Tema "privatização" divide esquerda em São Carlos
Djalma Nery aponta contradições no PT, que criou e aprovou PPP do Lixo em 2010 e agora se coloca contra PPP do SAAE
5 DEZ 2025 • POR Da redação • 09h30Embora venha votando constantemente em bloco, a bancada de oposição da Câmara Municipal vive uma disputa particular e peculiar entre PT e PSOL. O caloroso debate entre os vereadores Djalma Nery (PSOL) e Lineu Navarro (PT), na sessão da Câmara da última terça-feira, 2 de dezembro, deixou claro que existem fissuras na esquerda são-carlense. Djalma afirmou que seu partido é totalmente contra a privatização, concessão ou PPP para o sistema de abastecimento, tratamento e distribuição de água, além da coleta, tratamento e destinação do esgoto.
Durante a última reunião da Casa de Leis, o vereador Lineu Navarro explicou a PPP (Parceria Público-Privada) implantada em 2010. São Carlos aprovou o modelo de Parceria Público-Privada para a coleta e destinação do lixo em 2010. Na época, a Prefeitura assinou o contrato com a empresa São Carlos Ambiental Serviços de Limpeza Urbana e Tratamento de Resíduos Ltda. para realizar os serviços, com base em investimentos previstos de R$ 179,2 milhões em 20 anos.
A forma de pagamento fixo foi alvo de críticas e recursos judiciais, mas o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) validou a contratação. Lineu destacou que a coleta e a destinação do lixo já eram realizadas em sistema de concessão pela iniciativa privada há muitos anos. Na ocasião, políticos de direita, liderados pelo ex-prefeito Airton Garcia, criticaram duramente a PPP.
O tema voltou à tona porque existe a possibilidade de uma PPP dentro do Projeto UniversalizaSP, do governador Tarcísio de Freitas, que pode conceder o SAAE em sistema de parceria com a iniciativa privada. Como Lineu é contra uma PPP para o saneamento básico e votou favoravelmente à PPP do lixo, Djalma apontou a contradição.
Lineu rebateu e disse não ver qualquer contradição entre as duas situações. Para justificar sua posição, destacou problemas enfrentados pelo ex-prefeito de Belém (PA), Edmilson Rodrigues (PSOL), que enfrentou graves dificuldades relacionadas à coleta e destinação do lixo durante sua gestão. Segundo ele, a “crise do lixo” foi uma das marcas do mandato e um fator de desgaste político.
Djalma voltou à tribuna e contestou: “Por que o vereador foi tão longe, em Belém, para tentar apontar contradições em nosso discurso? Temos exemplos de privatização do sistema de água em Porto Ferreira, Matão e Jaú. Sabe quem fez essas privatizações? Todas foram feitas por prefeitos do PT”, afirmou o vereador do PSOL.
O pano de fundo deste debate é o racha entre Djalma e o candidato a prefeito derrotado nas eleições de 2024, Newton Lima (PT). Djalma afirma que apoiou a candidatura de Newton em um acordo que previa o apoio do ex-prefeito à sua pré-candidatura a deputado estadual em 2026. Porém, Newton também se lançou como pré-candidato ao mesmo cargo, e aí começaram os desentendimentos entre a esquerda são-carlense.
Na bancada de esquerda, os demais vereadores tentam ficar fora da briga. Enquanto isso, a bancada de direita, que apoia o prefeito Neto Donatto (PP), e o próprio prefeito tentam colocar mais “gasolina neste incêndio” para enfraquecer as lideranças progressistas em São Carlos.