Artigo Rui Sintra

Bagnato e a luz contra o câncer

19 DEZ 2025 • POR Rui Sintra • 10h33
Vanderlei Bagnato

Desde 1995, o Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e o Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica (CEPOF) vêm desenvolvendo uma luta incessante contra diversas formas de câncer, sendo que o câncer de pele assumiu uma das principais prioridades, haja vista o número crescente de casos em todo o mundo.

Por meio da implementação e do aperfeiçoamento de diversas técnicas e do desenvolvimento de equipamentos inovadores, desde o ano 2000 a luta contra os tumores de pele não melanoma tem sido intensa e constante. Para o pesquisador são-carlense e docente do Instituto de Física da USP São Carlos, professor Vanderlei Bagnato, o padrão ouro no tratamento do câncer de pele não melanoma, de modo geral, sempre foi a cirurgia, que envolve uma grande infraestrutura e a atuação de vários profissionais.

Contudo, uma nova forma de tratamento emergiu com efetividade nesse período. Trata-se da chamada terapia fotodinâmica, uma técnica que combina um agente fotossensibilizador (medicamento em creme) com uma luz de comprimento de onda específico (LED ou laser) para destruir seletivamente tecidos doentes. O procedimento pode ser realizado por um único profissional, com a aplicação do creme tópico, seguida de uma curta espera e da aplicação da luz.

Em conversas mantidas com o professor Vanderlei Bagnato, ele confirma que, em 95% dos casos, o procedimento elimina uma lesão recente com até um centímetro de diâmetro, sem a necessidade de cirurgia. Isso representa uma ótima notícia, especialmente porque muitos pacientes com câncer de pele não melanoma também têm diabetes, o que pode dificultar a realização de procedimentos cirúrgicos.

A terapia fotodinâmica, agora implementada no SUS graças ao trabalho da equipe de pesquisadores liderada por Vanderlei Bagnato, favorece significativamente o conforto do paciente. Na própria consulta, ele já sai tratado, sem necessidade de anestesia, com um excelente custo-benefício.

Tudo isso reforça a perspectiva de que quem trabalha com ciência busca dar relevância prática ao desenvolvimento de seus conhecimentos e equipamentos. Bagnato afirma que, para ser relevante, o pesquisador precisa resolver problemas da sociedade, destacando que, para a USP, tudo o que tem sido feito demonstra o forte vínculo da Universidade com as necessidades da sociedade brasileira. No caso do câncer de pele, esse compromisso é ainda mais evidente diante do surgimento de cerca de 300 mil novos casos por ano em todo o Brasil.

Além do câncer de pele, o professor Vanderlei Bagnato atua em pesquisas sobre outras formas da doença, como o câncer de colo do útero e o HPV, sendo que sua equipe já iniciou trabalhos em multicentros. Também nesse aspecto haverá grande benefício para as mulheres brasileiras, já que os tratamentos das lesões de HPV e do colo do útero poderão ser realizados em nível ambulatorial, sem necessidade de cirurgias mais extensas.

Bagnato sempre reforça que a chamada ação fotodinâmica não foi inventada por ele ou por sua equipe, mas que os pesquisadores tornaram o método mais seguro e efetivo, o que tem gerado reconhecimento mundial.

Em suma, São Carlos segue na vanguarda científica e tecnológica.