Fossa Biodigestora será apresentada ao mundo como tecnologia de São Carlos
Solução para saneamento básico rural será apresentada na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30) entre 10 e 21 de novembro
6 NOV 2025 • POR • 17h42Uma das inúmeras tecnologias desenvolvidas em São Calos para melhorar a qualidade de vida será apresentada pela primeira vez num evento internacional a partir da próxima segunda-feira, 10, na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que vai ocorrer em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro.
Prestes a completar 25 anos em 2026 e depois de chegar a mais de 12 mil residências rurais em todos os Estados do Brasil, a Fossa Séptica Biodigestora - desenvolvida na Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP) - pela primeira vez será apresentada num evento internacional.
A tecnologia, que trata o esgoto das residências rurais e em áreas isoladas, estará em destaque na AgriZone, um dos principais espaços temáticos da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que vai ocorrer em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro. A tecnologia da Fossa Séptica Biodigestora está, atualmente, em 354 municípios brasileiros.
Em entrevista exclusiva ao SÃO CARLOS AGORA, o pesquisador da Embrapa Instrumentação, Wilson Tadeu Lopes da Silva, que estará na COP 30, juntamente com o chefe feral da unidade, José Manoel Marconcini, afirma que apenas 30% das residências rurais têm acesso ao saneamento básico rural. Ele destaca que o grande objetivo é distribuir a tecnologia das Fossas Sépticas Biodigestoras em todo o país através de parcerias com empresas que possam operacionalizar a sua produção e implantação. “Até agora existe uma empresa licenciada. Mas geralmente são empresas pequenas. Para uma expansão maior teríamos que ter empresas de maior porte interessadas no projeto”, comenta ele.
Silva afirma que é um grande orgulho representar São Carlos num evento tão importante. “É muito bom poder apresentar este trabalho. A pesquisa básica é algo fundamental. Mas também é muito importante podermos aplicar uma tecnologia desenvolvida em São Carlos que pode influir diretamente na qualidade de vida das pessoas”, completa ele.
Durante a COP, os visitantes poderão ver de perto como a pesquisa científica aplicada pode gerar soluções práticas sustentáveis, essenciais à agricultura de baixa emissão de carbono, que redesenham o cotidiano de comunidade rurais. As tecnologias sociais para saneamento básico rural estão instaladas desde 2018 no Núcleo de Responsabilidade Socioambiental (Nures) na AgriZone, área dentro da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém.
POTENCIAL INTERNACIONAL- “O saneamento rural proposto pela Embrapa está ligado fortemente aos aspectos da adaptação às mudanças climáticas pelo reúso agrícola seguro dos efluentes tratados e redução dos impactos sociais de populações vulneráveis, pelo tratamento do esgoto”, afirma o pesquisador Wilson Tadeu Lopes da Silva, responsável pelo sistema de saneamento básico rural.
Ele ressalta que a Fossa Séptica Biodigestora, junto com o Jardim Filtrante – que trata a água das pias, tanques e chuveiros nas de quem mora no campo - têm potencial para utilização em países emergentes tropicais da África, América Latina e Caribe, sul da Ásia e norte da Oceania. “Esperamos que a COP 30 seja a vitrine para esse salto da tecnologia”, acrescenta o pesquisador.
SISTEMA BENEFICIA MEIO AMBIENTE - Sílvio Araújo, analista da Embrapa Amazônia Oriental, com 17 anos de atuação na área de Transferência de Tecnologia e Responsabilidade Socioambiental, conta que, desde a instalação da Fossa Séptica Biodigestora, cerca de 88 mil litros de esgoto deixaram de ser despejados no meio ambiente. Além desta unidade, mais quatro estão sendo instaladas na Agrizone, três delas para demonstração durante a COP 30.
“Antes da instalação dessas tecnologias, o esgoto doméstico e as águas cinzas eram direcionados para fossas rudimentares de concreto, sem tratamento adequado. Esse sistema favorecia a infiltração de efluentes no solo e o risco de contaminação do lençol freático”, relata o analista.
Araújo diz que a implantação da tecnologia trouxe benefícios ambientais e operacionais expressivos, entre eles, redução significativa de odores e eliminação de contaminação direta do solo e da água subterrânea.
Além da demonstração das tecnologias, o pesquisador Wilson Tadeu vai participar de mesa-redonda no dia 10, às 17 horas, no Espaço Arena, para falar como o Saneamento Básico proposta pela Embrapa pode contribuir para o Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana (PNAUP), instituído, entre outros, pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
PLATAFORMA DE IA MEDE TEOR DE CARBONO- A Plataforma de Inteligência Artificial (IA) AGLIBS - desenvolvida em parceria com a agfintech Agrorobótica - que integra diferentes softwares e sensores avançados, que realiza a digitalização do solo e das atividades agrícolas, também será apresentada na AgriZone.
Embasada na técnica de espectroscopia de emissão por plasma induzido por laser (LIBS, na sigla em inglês), a mesma que a agência espacial norte-americana (Nasa) embarcou nos robôs para avaliação do solo do Planeta Marte, a Plataforma é capaz de analisar cerca de 1,2 mil amostras de solo diariamente, com precisão, e mais de 20 parâmetros do solo, incluindo o carbono.
“A técnica LIBS usa pulsos laser de alta energia para criar um microplasma na superfície da amostra, e assim, determinar a sua composição química com precisão e rapidez e de forma limpa, sem uso de resíduos químicos”, esclarece a coordenadora do Laboratório Nacional de Agro-Fotônica, Débora Milori.
A tecnologia permite financeiramente medir, reportar, verificar e comercializar (MRVC) o crédito de carbono no mercado voluntário internacional. Essas etapas são fundamentais para execução de planejamento climático, redução das emissões dos gases do efeito estufa (GEE) e combate ao aquecimento global.
O sistema de funcionamento da Fossa Séptica Biodigestora:
Divulgação/Agrinatus