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Abalada, família de Alifer Gabriel quer justiça e acusa Santa Casa de negligência médica

Os pais do jovem, que morreu na instituição de saúde, recebeu o São Carlos Agora e fez relatos sobre os momentos de angústia que antecederam sua morte.

21 FEV 2018 • POR • 08h09
Foto: Marcos Escrivani

Sob forte emoção, os pais de Alifer Gabriel, 18 anos, que morreu na Santa Casa às 12h45 de segunda-feira, 12, receberam a reportagem do São Carlos Agora na noite desta terça-feira, 20. Tristes, indignados e revoltados, acusam a Santa Casa de negligência médica, uma vez que, segundo eles, os profissionais que atenderam seu filho foram indiferentes e incapazes de descobrir os reais motivos que o teriam levado sua a morte.

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Com detalhes, o metalúrgico Marcial Bassan da Silva, 40 anos, e a dona de cas,a Eliana Aparecida de Oliveira da Silva, 40 anos, relataram os momentos de angústia desde o acidente, a internação, a alta precoce,  o retorno à Santa Casa, até a morte de Alifer, que possui dois irmãos: Anderson Aparecido, 22 anos e Thales Eduardo, 9 anos.

MADRUGADA DESESPERADORA

À 1h de domingo, 28 de janeiro, após trabalhar em um estabelecimento comercial de propriedade do pai de sua namorada, Vitória, Alifer, retornava para casa de bicicleta e na antiga rua 1, no Antenor Garcia, um Monza, prata, na contramão, colidiu frontalmente. O forte impacto, fez com que o garoto fosse arremessado de costas no asfalto.

Com ferimentos graves, Alifer foi socorrido pelo Samu à Santa Casa. "Minha indignação começou no primeiro atendimento, pois o médico que o atendeu, me perguntou se os ferimentos não tinham sido causados por uma faca. As pernas do meu filho não mexiam e acho que ele não tinha dado conta disso. Achava que tinha ferimentos internos", contou Marcial. Alifer ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

DIAS DE ANGÚSTIA

Naquele mesmo dia, Eliana Aparecida, foi visitar o filho às 15h. Entretanto, teve uma triste surpresa. "Ao chegar, fiquei sabendo que meu filho estava passando por uma cirurgia, tinha uma fratura na 7ª vértebra e não mexia os pés", afirmou a mãe.

Ela informou que, sua surpresa, foi o fato da Santa Casa em não comunicar a família. "Conversei com o médico sobre tal fratura e ele disse que não poderia afirmar se o Alifer andaria novamente. Porém, não corria risco de morte", afirmou Eliana.

SINTOMAS QUE PERMANECIAM

Eliana disse que os médicos focaram a atenção na coluna de Alifer e não se preocuparam com o inchaço no braço e na perna do filho, que apresentava ainda febre persistente e dores de cabeça.

Após cinco dias de UTI, liberaram Alifer que foi para o quarto. No dia 2 de fevereiro, uma sexta-feira, teve alta, considerada precoce pela família.

No sábado, 3, em casa, na Avenida Donato Pedrino, no Antenor Garcia, amigos conseguiram uma cama hospitalar para maior conforto do garoto. Entretanto, ele não apresentava melhoras.

"Fui dar comida e ele sentiu ânsia e vomitou. Tinha febre e dores de cabeça. Chamamos o Samu e o Alifer retornou à Santa Casa onde foram feitos exames de sangue e de urina, quando foi constatada uma infecção. Foram três dias de tratamento", comentou a mãe.

REAIS MOTIVOS

Eliana, disse ainda, que um enfermeiro ao ver o estado de saúde de Alifer pediu para que ela corresse o mais rápido possível, pois caso contrário o menino iria morrer. "Foi quando este enfermeiro chamou um médico e contei toda a história. Este profissional disse que iria tratar do Alifer, mas não iria se responsabilizar pelos dias anteriores. Foi quando descobriu que meu filho estava com um deslocamento na clavícula, um braço quebrado e traumatismo craniano, o que motivou a sua morte", disse, emocionada.

