Psicóloga afirma que dinheiro "não muda as pessoas, mas as revela"
Para a dra. Aleksandra Lopes, bilhete premiado pode abrir todas as portas do mundo, mas a chave para a felicidade continua do lado de dentro
31 DEZ 2025 • POR Da redação • 07h33Ganhar um prêmio da Mega Sena da Virada, seja de R$ 1 bilhão, se ganhar sozinho, ou de R$ 100 milhões, se o prêmio for dividido por dez pessoas, ou ainda de R$ 50 milhões, se for dividido entre 20 apostadores, e por aí afora, muda a essência de uma pessoa? Para a consagrada psicóloga dra. Aleksandra Lopes (CRP 6/123404), especializada em Psicanálise e Saúde pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, do alto de seu conhecimento, Aleksandra garante que o dinheiro não muda as pessoas, mas as revela, mostrando quem elas realmente são, sem máscaras, sem travas e sem controle, até então impostos pela falta de recursos financeiros.
Todo final de ano, o Brasil mergulha em um transe coletivo chamado Mega da Virada. As filas nas lotéricas não são apenas por bilhetes; são filas de esperança, de desabafo e, acima de tudo, de projeção. “Como psicóloga, observo esse fenômeno com um olhar atento: o que o brasileiro busca naquela combinação de seis números vai muito além de uma conta bancária recheada? É a busca pela ‘cura’ de todas as angústias”, destaca ela.
“Mas, afinal, o que acontece com a cabeça de alguém quando o abismo entre a escassez e a abundância é atravessado em segundos?”, indaga a especialista.
Segundo a dra. Aleksandra, existe um mito de que o dinheiro transforma as pessoas. “Na prática clínica, percebemos que o dinheiro, na verdade, é um potencializador de essências. Ele funciona como um holofote: se você é alguém generoso, o dinheiro o torna um filantropo; se guarda em si sementes de arrogância ou insegurança, a riqueza as fará florescer com força total. O dinheiro não muda o caráter, ele apenas remove as travas sociais que a pobreza impunha. Sem o medo do ‘boleto de amanhã’, a pessoa se sente livre para ser quem realmente é — e nem sempre essa pessoa é agradável. Uma máxima da psicologia econômica é que o dinheiro não muda as pessoas; ele as revela”, explica ela.
O PESO DA LIBERDADE – A partir da conquista da independência financeira para o resto da vida, o ganhador ou os ganhadores da Mega Sena começam a sentir o “peso da liberdade”. “Para quem sempre viveu no limite, o dinheiro representa o fim do ‘modo sobrevivência’. Esse estado de alerta constante causa um desgaste neurológico imenso. O alívio imediato é indescritível, mas ele vem acompanhado de um perigo silencioso: a adaptação hedônica. O cérebro humano é mestre em se acostumar com o luxo. Em poucos meses, a mansão vira ‘apenas a casa’ e o carro importado vira ‘apenas o transporte’. Se a felicidade do ganhador estiver ancorada apenas no consumo, o vazio existencial baterá à porta mais rápido do que ele imagina”, alerta a psicóloga.
A SOLIDÃO DO PÓDIO – A dra. Aleksandra destaca ainda que ficar rico pode causar outro fenômeno psicológico que ela classifica como “solidão do pódio”. “Talvez o ponto mais doloroso seja o impacto nos relacionamentos. No momento em que um indivíduo de origem humilde se torna multimilionário, ocorre uma ruptura de pertencimento. De um lado, a desconfiança: ‘Ele gosta de mim ou do meu saldo?’. Do outro, a cobrança: amigos e familiares enxergam o ganhador como um ‘banco emocional e financeiro’.”
Ela lembra que dizer “não” para um parente necessitado quando se tem milhões na conta gera uma culpa devastadora ou um conflito familiar sem volta. “O novo rico muitas vezes se vê em uma terra de ninguém: não pertence mais à comunidade onde cresceu e não se sente em casa nos círculos da elite tradicional, que o enxerga como um ‘intruso’.”
PODE A FORTUNA DESTRUIR? – A psicóloga faz ainda um alerta importante e quase inacreditável à primeira vista: a riqueza pode, até mesmo, destruir uma pessoa. “Infelizmente, sim. Vemos casos de ganhadores que acabam com a própria vida em poucos anos. Isso acontece quando o prêmio substitui o propósito. Se o meu único objetivo era ‘ficar rico’, o que eu faço no dia seguinte ao prêmio? Sem uma estrutura psicológica sólida, o acesso ilimitado a prazeres — de compras compulsivas a vícios — torna-se uma rota de fuga para um vazio que o dinheiro não consegue preencher”, revela ela.
O EQUILÍBRIO HUMANO – A busca pelo equilíbrio, a partir da mudança causada pela fortuna, impõe o desafio humano e a revelação de que o mais importante na vida pode ser aquilo que o dinheiro não pode comprar. “Ganhar na Mega da Virada é um evento traumático — sim, existe o ‘trauma positivo’. É um choque que exige uma reconfiguração completa da identidade. Ser feliz com o prêmio exige mais do que sabedoria financeira; exige sabedoria emocional.”
Dra. Aleksandra garante que o dinheiro compra conforto, mas a paz de espírito, a confiança nos amigos e o sentido da vida continuam sendo construídos no território do “ser”, e não do “ter”. “No fim das contas, o bilhete premiado pode abrir todas as portas do mundo, mas a chave para a felicidade continua do lado de dentro”, conclui ela.