
A humanização dos animais domésticos, os pets, se tornou moda e se incorporou à cultura de muita gente. Hoje, não é raro vermos pets vestidos como bebês, com fantasias de Papai Noel para tirar foto, ou sendo homenageados com uma festa de aniversário para comemorar o primeiro aninho de vida deles. Todos esses mimos são exemplos de humanização.
Ao longo da evolução humana, os cães e gatos deixaram de ser considerados apenas como animais de estimação. Atualmente, grande parte dos tutores considera os pets como membros da família. A humanização, ou antropomorfismo, consiste em atribuir características humanas — sejam elas físicas, emocionais ou comportamentais — aos animais de estimação.
Geralmente, os pets humanizados dividem a cama com os tutores e podem sofrer de doenças ou distúrbios que também acometem os seres humanos, como diabetes, obesidade, ansiedade e depressão. A dependência do pet para conseguir comida, água, atenção, carinho e diversão é um fator que pode contribuir para essa aproximação.
Atualmente, é comum que as necessidades dos pets sejam comparadas às de uma criança, que precisa de um adulto sempre por perto para auxiliá-la. O tutor acaba se apegando aos cuidados exigidos, esquecendo-se dos limites que precisam ser respeitados para não afetar os instintos naturais da espécie.
Essa humanização pode ser prejudicial para a saúde do pet, pois impede que ele execute comportamentos naturais, a fim de se adaptar ao estilo de vida humano. Ansiedade, depressão e agressividade são alguns dos danos que a humanização pode provocar.
Quando os cachorros são criados “dentro de uma bolha” — ou seja, não farejam, não se sujam, não saem de casa e nem interagem com outros cachorros — tendem a ficar reativos com outros animais da mesma espécie e até mesmo agressivos com pessoas desconhecidas. Como resultado da humanização, os animais podem apresentar mudanças comportamentais, dificuldades de socialização, problemas de saúde e ansiedade de separação.
Apesar de considerar a posse de um animal como algo extremamente positivo, o biólogo Fernando Magnani afirma que, como profissional da área, não recomenda a ‘humanização excessiva’ dos pets.
“É claro que o animal acaba se tornando um membro da família. E tem que ser assim. Ele tem todas as suas demandas que devem ser respeitadas, como saúde, passeio — a saúde não só física, como também mental. Ele tem que ter direito a uma alimentação saudável, visitas ao veterinário. Em suma, os animais têm suas necessidades, e o tutor ou tutores devem prover isso. A humanização excessiva não é recomendável por vários motivos. Um deles é a questão psicológica para ambas as partes.”
Ele ressalta que os animais geralmente têm uma questão de independência muito próxima. Eles não têm o laço, muitas vezes, com que as pessoas estão acostumadas com seus entes familiares. “Os animais têm uma percepção do ambiente um pouco diferente do que a gente tem, como humanos, embora muita gente acredite que os animais têm reações mais humanas do que os próprios humanos. Mas é importante resguardar a privacidade desses animais em vários momentos. E entender que eles são o que são: um cachorro é um cachorro, um gato é um gato e uma pessoa é uma pessoa. Ou seja, tem que entender que cada um tem sua especificidade, seja em matéria fisiológica, seja ela em matéria psicológica. É importante que cada um tenha o seu resguardo. É por isso que uma humanização excessiva acaba sendo prejudicial”, explica.
Magnani destaca que ter um pet em casa — convencional ou não, seja um gato, um cão, uma tartaruga, uma serpente adquirida de forma legal — é sempre muito saudável para a família toda, principalmente para as crianças, que desenvolvem uma relação de afetividade com os animais, e também para os idosos. “Claro que, resguardando as questões de segurança e de saúde, é algo muito saudável e eu vejo com muitos bons olhos. É algo interessante para quem gosta e pode. Pois tem que haver espaço, condições financeiras, etc., além de questões de saúde, como alergias a pelos, por exemplo.”
De acordo com o especialista, os pets requerem cuidados convencionais e não convencionais. “Cada um deles (animais) tem suas características. É importante que os tutores conheçam o animal, principalmente quando se trata de um pet não convencional. É preciso conhecer a biologia do animal, saber o que ele precisa. Neste momento, por exemplo, estamos enfrentando uma onda de frio muito forte. Seja um cachorro, gato, tartaruga ou periquito. Eles têm que receber cuidados especiais, como não ficar expostos a correntes de vento, ter alimentação adequada, ter momentos de banho de sol, etc. É preciso ter consciência do que os animais precisam.”