JUSTIÇA

Após o relato, Eliana Aparecida, não escondeu sua revolta. "Como não descobriram que meu filho tinha um trauma na cabeça? Como deram alta com um braço quebrado? Por quê se negaram a fazer uma ressonância?", desabafou a mãe, que teve a triste notícia da morte do filho às 12h45 de segunda-feira, dia 12. "Segundo eles (Santa Casa), teria sido um enfarto", disse.

CONVERSAR

Segundo Marcial, a Provedoria da Santa Casa teria entrado em contato com o casal para conversar e dar a versão sobre a morte de Alifer. "Eles pediram para nós irmos sozinhos, sem advogados." afirmaram.

DUAS VIDAS

Durante 45 minutos, os olhos de Eliana Aparecida brilhavam a cada vez que citava o nome do filho. "Digo a todos que tinha três vidas", ao referir-se aos filhos. "Agora tenho duas. A Santa Casa me levou uma. O Alifer nos deixou".

DOR NA ALMA

"Hoje, é viver a cada dia", resume Eliana. "É difícil ver suas roupas, seu celular. Ouvir o portão bater e pensar nele. Uma sensação que parece que ele irá voltar", disse o pai Marcial, sentado no sofá, mexendo os pés e esfregando uma mão na outra. "É uma dor que não tem explicação", emendou. "Eu enterrei minha mãe e sofri. Mas enterrar um filho é doloroso demais", completou Eliana.

SOFÁ, SALA, QUARTO

Alguns fiéis amigos de Alifer estavam presentes durante a reportagem ao SCA. Os pais disseram que seu lugar preferido na casa era um sofá na garagem. Ao lado, uma gaiola com um papagaio. Na sala, em frente à TV, era outro local que gostava de ficar.

A sua cama, no quarto, está no mesmo local. "Nem lavamos. Tem o cheirinho dele", conta a saudosa mãe. No guarda roupa, penduradas, as suas roupas.

VAIDOSO, ESTUDIOSO, SEM VÍCIOS

Alifer não ligava para futebol. Mas, segundo os pais e amigos, um rapaz vaidoso, que fazia vídeos com a namorada, Vitória, para postar nas redes sociais. Simpático, cheiroso. Não tinha vícios. "Ele não fumava e nem bebia. Era um menino estudioso e já tinha encerrado o ensino médio na E.E. Prof. Marisvaldo Carlos Degan.

"Ele era trabalhador, responsável e muito preocupado. Gostava de ajudar as pessoas, levava todo dia o irmão mais novo para a escola. Sua namoradinha tem problemas de saúde e quando ela ia ao médico, ele sempre estava presente", conta a mãe.

SONHOS INTERROMPIDOS. QUERIA SER PM

Com um "nó" na garganta, Marcial conta que Alifer teve seus sonhos interrompidos. "Tenho um carro e uma moto na garagem. Mas como não tinha habilitação, ele não queria dirigir, pois era errado pegar um veículo sem a CNH", conta, com orgulho.

Uma das emocionantes revelações era um desejo que Alifer carregava: se preparava para iniciar os estudos, pois queria ser policial militar, uma corporação que respeitava e sentia orgulho.

"Mas, a Santa Casa, acabou com todos esses sonhos e tirou um pedaço da gente", disse Marcial. "A Santa Casa deveria ter vergonha de tudo o que fez. O Alifer não volta mais e vamos levar adiante esta denúncia pois não queremos ver outras famílias passarem a dor que estamos passando. A vida humana tem e deve ser respeitada. Os médicos e as pessoas ligadas a área de saúde têm que ser cuidadosas. Queremos somente justiça", finalizaram.

Santa Casa

Em nota, A Santa Casa de São Carlos informou que entrou em contato com a família de Álifer Gabriel Bassani da Silva e se colocou à disposição para quaisquer esclarecimentos referentes ao atendimento médico durante o período de internação do paciente.