Política do Século XIX dividiu família Arruda Botelho
Conde do Pinhal era monarquista convicto, enquanto seus dois irmãos mais novos, Bento Carlos e Paulino Carlos, foram fundadores do Partido Republicano
16 NOV 2025 • POR Da redação • 18h31Política do Século XIX dividiu família Arruda Botelho
Conde do Pinhal era monarquista convicto, enquanto seus dois irmãos mais novos, Bento Carlos e Paulino Carlos, foram fundadores do Partido Republicano
A política dividiu a família Arruda Botelho, uma das mais ricas e poderosas de São Carlos na segunda metade do século XIX. O mais velho dos irmãos, Antônio Carlos de Arruda Botelho, o Conde do Pinhal, era monarquista convicto, deputado provincial pelo Partido Liberal e apoiador de primeira hora do imperador Dom Pedro II. Já seus dois irmãos mais novos, Bento Carlos e Paulino Carlos, foram fundadores do Partido Republicano em São Carlos.
Paulino Carlos acaba se destacando mais, pois Bento Carlos morreu aos 55 anos. Após a Proclamação da República, Paulino se torna o responsável pelo governo provisório de São Carlos. Depois, ele se torna deputado constituinte na primeira eleição republicana, em 1890, e terá mais seis mandatos como deputado. Ele ainda ocupava o cargo quando morreu no início do século XX. Foi a grande liderança botelhista do final do século XIX e início do século XX.
“Não temos como afirmar que existiam conflitos entre os irmãos. Mas, naquele momento, os grandes fazendeiros, a elite rural, percebiam que o Império poderia entrar em derrocada. Temos pessoas do mesmo núcleo que foram monarquistas e depois aderiram ao movimento republicano. O Conde do Pinhal deixa de atuar politicamente, mas continua sendo uma figura muito importante. Ele já havia vendido a Companhia de Estrada de Ferro para os ingleses. Tinha um poder econômico muito grande”, comenta a historiadora da Fundação Pró-Memória, Leila Massarão.
Leila destaca que não houve grandes mudanças no cotidiano de São Carlos após a Proclamação da República. “As correntes políticas vão se rearranjar, mas as elites políticas, os donos do poder, serão os mesmos. Teremos nos anos seguintes a predominância dos botelhistas, aliados da família Arruda Botelho dentro da Câmara Municipal”, destaca.
Ela ressalta que a maioria da população não tinha o hábito de ler jornais, embora eles já existissem em São Carlos desde os anos 1870. “E muita gente da elite também não tinha o costume da leitura.”
Com o fim do Império, acaba o pacto do Estado com a Igreja Católica. “Assim, a Igreja para de fazer registros de nascimento e casamento como documentos oficiais, e São Carlos ganha seus primeiros cartórios que passam a fazer registros civis, pois a República prevê um Estado laico. Nesta época, São Carlos já era uma cidade e tinha direito a estes serviços”, comenta a historiadora.
No final dos anos 1880, a produção cafeeira salta de 66 mil arrobas de café em 1886 para 1 milhão de arrobas em 1892. O auge será em 1906, com 2,2 milhões de toneladas de café.
UM GOLPE ENTRE DUAS EPIDEMIAS – O historiador, professor e escritor Ney Vilela destaca que, no dia 15 de novembro de 1889, São Carlos estava se recuperando de um momento muito complicado: a epidemia de varíola que ocorrera nos anos anteriores.
“Mesmo assim, havia pujança econômica graças ao café e, como a abolição havia ocorrido um ano antes, São Carlos recebeu uma grande quantidade de imigrantes, principalmente italianos. Anos mais tarde, esses italianos vão ajudar São Carlos a superar a crise do café em 1930, pois traziam consigo — e isso foi passado para as gerações seguintes — habilidades com atividades industriais”, comenta Vilela.
De acordo com Vilela, São Carlos havia recebido, antes da Proclamação da República, uma ferrovia, graças ao trabalho do Conde do Pinhal, e essa ferrovia contribuiu para que a cidade recuperasse o que perdeu com a epidemia de varíola. “O pior é que cinco anos depois, em 1894, uma nova epidemia, agora de febre amarela, vai provocar um grande dano em termos humanos na cidade de São Carlos.”
Segundo ele, quanto ao apoio ao movimento republicano e à monarquia por parte da família do Conde do Pinhal, é preciso observar que essa família era importante por muitos motivos, inclusive pela diversidade de pensamentos, pelos debates que ocorriam entre eles e pelo posicionamento de participar dos movimentos políticos da época. “Não houve, no meu entendimento, uma premeditação para colocar parte da família de um lado e outra parte de outro. Os Arruda Botelho, exatamente porque tinham pensamentos variados, eram participantes — e essa é uma qualidade desse pessoal”, ressalta.
EX-ESCRAVOS CONTINUARAM SEM APOIO – Ney Vilela lembra que os afrodescendentes que viviam em São Carlos lutavam para sobreviver depois de serem alforriados no ano anterior.
“No que tange ao público escravizado, temos que constatar que não houve nenhum tipo de preocupação ou apoio ou incentivo para que essas pessoas, que saíam da situação de escravidão, pudessem encontrar alguma melhoria na qualidade de vida, mesmo considerando que, em São Carlos, os fazendeiros, de modo geral, aboliram o trabalho escravo antes da assinatura da Lei Áurea.”