Catedral completa 68 anos e substitui a antiga capela, construída pelos barões do café
Principal e maior santuário católico da região, Catedral completará 68 anos de sua inauguração neste 4 de novembro
1 NOV 2025 • POR Marco Rogério Duarte • 15h27Em 4 de novembro de 1857, a família Arruda Botelho, comandada pelo irmão mais velho, Antonio Carlos, o futuro Conde do Pinhal, levou a imagem de São Carlos Borromeu da Fazenda Pinhal até o centro de São Carlos do Pinhal, onde foi rezada a primeira missa. Tal fato marca a fundação da história oficial do burgo e demonstra o quanto a religião e o poder político estavam umbilicalmente ligados.
O local onde seria erguida a igreja foi reservado em 1851 por Carlos José Botelho, o Botelhão, proprietário da Sesmaria do Pinhal, que havia sido demarcada em 1831. A capela começou a ser construída em 1856. Jesuíno de Arruda forneceu a madeira. O edifício, bastante simples, foi erguido pelo carpinteiro Inácio José de Ávila, o Inacinho, que também forneceu as telhas. As paredes foram rebocadas por escravos.
O Código de Posturas de 1873, o segundo da história da Câmara Municipal de São Carlos do Pinhal, criou um imposto que poderia ser chamado de “Taxa da Capela”.
O tributo incidia sobre os produtores de café, que deveriam pagar 50 réis por arroba do produto vendida. Caso não o fizessem, seriam multados em 20$000, além de obrigados a recolher a taxa aos cofres públicos. O imposto perdurou por muito tempo, até a conclusão do templo.
Em 1886, o advogado Dr. Procópio de Toledo Malta decidiu enfrentar o desafio de construir uma igreja de tijolos. A singela construção de madeira envergonhava os barões do café, que erguiam enormes casarões nas imediações.
O serviço de carpintaria ficou a cargo de Francisco da Costa Mattoso. Os cultos continuaram sendo realizados, e as antigas estruturas de madeira só eram retiradas quando as de tijolos estavam prontas.
Em 1908, o Papa Pio X elevou São Carlos a arquidiocese e criou mais cinco dioceses em seu território: Taubaté, Campinas, Ribeirão Preto, Botucatu e São Carlos do Pinhal.
A escolha da cidade para sediar um dos novos bispados impôs novos desafios, fruto de cinco décadas de bons serviços prestados. Era um novo degrau na importância apostólica e na hierarquia eclesiástica.
Dom José Marcondes Homem de Mello tornou-se o bispo residente de São Carlos. Antes disso, em 1907, a paróquia conseguiu, por meio da política, recursos para a construção da Casa Episcopal. A Câmara Municipal, de maioria botelhista, contribuiu com 30 contos de réis. A antiga Matriz passou então a ser a Sé Episcopal.
A última tentativa de dar melhor apresentação exterior à igreja foi feita em 1918. A missão ficou a cargo do italiano Bruno Giongo. Toda a fachada do templo foi demolida, entre outras mudanças.
Trinta anos depois, em 1948, o bispo Dom Ruy Serra decidiu construir a Catedral no mesmo local onde nascera a cidade. A demolição começou em 1949, e a tão sonhada catedral foi inaugurada em 1957, durante as comemorações do centenário de São Carlos.
De acordo com o historiador Ary Pinto das Neves, a demolição do antigo prédio marcava o fim de um ciclo histórico e o início de outro, que perdura até os dias atuais. “A impiedosa picareta demolidora do progresso começou a pôr abaixo o velho templo onde gerações de são-carlenses batizaram-se, casaram-se e se encomendaram para a eternidade.”
Mudança de local — Houve muita polêmica quanto à localização da construção da Catedral de São Carlos. O bispo Dom Gastão, de temperamento enérgico, decidiu que a nova Catedral seria erguida na Vila Pureza, na parte mais alta da colina central, onde hoje está a Praça Cristiano Altenfelder Silva, chegando inclusive a colocar ali a pedra fundamental.
A resistência popular, porém, foi tão grande que o projeto não foi levado adiante até a morte do bispo, ocorrida de forma súbita em 24 de outubro de 1945. Coube ao seu sucessor, Dom Ruy Serra, atender aos anseios da população e determinar a construção da catedral no mesmo local original.