Colunistas

Artigo Rui Sintra: Hasta siempre... Cuba!!!

9 FEV 2016 • POR (*) Rui Sintra • 06h34
Foto: Divulgação

Parto hoje para Cuba: mais um trabalho de freelance numa cidade que desde a década de 90 me mostrou a singularidade de um povo único, que, frente às mais diversas dificuldades domésticas e internacionais, labuta mais de 18 horas por dia apenas para... sobreviver. É verdadeiramente impressionante poder conviver com o povo cubano, que tem no sorriso, na música e na dança os antídotos para a sua extrema pobreza material, e com eles, por outro lado, mantendoelevada a sua grande riqueza espiritual. Já vi os cubanos serem proibidos de entrar nos seus próprios hotéis, de se misturar com os turistas ocidentais, de frequentar bares e outros recintos destinados aos "gringos", inclusive o fato de cientistas cubanos poderem partilhar os espaços comuns de alimentação em congressos, encontros e seminários, tendo, para isso, espaços próprios fora do convívio de seus colegas estrangeiros. Claro que nada é estanque. A famosa revolução cubana provou sua ineficácia ao longo do tempo e o glamoroso(para alguns) comunismo caribenho não conseguiu atrair e motivar as gerações cubanas seguintes, tal como aconteceu na velha Europa de Leste.

Contudo, se os muros da vergonha da Europa de Leste não resistiram à decadência e utopia das velhas políticas de esquerda implantadas sob o domínio do medo e da repressão, o mesmo não aconteceu com Cuba, até porque é uma ilha. Basta fechar os portos e aeroportos e aí o povo não sai e ninguém entra. Fácil! Mesmo assim, ao longo dos anos, muitas centenas de cubanos tentaram a sua sorte se aventurando no mar rumo aos Estados Unidos, a bordo de pequenas embarcações. Além de procurarem uma nova forma de vida, eles partiram em busca de liberdade. Parece um contrassenso, mas não é. De tal forma que, quando nessa altura perguntávamos a um cubano qual seria seu maior sonho, ele olhava para os lados e respondia quase que em sussurro "Aqui, em Cuba, os sonhos nadam" (alusão à fuga pelo mar).

As mudanças em Cuba verificadas ao longo do tempo foram lentas e pouco expressivas para a população. Com o restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos, verificadas recentemente, pelo menos o número de turistas aumentou e Havana foi a principal beneficiada. Mas não é o bastante, já que o essencial seria suspender imediatamente o bloqueio econômico imposto à Ilha de Fidel de Castro e, aí sim, poderemos antever um futuro mais risonho para o povo cubano. Só que, em minha opinião, esse desbloqueio só poderá vir a acontecer com a morte do velho "Comandante", que ainda mantem uma pequena legião de seguidores.

Médicos cirurgiões que viram taxistas à noite, engenheiros que nas horas vagas assumem o papel de guias turísticos, professores que vendem recordações nas ruas e avenidas de Havana. A educação e saúde são gratuitas, mas a fatura que população paga por isso é muito alta. Assim que tocamos no tema "política", ou "revolução", o cubano sorri e se afasta delicadamente, alegando que não pretende falar sobre o assunto: desconversa, fala do rum, de charutos, das cubanas, da música...

Vamos esperar dias melhores para a ilha, continuando a dizer: Hasta siempre... Cuba!!!