São Carlos tem 798 pessoas morando em favelas, diz IBGE
O levantamento impõe ao poder público municipal mais um grande desafio que se soma a outros, como o grande de moradores em situação de rua que habitam o meio urbano
6 DEZ 2025 • POR Da redação • 07h36O município de São Carlos tem 798 moradores, o que representa 0,31% de sua população de 254.822 habitantes, vivendo em cinco favelas ou comunidades espalhadas pela cidade. Os dados são da pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta semana.
O levantamento impõe ao poder público municipal mais um grande desafio que se soma a outros. No final do ano passado, um relatório apresentado pelo Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), do Governo Federal, apontou São Carlos como a 24ª cidade do Estado de São Paulo com maior registro de pessoas em situação de rua.
O estudo utiliza como base registros do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), com dados até julho de 2023. Em São Carlos, foram encontradas 431 pessoas em situação de rua, o que representa 0,134% da população total de 254.822 habitantes. A quantidade de pessoas nessa condição é maior do que a registrada em várias cidades menores e de porte semelhante.
O crescimento dessa população tem sido expressivo. Em 2016, eram 74 pessoas em situação de rua. Em 2017, o número subiu para 92. Em 2018, atingiu 137. Em 2019, chegou a 230, mantendo-se nesse patamar em 2021, durante a pandemia. Em 2022, o total chegou a 342 e, no ano passado, alcançou 403.
A doutora em Sociologia Urbana pela UFSCar, Evelyn Postigo, afirma que a situação é preocupante. Segundo ela, “São Carlos, conhecida por seu desenvolvimento econômico e polos de inovação, enfrenta uma realidade inquietante: o número de pessoas em situação de rua praticamente dobrou nos dois últimos anos. Esse aumento reflete não apenas fatores econômicos, mas também a ausência de políticas públicas habitacionais e de reintegração social efetivas”.
Evelyn acrescenta que diversos fatores contribuem para esse cenário, como o aumento do desemprego, a falta de políticas habitacionais eficazes e a crescente precarização do mercado de trabalho. “Embora São Carlos tenha investido na ampliação de serviços, como a revitalização do Centro POP, tais iniciativas parecem insuficientes para conter o avanço da vulnerabilidade social. Esse crescimento sugere que as políticas públicas precisam de uma reavaliação urgente, com foco em ações de longo prazo que promovam a reintegração e autonomia dessas pessoas”, destaca.
Para a socióloga, os números revelam uma contradição importante: “Para uma cidade historicamente voltada à inovação e à ciência, o aumento da população em situação de rua traz à tona uma disparidade que desafia o compromisso com a justiça social”.
DADOS NACIONAIS
O Brasil tem 16,39 milhões de pessoas morando em favelas e comunidades urbanas, o que representa 8,1% da população total, segundo o Censo 2022. Em média, oito a cada 100 brasileiros vivem em áreas com condições precárias de habitação e infraestrutura, como insegurança na posse de terras e baixa oferta de serviços públicos essenciais.
O IBGE identificou 12.348 favelas distribuídas em 656 municípios. Em comparação ao Censo de 2010, houve aumento no número de residentes nessas comunidades. Na época, 11,4 milhões de pessoas (6% da população) viviam nos chamados “aglomerados subnormais”. O IBGE, porém, alerta que melhorias metodológicas dificultam comparações diretas com os dados de 2010.
SUDESTE LIDERA EM NÚMERO DE HABITANTES
A região Sudeste concentra 43,4% da população de favelas, com 7,1 milhões de moradores. Em seguida vêm:
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Nordeste: 28,3% (4,6 milhões)
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Norte: 20% (3,3 milhões)
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Sul: 5,9%
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Centro-Oeste: 2,4%
Entre os estados, São Paulo lidera em números absolutos, com 3,6 milhões de moradores de favelas, seguido por Rio de Janeiro (2,1 milhões) e Pará (1,5 milhão). Em proporção, o Amazonas lidera com 34,7% da população vivendo em comunidades.
As 26 grandes concentrações urbanas do Brasil, com mais de 750 mil habitantes, abrigam 83,6 milhões de pessoas, das quais 13,6 milhões vivem em favelas (16,2%), o dobro da média nacional. Belém tem 57,1% da população vivendo em comunidades, seguida por Manaus (55,8%), Salvador (34,9%), São Luís (33,2%) e Recife (26,9%).
ESTRUTURA DE DOMICÍLIOS
O Censo também identificou 6,56 milhões de domicílios em favelas, dos quais:
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72,5% têm até 500 domicílios
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15,6% têm entre 501 e 999 domicílios
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11,9% abrigam mais de mil residências
A média de moradores por domicílio é de 2,9 pessoas, acima da média nacional (2,8). A maioria das moradias são casas (96,1%), e 89,3% têm acesso à rede de água, índice superior ao do país (87,4%).
Quanto ao saneamento, 61,5% dos domicílios têm esgoto via rede pública ou privada, abaixo da média nacional (65%). A coleta de lixo atende 76% das residências, inferior à média nacional de 83,1%.
Além das moradias, havia 958 mil estabelecimentos nas favelas brasileiras em 2022, sendo 616,6 mil de comércio e serviços, 50,9 mil religiosos, 7,9 mil educacionais e 2,8 mil ligados à saúde.