na antiga estrada de Analândia onde teria sofrido um acidente e também morreu após cair de uma cachoeira.

O assassinato do casal Sundermann que até hoje está sob investigação da 5ª Delegacia de Crimes Especiais do Departamento de Homicídios de Proteção a Pessoa (DHPP), permanece obscuro e com a prescrição do caso neste dia dos namorados de 2014, será ainda mais difícil sabermos que foi o autor do crime e seus reais motivos.      

A Prescrição da Pretensão Punitiva (PPP) é calculada pela pena em abstrato, de acordo com a regra do artigo 109 do Código Penal Brasileiro. Ainda segundo o mesmo artigo se a pena de homicídio doloso (crime com intenção) for superior a 12 anos de reclusão a prescrição ocorrerá em 20 anos, o que é o caso do casal Sundermann.

COMISSÃO DA VERDADE

Durante estes 20 anos de investigações a "Comissão da Verdade" ligada aos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, presidida pelo deputado Renato Simões (PT), realizou na tarde de 13 de junho de 2001, uma audiência pública para tratar do assassinato dos sindicalistas José Luís e Rosa Sundermann, assassinados com tiros na cabeça, em São Carlos. Embora ocorressem vários debates e relatos de policiais e sindicalistas o caso ainda permanece sob o mais absoluto mistério.

No final de 2004, o delegado Maurício Antonio Dotta, então titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de São Carlos, após cessar todas as investigações que se estenderam por várias partes do país, encaminhou o misterioso processo sobre a morte dos Sunderman à 5ª Delegacia de crimes especiais do DHPP na capital.

TESTEMUNHA

José Luís SundermannA única testemunha que ainda fala sobre o caso é o integrante da comissão de greve da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Antonio Donizete da Silva, o "Doni", amigo particular do casal diz que lamenta pelo insucesso das investigações da polícia. De todas as pessoas amigos do casal "Doni", foi a última pessoa a falar com José Luis. Ele diz que no dia 10 de junho de 1994, a UFSCar também enfrentava uma greve como várias universidades brasileiras e segundo ele José Luis e ele lideravam o movimento em São Carlos. Após o assassinato do casal foi "Doni" quem assumiu a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos da Universidade Federal de São Carlos (SINTUSCar). Hoje ele está no comando de greve da universidade que dura cerca de 80 dias e não tem uma previsão para o encerramento. "Quando o Zé Luis e a Rosa foram assassinados eu tive que assumir o sindicato. Eu dei prosseguimento ao trabalho e felizmente o sindicato ainda é uma coisa viva porque independentemente de tudo que aconteceu a gente achava importante manter a organização sindical e ela existe até hoje e foi o papel que a gente cumpriu naquele momento". 

O CRIME 

Segundo as investigações na noite do dia 11 de Junho de 1994, os sindicalistas José Luís Sundermann e Rosa Hernandes Sundermann, teriam saído da residência localizada na rua Peru, no Jardim Nova Estância, acompanhados dos filhos e os pais. Eles teriam se dirigido a um restaurante que existia na região da Praça Itália onde jantaram. Já pela madrugada do dia 12 de Junho (Dia dos Namorados), por volta das 00h30, José Luís teria levado uma filha e seus pais para casa, porém o filho mais velho, Carlos Eduardo Sundermann, na época com 17 anos, o "Duda", teria desembarcado no cruzamento da avenida São Carlos coma rua Jesuíno de Arruda, no Centro, pois iria á um baile em um clube social. Ao regressar para a residência, por volta das 3 horas, "Duda" encontrou o portão de entrada da casa trancado, a porta da sala aberta e no centro dela estava José Luis caído de bruços, morto com um tiro frontal na cabeça e outro no lado esquerdo. Sua mãe, Rosa Sundermann, ainda estava sentada no sofá da sala com as pernas cruzadas e as mãos também cruzadas sobre uma almofada com um tiro na cabeça.

Naquela madrugada a Polícia Militar e Civil estiveram na casa com peritos do Instituto de Criminalística (IC) e realizaram todos os levantamentos constatando que o casal teria sido executado sumariamente por motivos desconhecidos e por pessoas desconhecidas. Durante os trabalhos que foram concentrados na Delegacia Seccional de São Carlos também se apurou que os assassinos não teriam mexido em nada da casa ou do casal e desta forma o crime de latrocínio também foi descartado. No final da tarde daquele dia o casal foi sepultado no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, onde também foi enterrado no final do dia 26 de abril de 1998 o corpo do filho do casal.

MISTÉRIO

Até hoje, a polícia tenta identificar os possíveis culpados ou algum mandante do crime. Muitos amigos e pessoas ligadas ao casal se negam a falar sobre o crime ocorrido na madrugada do Dia dos Namorados de 1994. Moradores da rua Peru, em Nova Estância também não gostam de falar sobre o caso, porém uma delas ouvida pela reportagem disse que ninguém teria notado a movimentação na casa ou de veículos fugindo com os assassinos como tanto se falou.

TRAJETÓRIA POLÍTICA 

Quando ocorreu o crime, José Luís Sunderman era vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Carlos, ativista da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU). O sindicalista também participou, em 1983, da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da CUT. Sua esposa Rosa Sunderman, ajudou na coordenação política do Partido dos Trabalhadores (PT) e posteriormente do PSTU, fundado dia 6 de Junho de 1994, seis dias do assassinato do casal.

Alguns amigos que preferiram ficar no anonimato, mas, fizeram questão de lembrar a trajetória politica de José Luis e Rosa Sunderman disseram que em Janeiro de 1979, Rosa e José Luiz Sundermann, participam do 9º Congresso de Trabalhadores na cidade de Lins. Segundo um dos sindicalistas o casal participava da primeira chamada para construção do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele também diz que em março daquele ano, explodiu a greve dos metalúrgicos do ABC. O movimento de filiação do PT aumentou e em maio de 1980, em nova greve de trabalhadores do ABC, alguns sindicalistas foram presos. No início de 1981, vários sindicalistas, entre eles "Lula", José Luiz Sundermman, José Dirceu, Celso Daniel, também assassinado e vários outros, praticamente lançaram o Partido dos Trabalhadores (PT), que teve sua filiação política confirmada em 1983.

De acordo com o amigo do casal, dez anos após, durante os meses de janeiro a setembro de 1993, José Luiz e Rosa Sundermman, participam de movimentos estudantis e em outubro daquele ano, eles e alguns sindicalistas, romperam com o Partido dos Trabalhadores (PT) e lançam a campanha de filiação do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU).

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