Cidade

São Carlos tem má distribuição de árvores

Nesse Dia da Árvore, profissionais analisam como anda a arborização de nossa cidade e o que pode ser feito para melhorar

21 SET 2015 • POR Redação • 17h59
Giuliano Cardinali: “Tudo tem que ser pensado porque depois que está pensado fica fácil de implantar e plantar”. Foto: Divulgação

A arborização de ruas e praças é importante para diminuir os efeitos da urbanização crescente. Como o plantio geralmente é realizado de forma desordenada, árvores de grande porte acabam danificando calçadas, asfalto, iluminação e sinalização. Além disso, uma pesquisa apontou que São Carlos tem apenas 26% de sua área arborizada.

Não é raro encontrar árvores derrubadas pelas ruas da cidade. Mas o que faz com que estes exemplares, quase centenários, não suportem os ventos fortes? A primeira possível causa é a falta de manutenção. Muitas das árvores espalhadas pela cidade estão infestadas de cupins, brocas e outras doenças que poderiam ser controladas com um acompanhamento. Podas excessivas e malfeitas também aumentam a incidência de fungos. Em todos estes casos, o problema é o mesmo: a escolha errada da espécie. É importante escolher a árvore a partir do porte e das características que ela assume quando adulta.

Um estudo de 2014 quantificou a cobertura vegetal da cidade de São Carlos, além de realizar uma análise da distribuição arbórea dentro da área urbana do município. A responsável pelo trabalho de doutorado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), da USP, Sabrina Mieko, explicou que foram utilizadas imagens de São Carlos feitas por satélite em alta resolução. Depois disso, a área urbana da cidade foi dividida em 44 setores para facilitar a análise da distribuição da vegetação.

No fim do estudo, a pesquisadora descobriu que um dos principais problemas na configuração arbórea de São Carlos é a má distribuição das árvores pela cidade. Sabrina explica que a porcentagem de cobertura arbórea do município é de 26%. Porém, a região da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) responde sozinha por 40% desse valor, enquanto outras áreas mais distantes da região central, como os bairros Cidade Aracy e Antenor Garcia, ficam com apenas 5% desse total. Ou seja, enquanto na Federal há uma grande quantidade de árvores, em bairros de periferia esse número cai bastante. "De nada adianta ter 40% de cobertura arbórea na cidade se ela estiver toda concentrada somente em uma região", explica a pesquisadora.

As árvores são importantes na composição do espaço urbano, pois contribuem para o equilíbrio desse ecossistema. Sabrina explica que as falhas acontecem, muitas vezes, por conta da falta de planejamento, gestão e organização pública. "Além de equipes, também notamos a falta de planejamento e políticas públicas - às vezes a cidade não tem um simples levantamento das árvores que possa apoiar a tomada de decisões sobre onde deverão ser os novos plantios, quais árvores precisam ser removidas e quais precisam de manutenção. Plantar é necessário, mas tem que ter infraestrutura e equipes para cuidar".

A Profª Luciana Schenk, arquiteta e urbanista com especialização em paisagismo, concorda que o conjunto arbóreo da cidade é muito importante porque ajuda a combater os efeitos do processo de impermeabilização, de calor, de falta de natureza. "O conjunto que contemple parques, praças e ruas arborizadas e sistemas de espaços livres, que pode garantir duas coisas: contribuições no aspecto infraestrutural, fazer a cidade mais fresca, com ar mais puro e com menores problemas de drenagem - pois a árvore também toma água -, e a segunda coisa é que os espaços livres dotam a cidade de lugares de lazer, para passear, que são fundamentais e andam esquecidos". Ela ainda ressalta que "no processo de feitura de cidade a gente tem construído muita habitação e pouca cidade".

E O PLANO DIRETOR

Luciana explica que dentro da perspectiva de uma cidade que está sendo contemplada com o Plano Diretor existe o planejamento especifico que é o Plano de Arborização, o que dá à população um norte, um guia. E que seja feito por técnicos, pessoas que conseguem avaliar e fazer um equilíbrio entre tamanho de calçada, posteamento e fiação, o tipo de copa, de raiz. "Essas coisas todas não são frutos do acaso, são frutos de um estudo e que merece ser muito bem feito porque senão a gente fica como está: com várias ruas sem arborização, o que é ruim porque não tem sombra, não tem clima bom, nem a beleza das árvores florescidas. E através do Plano Diretor pode otimizar toda essa questão e fazer, talvez, uma cidade que contemple todos os espaços e seja capaz de nos propiciar lugares memoráveis", enfatiza Luciana.

O responsável por um dos projetos do Plano Diretor que está em votação na cidade, o Engenheiro Agrônomo e Presidente da AEASC (Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de São Carlos, Giuliano Cardinali explica que o fundamental na questão da arborização é a forma de plantar e a manutenção da árvore. "Não basta pensar que é só plantar e deixar, não é assim que funciona. A gente está mesclando natureza com cidade e isso necessita que seja feito alguns ajustes ao longo do caminho. E um desses ajustes é a manutenção das árvores que caem por conta de raios, apodrecimento dos galhos, covas incorretas, por isso é necessário que seja feito uma manutenção, específica e periódica. A gente tem que estar sempre de olho".

O Engenheiro ainda explica que além dos benefícios climáticos e de embelezamento tem também a parte aérea e que temos que pensar que o que está para cima, também está para baixo e que por isso as árvores ajudam na drenagem urbana, deixando o solo arejado, com a proliferação de suas raízes, formando mais ou menos como uma tubulação natural. "Um dos motivos desses surtos de calor que estamos vivendo se deve a uma má arborização, a falta dela ou a soma dos dois. E isso só tende a piorar cada vez mais, pois o clima vai ficar mais quente, terá menos arborização e mais carros, tudo isso só vai dar acúmulo de energia que vai se transformar em calor e vai deixar todo mundo em uma ambiência muito ruim para se viver".

"A ideia é que se tenha os profissionais envolvidos à luz de um processo que englobe o planejamento de todas as questões, inclusive a compatibilização da infraestrutura pois a raiz da árvore pode ser uma vilã ou não", diz Luciana. Para ela o Plano de Arborização, que participa do Plano Diretor, é quem pode definir tudo: o que pode ser feito em questão de arborização, o que pode ser plantado e onde pode ser plantado, e definir inclusive a largura da calçada que poderá ou não receber uma árvore. "Tudo tem que ser pensado porque depois que está pensado fica fácil de implantar e plantar", confirma Engenheiro Agrônomo.

Mas o que devemos fazer? De acordo com Cardinali, o ideal é procurar um profissional para orientar a plantar a árvore certa no espaço que se tem. Para isso os profissionais indicados são Engenheiro Agrônomo, Engenheiro Florestal ou Arquiteto Urbanista com formação em Paisagismo.