Outra questão importante, quando as pessoas ultrapassam os limites da convivência com os animais, é a saúde — tanto dos humanos quanto dos animais. Magnani explica que existem doenças que o ser humano pode passar para o pet, quanto o pet pode passar para o humano. Segundo ele, existem várias doenças para as quais os animais domésticos têm uma imunidade que nós, humanos, não temos. “Mesmo quando o animal está com a saúde em dia, sem nenhum problema, certos cuidados devem ser tomados.”

ECONOMIA
Animais humanizados viram negócio milionário
Cada vez mais, cachorros e gatos dividem espaços com seus donos em casa, num comportamento tão próximo ao dos humanos que envolve cardápios elaborados, direito a passeios especiais, adestradores e salão de beleza. Hábitos que geram negócios bilionários e estão em curva ascendente. Só o comércio varejista do mercado pet faturou mais de R$ 32 bilhões em 2017, estimulando a abertura de novos pontos de venda e a indústria do setor.
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) indicam que, no ano passado, os fabricantes de alimentos, medicamentos e acessórios para o mercado pet tiveram um faturamento de R$ 20,37 bilhões, o equivalente a 6,9% a mais do que em 2016.
Em 2018, a previsão era a de alcançar R$ 21,77 bilhões. Cerca de 68,6% desse total referem-se a produtos para nutrição animal, que em sua composição levam milho, soja, arroz, trigo e carnes de aves, bovinos e peixes.
Em relação ao aumento do leque de produtos, destacou-se as opções de alimento completo e com versões para atender às necessidades especiais, e ainda a oferta de acessórios e produtos que “humanizam” esses animais. Foi informado que, para padronizar a qualidade na produção, foi criado o Manual Pet Food Brasil, em sua 9ª edição.
Ranking Mundial – O Brasil é o terceiro maior mercado mundial, com uma participação de 5,1%, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Com base em levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Abinpet observou que o país ocupa a terceira colocação em número de animais (132 milhões), perdendo apenas para a China (417 milhões) e os Estados Unidos (232 milhões).
Dados do Instituto Pet Brasil, citados pela Abinpet, mostram que, no ano passado, o comércio varejista do setor passou por expressiva profissionalização, tendo alcançado um faturamento de R$ 32,92 bilhões entre serviços gerais, alimentos (Food), equipamentos e acessórios (Care), produtos veterinários (Prod Vet), serviços veterinários (Serv Vet) e vendas de animais de estimação.
As maiores movimentações ocorreram no varejo especializado (pet shops), com R$ 26,61 bilhões. Desses, R$ 1,27 bilhão são da venda de animais de estimação — 4,77% da demanda dos pet shops. Na venda direta de animais pelo criador ao tutor, o volume atingiu R$ 3,39 bilhões.
Já o montante dos alimentos vendidos em supermercados somou R$ 2,03 bilhões, ou 6,1% do canal de vendas. Em 2017, o faturamento do setor cresceu 5,8% sobre o ano anterior, quando havia alcançado R$ 31,11 bilhões.
Investidores – Os investidores estrangeiros ampliam sua participação nesse segmento. Só neste ano, a rede Petz — que se tornou líder no varejo após a entrada no negócio do fundo norte-americano Warburg Pincus — já conta com 71 estabelecimentos espalhados em sete estados (São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul) e no Distrito Federal.
Para Marinho, o mercado foi estimulado tanto pela “humanização” dos animais — principalmente os cães, que deixaram os quintais, foram para dentro de casa e hoje ocupam a mesma cama de seus donos — quanto pela profissionalização do setor.
Luxo – A lista de luxo dos produtos para cães inclui até vinho e cerveja. São composições à base de ração feita com carne, à qual são adicionados os aromas dessas bebidas. Seguindo o cardápio dos humanos, há também brigadeiros e panetones. De acordo com Marinho, o mercado pet voltado para os gatos também está crescendo.
Os mais de 20 mil itens do mercado pet incluem alimentos, acessórios, brinquedos e farmácia para vários tipos de animais. Nas megalojas, o espaço é dividido por setores, como Safári (com hamsters, coelhos, chinchilas, porquinhos-da-índia e aves diversas), além do Aquarismo, Cães, Gatos, Filhotes e variedades de flores e plantas.
No local, o cliente conta com veterinários especializados no atendimento de cães, gatos, peixes, aves, roedores e répteis. Nos fins de semana, são promovidos eventos de adoção em sistema de parceria com organizações não governamentais (ONGs). (Com informações da Agência Brasil)