Artigo Rui Sintra: Registro histórico
24 FEV 2016 • POR (*) Rui Sintra • 09h30A mais recente novidade em Cuba foi a chegada da Internet, embora saibamos que ela écontrolada pelo governo. Embora não exista 3G, os principais edifícios públicos e alguns privados já possuem sistemas wiffi, redes que podem ser captadas nas ruas e que podem inclusivamente ser utilizadas por qualquer um, desde que esse alguém compre uma tarjeta parecida com os nossos comuns cartões telefônicos, que possibilita uma conexão de uma hora. Aí tem o número de usuário e a senha numérica para acessar. Escusado será dizer que a novidade atingiu em cheio a comunidade mais jovem da capital cubana, Havana. A venda de smartphones disparou e agora é normal ver largos grupos de pessoas sentadas nas ruas - diria que em bandos - acessando os até há bem pouco tempo desconhecidos facebook, twitter, instagram, whatsappou mesmo email.
A sociedade cubana está mudando muito rapidamente, talvez pela recente aproximação diplomática com os Estados Unidos e, com isso, com o exponencial aumento do número de turistas em Havana, principalmente americanos. Antes, o idioma espanhol era soberano, mas agora o inglês é o que mais se ouve entre as conversas de botequim, no comércio de rua, nos táxis, ou nas ruas de Havana Velha, onde ainda persistem os olhares "calientes" e cúmplices apontados aos "gringos" por algumas jovens e menos jovens. Contudo, o "clima" na capital cubana já não é o mesmo de há vinte anos, onde os lenços vermelhos despontavam orgulhosamente do pescoço dos jovens de então que gritavam inflamados, onde os punhos fechados para o alto significavam um estado de espírito, uma luta, onde o verde-oliva dos uniformes dos militares ainda transpirava revolução. As figuras místicas de Che (Che Guevara) e Fidel de Castro, antes pintadas ou esculpidas num quase eterno brado político coadjuvante da frase "Patria omuerte!", hoje não passam mais de meros "regalos" pendurados nas velhas lojas de "souvenirs", ao lado de cópias baratas de boinas e chapéus revolucionários. Havana tem cheiro da nostalgia política de 1960, misturado com um aroma de modernidade que está chegando e que, nefastamente, poderá retirar algo da singularidade de seu povo.
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