Mais da metade dos paulistas pratica atividades físicas
Na contramão desta tendência, adesão entre jovens recua em 2025, revela estudo da Fundação Seade
29 NOV 2025 • POR Da redação • 11h22A Fundação Seade divulga novo levantamento sobre a percepção e a prática de atividades físicas no Estado de São Paulo. O estudo mostra que 55% da população afirma praticar exercícios em 2025, proporção estável em relação aos últimos três anos, porém 16 pontos superior ao registrado em 2019 (39%). A pesquisa ouviu moradores de todas as regiões do estado por meio de entrevistas remotas realizadas em setembro de 2025.
“Os dados revelam que o hábito de se exercitar está consolidado entre boa parte da população, mas ainda há desafios em segmentos com menor renda e escolaridade, especialmente entre os mais jovens”, destaca o estudo da Fundação Seade.
A adesão é maior entre homens (61%) do que entre mulheres (52%), e cresce conforme aumentam a escolaridade e a renda familiar. Já entre os jovens de até 29 anos, houve queda de oito pontos percentuais na prática de atividades físicas entre 2024 e 2025 (de 61% para 53%), o maior recuo entre os grupos etários. A redução pode estar associada ao arrefecimento de comportamentos saudáveis estimulados no período pós-pandemia, acrescido pela retomada das atividades presenciais de estudo e trabalho.
PESSOAS DE 60 ANOS OU MAIS LIDERAM AVANÇO – Em sentido oposto, destaca-se o avanço entre pessoas com 60 anos ou mais, cuja adesão passou de 33%, em 2019, para 52% em 2025, o que representa 19 pontos percentuais de crescimento. A pesquisa indica que esse público demonstra maior conscientização sobre os benefícios do autocuidado e da manutenção da funcionalidade física, associada à maior disponibilidade de tempo. Nesse estrato da população, os problemas de saúde continuam sendo o principal motivo para a não prática de exercícios.
No interior paulista, a proporção de praticantes (58%) é superior à da Região Metropolitana de São Paulo (52%). Entre os que se exercitam, oito em cada dez afirmam realizar atividades duas ou mais vezes por semana, e três em cada dez dedicam aos treinos mais de uma hora diária. Esses índices refletem a percepção consolidada sobre os benefícios da regularidade da prática de exercícios.
Por outro lado, 45% da população ainda não pratica atividades físicas, e as principais razões incluem problemas de saúde (39%), falta de tempo (25%) e ausência de locais adequados (14%).
O estudo também mostra que um terço dos entrevistados (33%) considera suficientes as instalações esportivas em seu bairro e que 47% identificam a existência de centros esportivos ou quadras públicas perto da sua moradia, embora apenas 32% os utilizem. Esses espaços, segundo o levantamento, são mais usados por pessoas de menor renda familiar, o que reforça a importância da oferta de equipamentos públicos para incentivar hábitos saudáveis.
ELIXIR DA LONGA VIDA – O médico cardiologista da Santa Casa de Misericórdia de São Carlos, Vicente Matinata, destaca que o exercício físico é o verdadeiro “elixir da longa vida”. Ele observa que, enquanto muita gente acredita e tenta seguir dietas milagrosas, uma vida mais longa e mais saudável está diretamente ligada à prática constante de exercícios físicos e esportes em geral.
“Muita gente corre atrás de vitaminas e outras substâncias químicas tentando viver mais. Porém, este ‘milagre’ se chama atividade física. Ela está associada à redução de pressão alta, combate ao diabetes, infarto, AVC, insuficiência cardíaca e até mesmo depressão, evita alguns tipos de câncer e ainda melhora o sono. A atividade física tem múltiplos benefícios para a saúde do ser humano”, explica Matinata.
Ele destaca que a pessoa deve fazer cerca de 150 minutos semanais de exercícios aeróbicos de moderada intensidade e associar dois dias de musculação. Se possível, tudo isso deve ser feito sob a orientação de um educador físico. “A associação do aeróbico com o anaeróbico é essencial. O aeróbico pode ser caminhada, bicicleta ou natação. O anaeróbico é importante principalmente para a população idosa, para manter a massa muscular e garantir a autonomia de locomoção”, destaca.
Segundo ele, com uma caminhada de 15 minutos a pessoa já colhe muitos benefícios. Matinata explica que a queda do hábito de exercícios entre os jovens pode ocorrer pela necessidade de jovens de baixa renda estudarem e trabalharem, o que consome a maior parte do tempo. “Aí sobra pouco tempo. Além disso, existe o tempo de locomoção para lugares às vezes distantes de sua moradia. O tempo fica escasso. A população idosa tem mais tempo e mais acesso a informações. Além disso, já testemunhou problemas enfrentados por pessoas conhecidas que eram sedentárias e tiveram algum problema, como AVC ou infarto”, conclui Matinata.
POLÍTICAS PÚBLICAS DEVEM MOTIVAR O HÁBITO – A cientista social e política Aline Zambello afirma que a pesquisa aponta elementos importantes para análise. “O crescimento do número de praticantes: ainda que estagnado nos últimos anos, há uma ampliação do número de praticantes de atividade física desde antes da pandemia, o que pode demonstrar uma preocupação com o bem-estar e com a saúde, e isso é percebido principalmente entre pessoas idosas (acima de 60 anos). Como é possível perceber, a distribuição de participantes não é homogênea; há recortes de idade, gênero e classe social, indicando disparidades no acesso a essa prática”, ressalta.
Destacam-se os jovens (até 29 anos), que têm diminuído sua participação, provavelmente por conta do acúmulo de atividades e, portanto, da falta de tempo e de acesso a lugares ou recursos financeiros para contratar esse tipo de serviço. “Outro destaque importante refere-se à questão de gênero: as mulheres, por acumularem jornada no mercado de trabalho e rotina de atividades domésticas, praticam menos atividades físicas do que os homens. Além da jornada de trabalho, a busca por espaços seguros (e frequentemente pagos) para a prática esportiva pode ser um fator bastante limitador para esse público”, comenta a socióloga.
Esses números, segundo ela, não são meras coincidências. Eles refletem barreiras estruturais. Pessoas de baixa renda e escolaridade frequentemente têm menos acesso a informações sobre saúde, menos tempo livre devido a jornadas de trabalho mais longas e exaustivas e menos recursos para custear academias ou equipamentos. A desigualdade de gênero, por sua vez, pode estar ligada à dupla jornada de trabalho (profissional e doméstica), que recai majoritariamente sobre as mulheres, e a questões de segurança nos espaços públicos.
“Portanto, a pesquisa evidencia que promover a atividade física não é apenas uma questão de campanhas de conscientização, mas também de políticas públicas que enfrentem essas iniquidades, como a criação de espaços públicos seguros e de qualidade e programas de incentivo específicos para os grupos mais vulneráveis”, adverte Aline.
De acordo com ela, o benefício dessas políticas públicas pode promover melhor qualidade de vida e economia em serviços de atendimento à saúde.