Para economista são-carlense, aplicativos são "válvulas de escape" no mercado
Em 2022, os trabalhadores por meio de aplicativos eram 1,5% dos 85,6 milhões de ocupados, proporção que alcançou 1,9% dos 88,5 milhões em 2024
21 OUT 2025 • POR Da redação • 06h54O número de pessoas que trabalham por meio de aplicativos cresceu 25,4% em 2024, na comparação com 2022. Nesse intervalo, o contingente de trabalhadores nessa condição passou de 1,3 milhão para quase 1,7 milhão, um acréscimo de 335 mil pessoas.
Em 2022, os trabalhadores por meio de aplicativos representavam 1,5% dos 85,6 milhões de ocupados, proporção que alcançou 1,9% dos 88,5 milhões de ocupados em 2024.
Os dados fazem parte do módulo sobre trabalho por meio de plataformas digitais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O economista Sérgio Perussi vê esse tipo de ocupação como uma válvula de escape para quem não deseja enfrentar processos seletivos ou concursos públicos. Por outro lado, ele ressalta a “precarização” de um tipo de trabalho sem grande rentabilidade, direitos trabalhistas ou garantias.
“Observa-se um aumento significativo de pessoas trabalhando vinculadas às plataformas de aplicativos de transporte. Ao mesmo tempo em que permite uma renda razoável, também mostra a precarização que esse tipo de emprego traz: renda achatando em comparação a anos anteriores, informalidade em muitos casos, ausência de contribuição ao INSS e uma série de outros fatores que irão impactar o futuro desses trabalhadores”, adverte.
Perussi também destaca que chama a atenção o fato de, segundo os responsáveis pela pesquisa, haver um aumento de profissionais com educação superior migrando para esse tipo de ocupação, o que reforça o cenário de precarização do trabalho.
“Trata-se de um trabalho digno, mas com seus problemas, como o sedentarismo e as implicações à saúde, além da perda de oportunidade de usar o intelecto em atividades mais nobres”, observa o economista.
Segundo ele, do ponto de vista do estímulo ao trabalho, trata-se de uma atividade sem barreiras de entrada, o que significa ser mais fácil assumir esse tipo de ocupação do que enfrentar processos seletivos públicos ou privados. “Isso acaba se tornando uma válvula de escape para se arrumar uma ocupação, mesmo que a renda obtida seja muito justa diante do custo de vida”, acrescenta.
RENDA MAIOR, JORNADA MAIOR
As pessoas que trabalharam por meio de aplicativos em 2024 tiveram rendimento médio mensal de R$ 2.996, valor 4,2% superior à renda de trabalhadores que não atuavam por plataformas (R$ 2.875).
Essa diferença, no entanto, já foi maior: em 2022, o rendimento dos trabalhadores por plataformas superava o dos demais ocupados em 9,4%.
O levantamento mostra que, embora o rendimento médio seja mais alto, esses trabalhadores precisam trabalhar mais horas.
Em 2024, os chamados “plataformizados” apresentaram jornada média de 44,8 horas semanais, enquanto os não plataformizados trabalharam 39,3 horas.
Dessa forma, o IBGE constatou que, apesar da renda superior, os trabalhadores por aplicativo recebiam R$ 15,4 por hora, valor 8,3% inferior ao dos não plataformizados (R$ 16,8/hora).
Ou seja, quem atua por meio de aplicativos precisa trabalhar mais para superar a renda dos demais ocupados.