Símbolo de resistência, Flor de Maio completa 98 anos em 2026
Criado com apoio dos trabalhadores ferroviários, agremiação se firmou ao longo dos anos como espaço de cultura, lazer e fortalecimento da comunidade afrodescendente
20 NOV 2025 • POR Da redação • 17h36O Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio vai completar 98 anos no dia 4 de maio de 2026. É um clube social destinado aos afrodescendentes brasileiros. A agremiação foi fundada com o apoio dos trabalhadores ferroviários da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
A sede é tombada desde 2011 como patrimônio histórico em esfera municipal. Também consta na lista de bens de interesse histórico publicada em 2021 pela Fundação Pró-Memória de São Carlos (FPMSC).
Entre o final do século XIX e o início do século XX, houve um movimento clubista destinado a criar clubes exclusivos para sócios negros, com o objetivo de se tornarem locais de lazer para os afrodescendentes, já que essas pessoas eram excluídas de qualquer vida social em sua época. Além das atividades sociais, o Clube Flor de Maio proporcionava apoio funerário, de saúde e outras atividades. No início, previa que apenas afrodescendentes pudessem se associar e frequentar o espaço, mas, com o passar do tempo, essa exigência deixou de existir.
Em 1937, em parceria com a Prefeitura da cidade, passou a promover aulas no clube com professoras cedidas pelo município. Essa atividade durou cerca de oito anos. A partir da organização do Clube, outros movimentos foram surgindo, como o grupo teatral Rebu, o Centro de Cultura Afro-brasileira Congada e o Centro Cultural Negro Municipal.
O Flor de Maio é uma instituição de referência para estudos do movimento negro na cidade de São Carlos, por seu interesse em fortalecer a história e a tradição dos negros no município.
Nos últimos anos, o clube passou por sérias dificuldades e sua sede chegou a correr o risco de ir a leilão. A atual presidente, Adriana A. da Silva, que é educadora e atualmente conselheira tutelar, destaca que, diante da questão do leilão, algumas posições foram tomadas.
“Quando fomos citados, buscamos imediatamente a Prefeitura e realizamos um acordo de 60 parcelas no valor de R$ 2.420,80, que estamos cumprindo rigorosamente em dia. No entanto, a situação financeira do Grêmio permanece delicada: nossas despesas fixas mensais não ficam abaixo de R$ 7 mil, além dos reparos diários exigidos por um prédio que, durante muitos anos, não recebeu a devida manutenção preventiva”, ressalta Adriana.
A presidente comunica que ainda em 2025 prestará contas com seus diretores a toda a sociedade. “Ainda este ano, nossa Diretoria Executiva apresentará à comunidade a situação atualizada do clube, juntamente com os novos cursos e eventos que estamos estruturando. Apesar dos esforços, o cenário continua muito sério, e nosso Departamento Jurídico segue em busca de soluções junto à Prefeitura e ao Legislativo.”
Ela destaca que o trabalho vai continuar para que as dificuldades sejam superadas. “Seguiremos trabalhando arduamente, contando sempre com o enorme carinho que a população tem pelo Flor de Maio. Precisamos da presença ativa da comunidade nos eventos, nas redes sociais e nas iniciativas culturais para que possamos superar, juntos, as questões pendentes. Mesmo em meio às dificuldades, seguimos promovendo ações de utilidade pública gratuitas para toda a população. A vocação do Flor de Maio é construir uma sociedade mais justa, ética e antirracista, e nossas portas permanecem abertas a todas as pessoas que queiram somar.”
Adriana afirma que o Grêmio Recreativo Flor de Maio sempre foi uma referência, um espaço em que a comunidade negra se sente acolhida e representada desde sua fundação. Um clube que se aproxima de um século de existência, servindo como base de apoio, cultura, educação, lazer e resistência. Ao longo de sua história, foram inúmeros os momentos marcantes, desafios superados e conquistas celebradas. Mesmo diante do racismo persistente de uma parcela significativa da população da cidade, nenhuma manifestação cultural, social ou política do povo negro — e também do povo não negro que se identifica com o Flor de Maio — deixou de acontecer.
O momento atual, de acordo com ela, expressa essa força histórica. “Estamos ressurgindo como a fênix após um período de administração desastrosa. Hoje, um grupo jovem, liderado por uma mulher negra, assume a missão de recolocar o clube no lugar que ele nunca deveria ter deixado, com um novo perfil de gestão e atuação, mas sem jamais abrir mão da essência de representatividade e resistência que caracteriza um dos pouquíssimos clubes negros de São Paulo e do Brasil. Esse é o nosso querido Flor de Maio”, conclui.