SÃO CARLOS 168 ANOS

Sindicalismo nasceu com sotaque europeu

Com o avanço das fábricas e a criação de uma classe operária, cresceu também o conceito de proletariado e de reivindicação

31 OUT 2025 • POR Marco Rogério Duarte • 16h37

“(...) Depredações levadas a efeito na noite de 18 para 19 de janeiro último, nos km 201 e 208 das linhas telegráficas, telefônicas, do seletivo e do staff, e deslocamento do poste de eletrificação nº 15, do km 199 da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sendo mandante Núncio Soares da Silva e mandatários diretos Antônio Rua, Pedro Martins, Mário Costa Alves, Pedro Moreira, José Martins Jr. e João Quintana.”

A edição do Correio de São Carlos, que circulou no dia 20 de janeiro de 1934, noticiava a greve promovida pelo Sindicato dos Ferroviários da Companhia Paulista de São Carlos, o primeiro dessa categoria no Brasil. O periódico também não economizava ao atribuir cores ideológicas ao movimento paredista, classificando-o como anticapitalista.

Os trabalhadores reivindicavam a readmissão dos ferroviários exonerados após a organização do sindicato, aumento de salários e a recondução de um operário como delegado da classe junto à diretoria da estrada.

A verdade é que os imigrantes italianos, que chegaram aos milhares a São Carlos, não trouxeram apenas a tarantela, a pizza e o macarrão. Em suas bagagens, atravessaram o mar também as ideias anarquistas e de reivindicação, já em pauta há bastante tempo na Europa. Com o avanço das fábricas e a criação de uma classe operária, cresceu também o conceito de proletariado e de reivindicação.

A primeira greve de que São Carlos tem notícia havia sido deflagrada 17 anos antes, em 1917, na Fiação e Tecidos São Carlos. Em seguida, foram os motorneiros da Companhia de Bondes que cruzaram os braços no mesmo ano. Em 1919, foi a vez da Fábrica de Fiação e Tecidos Magdalena enfrentar uma paralisação de trabalhadores. Os ferroviários promoveram pelo menos três grandes greves: uma em janeiro de 1934, outra em 1937 e mais uma em 1959.

Pelo Decreto nº 8.999, de 12 de outubro de 1937, do Dr. Agamenon Magalhães, Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, foram reconhecidos cinco novos sindicatos na cidade: o Sindicato dos Operários Metalúrgicos de São Carlos, o Sindicato dos Operários da Fiação e Tecelagem de São Carlos, o Sindicato dos Operários na Indústria de Madeira e Similares de São Carlos, o Sindicato dos Empregados em Tração, Luz e Força de São Carlos e o Sindicato dos Operários em Fabricação de Cola e Adubos de São Carlos.

O Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Carlos e Ibaté surgiu em 1961. No livro Matizes de uma Luta, o advogado José Roberto de Andrade Paino afirma que as reuniões que gestaram a entidade sindical eram realizadas nos porões da Catedral, com as bênçãos do padre Antônio Tombolato.

Em 1968, o sindicato teve seu grande embate na luta dos trabalhadores do Frigorífico São Carlos do Pinhal pelo recebimento de seus direitos. A empresa, da família Fialdini, não pagava os salários de seus 460 funcionários havia meses. Uma passeata foi reprimida pela Ditadura Militar, e São Carlos foi cercada pelas forças armadas, sendo que vários líderes do movimento foram presos.

Em 1995, a Companhia Brasileira de Tratores (CBT), do empresário Mário Pereira Lopes, faliu e não pagou os funcionários. Eles se organizaram em uma cooperativa que conseguiu, por meio da Justiça, a adjudicação de alguns bens da empresa para receber parte de seus direitos trabalhistas.

Mas a história sindical de São Carlos também guarda um crime brutal, covarde — e um mistério digno de Sherlock Holmes: afinal, quem, no dia 12 de junho de 1994, matou os diretores do Sindicato dos Trabalhadores da UFSCar, José Luís Sundermann e Rosa Sundermann?

No dia 12 de outubro de 1996, foi inaugurada em São Carlos a fábrica de motores da Volkswagen. Das comissões de fábrica da empresa nasceu um novo núcleo de metalúrgicos organizados. Esse movimento resultaria na vitória da CUT nas eleições do Sindicato dos Metalúrgicos, em 2010, marcando o início de uma nova fase sindical na cidade.