Fim de ano

Comércio de São Carlos aposta em Black Friday e 13º para alavancar vendas

Expectativa é positiva, mas alto endividamento das famílias ainda preocupa o setor varejista, avaliam especialistas da ACISC; economista destaca que "data veio para ficar"

13 NOV 2025 • POR Da redação • 07h03
Região da baixada em São Carlos - SCA

O comércio varejista de São Carlos está apostando alto no crescimento das vendas em novembro, começando pela Black Friday, que neste ano será realizada na sexta-feira, 28 de novembro. Um dos motivos do otimismo é o pagamento da primeira parcela do 13º salário, previsto até o dia 30 de novembro, que cai em um domingo.

Novembro e dezembro são meses decisivos para o comércio brasileiro — um período em que as lojas físicas e plataformas digitais se preparam para um aumento significativo na movimentação de clientes e nas vendas. A combinação entre a Black Friday, o pagamento do 13º salário e as tradicionais compras de Natal gera otimismo no setor, mas o cenário ainda requer cautela diante do alto nível de endividamento das famílias.

Segundo o economista do Núcleo Econômico da ACISC, Elton Casagrande, a expansão do mercado de trabalho, ainda que com crescimento moderado nos rendimentos, ajuda a formar uma massa salarial superior à dos anos anteriores, o que tende a impactar positivamente o comércio. “O número de pessoas empregadas aumentou, e isso amplia o volume total de renda circulando na economia. Mesmo que o rendimento médio não tenha crescido tanto, o efeito agregado é favorável às vendas”, explica.

No entanto, Casagrande ressalta que o endividamento das famílias continua alto — alcançando entre 73% e 78% em algumas pesquisas — e pode limitar o poder de compra. “Embora a inadimplência esteja estável, o fato de muitas famílias estarem comprometidas com empréstimos e financiamentos concorre diretamente com o consumo. O 13º salário e as premiações de fim de ano aliviam um pouco, mas não eliminam o impacto dos juros elevados e da inflação acumulada”, pondera o economista.

DATA VEIO PARA FICAR, MAS É PRECISO CUIDADO — A Black Friday, segundo o economista Sérgio Perussi, é um fenômeno de concentração de vendas no mercado de varejo, em um dia (com variações para fim de semana, uma semana ou até o mês todo de novembro), nascido na Filadélfia, nos Estados Unidos, que se disseminou pelo mundo e parece ter vindo para ficar. Este ano marca o décimo quinto em que o evento ocorre no Brasil, com perspectiva de movimentar mais de uma dezena de bilhões de reais em vendas.

“Tornou-se um dia (ou período) em que muitos consumidores antecipam compras que tradicionalmente se davam somente na época do Natal, principalmente as de bens duráveis, como refrigeradores, eletrodomésticos, computadores, eletrônicos e outros produtos de valor mais elevado. Para o Natal, acabam ficando os produtos de menor valor e, principalmente, os presentes e itens de uso pessoal. São compras tipicamente planejadas ao longo do ano, nas quais os consumidores monitoram — ou deveriam monitorar — os preços dos produtos desejados para aproveitar os descontos oferecidos pelas lojas físicas ou pelo e-commerce”, destaca Perussi.

O economista ressalta que a data, com forte viés comercial, deve permanecer justamente por aliviar os atropelos das compras que acabam por desvirtuar o espírito natalino ligado à tradição cristã. “Agora, para que efetivamente perdure, as ofertas precisam ser reais, pois hoje, com a internet, está mais fácil comparar preços. Do lado do consumidor, a atenção deve ser redobrada para evitar ofertas e propagandas enganosas e, principalmente, golpes em compras pela internet. É fundamental verificar a confiabilidade dos sites de venda”, alerta.

Perussi também recomenda evitar ansiedade e compras por impulso — aquelas que parecem “o negócio da China”, mas que na verdade podem ser uma armadilha. “É hora de comprar com calma. Não acreditar em ofertas que impõem prazo para fechar o negócio, como avisos de ‘este preço só vale por 2 minutos’, e evitar informar números e senhas de cartões de débito/crédito ou PIX se não houver segurança. Conversar com alguém de confiança pode ajudar na decisão. E, por fim, evitar a compra de supérfluos, pois depois a conta vem — e os boletos do dia a dia continuam chegando. O ideal é comprar apenas o que realmente melhora a qualidade de vida, com cuidado para não se arrepender depois ou cair em golpes”, comenta.

BLACK FRIDAY AQUECE O VAREJO — A presidente da ACISC, entidade que representa cerca de 3.000 associados, a empreendedora Ivone Zanquim, destaca que o comércio local tem se preparado intensamente para a Black Friday, uma das datas mais aguardadas do calendário. “É uma oportunidade para atrair novos consumidores e fidelizar clientes. As lojas estão investindo em promoções, vitrines temáticas e estratégias digitais, como marketplace e redes sociais, que permitem comparar preços e ampliar o alcance das ofertas”, afirma.

Ivone também reforça a importância da presença física no comércio neste período. “Apesar do avanço das vendas online, o contato direto entre cliente e equipe de vendas continua essencial. A experiência de compra, o atendimento e o vínculo com o consumidor fazem toda a diferença — especialmente nas compras de Natal”, completa.

EXPECTATIVA POSITIVA, MAS COM CAUTELA — Para o setor varejista, o último bimestre do ano é sinônimo de esperança. “Mesmo com os desafios, há uma tendência de crescimento nas vendas, especialmente em segmentos como vestuário, calçados, eletroeletrônicos e presentes. O consumidor busca oportunidades e o comércio está pronto para recebê-lo”, avalia Casagrande.

Ainda assim, a expectativa é de crescimento moderado. “Se o aumento de faturamento vai superar o do ano passado em termos reais, descontada a inflação, ainda é uma incógnita”, conclui o economista.