Médico de São Carlos alerta para ondas de calor, que matam mais de 500 mil por ano
Cerca de 546 mil pessoas morrem por ano em todo o mundo por causa do calor e, apenas em 2024, outras 154 mil mortes foram provocadas pela fumaça dos incêndios florestais.
30 OUT 2025 • POR Da redação • 14h04O médico cardiologista da Santa Casa de São Carlos, Vicente Matinata, alerta para os perigos das ondas de calor, que matam até meio milhão de pessoas por ano em todo o planeta. Ele explica que os principais riscos para a saúde cardiovascular durante esses fenômenos são a hipotensão, que leva à tontura e turvação visual, e a desidratação, que pode causar arritmia, desmaio, cefaleia, fraqueza, câimbra e confusão mental. “Além disso, pode ocorrer o aumento da viscosidade sanguínea, que pode causar infarto do miocárdio e AVC”, alerta ele.
De acordo com o especialista, o calor excessivo afeta a pressão arterial e a espessura do sangue, causando vasodilatação e desidratação, com aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial para manter a perfusão.
Matinata explica que os cuidados práticos para amenizar os efeitos do calor são a hidratação (beber água mesmo sem sede), o consumo de sucos e frutas, além de evitar locais quentes e permanecer sob o sol entre 10h e 16h. Recomenda ainda buscar locais ventilados e evitar aglomerações.
Ele orienta também o uso de roupas leves e frescas, chapéus, refeições leves, evitar bebidas alcoólicas e outros diuréticos, além de não deixar crianças e animais em veículos estacionados.
Em casos de desconforto durante calor intenso, a pessoa deve buscar assistência médica após aferir a pressão arterial, manter-se hidratada, em ambiente fresco e, se possível, tomar banho. Deve-se procurar atendimento em casos de palpitação, dor no peito, fraqueza unilateral ou dificuldade para falar.
Dor no peito que irradia para o braço, costas ou queixo, tontura ou dor de cabeça inesperada, batimento cardíaco acelerado e confusão mental são sinais de alerta nos dias de calor excessivo. “É necessário um cuidado especial em casos de idosos e crianças”, destaca Matinata.
MEIO MILHÃO DE MORTES – Cerca de 546 mil pessoas morrem por ano em todo o mundo por causa do calor e, apenas em 2024, outras 154 mil mortes foram provocadas pela fumaça dos incêndios florestais. Esses são alguns dos alertas do relatório Contagem Regressiva em Saúde e Mudanças Climáticas, elaborado por mais de cem cientistas de diversos países para a revista The Lancet, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Publicado nesta quinta-feira, 29 de outubro, na Inglaterra, o documento pretende se antecipar à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que começa no dia 10 de novembro, em Belém, no Pará. O relatório apela por uma redução consistente do uso de combustíveis fósseis e das emissões de gases de efeito estufa, além de adaptações que minimizem seus efeitos sobre a população.
"Com os impactos das mudanças climáticas aumentando, a saúde e a vida dos 8 bilhões de habitantes do mundo estão agora em risco", enfatizam os cientistas.
O texto lembra que 2024 foi o ano mais quente da história, o que fez com que 12 dos 20 indicadores que monitoram os riscos à saúde relacionados às mudanças climáticas atingissem níveis sem precedentes. Entre 2020 e 2024, as pessoas foram expostas a ondas de calor em 19 dias por ano, em média, e 16 deles não teriam ocorrido se não fosse o aquecimento global.
BRASIL E AMÉRICA LATINA – A revista também divulgou um compilado de dados do Brasil. No período de 2020 a 2024, ocorreram 7,7 mil mortes anuais associadas à fumaça dos incêndios florestais. Estima-se também outras 3,6 mil mortes por ano no país relacionadas ao calor, considerando o período de 2012 a 2021. Os pesquisadores calcularam ainda que a população brasileira foi exposta, em média, a 15,6 dias de onda de calor, sendo que 94% deles não teriam acontecido sem as mudanças climáticas.
Além disso, o relatório aponta que a proporção de terras que experimentaram pelo menos um mês de seca extrema por ano chegou a 72% no período de 2020 a 2024 — quase dez vezes mais do que o observado nas décadas de 1950 e 1960.
Foi lançada ainda uma publicação sobre a América Latina, alertando que a temperatura média da região tem crescido de maneira constante desde os anos 2000, alcançando um recorde de 24,3 °C em 2024. Com isso, as mortes relacionadas ao calor chegam a 13 mil por ano.
Apesar disso, o relatório manifesta esperança nas negociações internacionais, ressaltando que “construir um futuro resiliente exige transformar fundamentalmente nossos sistemas de energia e reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis”.
A publicação destaca também que a adaptação “não é mais opcional, mas sim uma necessidade essencial e inegociável”, para que se possa “reduzir os riscos climáticos, aumentar a resiliência e enfrentar as desigualdades socioeconômicas existentes”.
"À medida que se aproxima a COP30 em Belém, o Brasil desponta como um farol de esperança e transformação, com uma oportunidade única de liderar ações de adaptação e mitigação climática que priorizem a saúde, promovendo o desenvolvimento sustentável e o bem-estar para todos", afirma o documento. (Com informações da Agência Brasil)