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"Bolsonaro precisa de uma punição pedagógica", diz Ivan Valente em São Carlos

Deputado federal pelo PSOL afirma que ex-presidente Jair Bolsonaro dividiu as Forças Armadas e que o Brasil rompeu, pela primeira vez, com a tutela militar e a impunidade para golpistas

20 OUT 2025 • POR Da redação • 16h49
O deputado federal Ivan Valente: mais de R$ 17 milhões em emendas para São Carlos e presente no debate dos grandes temas nacionais - SCA

Presente em São Carlos para receber o título de "Cidadão Honorário de São Carlos" na noite desta segunda-feira, 20 de outubro, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) destaca a figura do vereador Djalma Nery (PSOL), autor da homenagem. Valente destinou mais de R$ 17 milhões em emendas parlamentares para instituições de São Carlos, inclusive a UFSCar e o Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Nesta entrevista, ele fala dos desafios da esquerda e defende uma punição exemplar para o ex-presidente Jair Bolsonaro após a frustrada tentativa de golpe. "O Bolsonaro tá chorando? Ele defendeu cadeia para todo mundo, ele defendeu ditadura, ele defendeu tortura. Não aceito que o Bolsonaro fique como o Collor (ex-presidente Fernando Collor de Mello), que está em um apartamento de cobertura de frente para as praias lindas de Alagoas, e o Bolsonaro morando em uma mansão o dia todo. Não, isso não pode acontecer", afirma.

SÃO CARLOS AGORA Como o senhor recebe o título de Cidadão Honorário de São Carlos?
IVAN VALENTE É muito honroso e um privilégio. Ainda mais quando este título é reconhecido por unanimidade, em proposta apresentada pelo vereador Djalma Nery, futuro deputado. Essa honrosa homenagem nós respondemos com a continuidade do trabalho que vimos fazendo por São Carlos, pelo povo da cidade, pelas instituições locais na área da saúde e da educação. Para nós, é uma honra receber este prêmio. Vamos ver se somos merecedores disso.

SCA Como o senhor vê a pré-candidatura do vereador Djalma Nery a deputado estadual pelo PSOL?
VALENTE O Djalma Nery é, pela segunda vez, o vereador mais votado de São Carlos. E isso não é pouca coisa. A eleição municipal é uma eleição que pulveriza muito a captação de votos. Então, numa cidade do tamanho de São Carlos, quase 5 mil votos é uma votação muito expressiva e revela uma grande capacidade de trabalho e articulação. Todo o trabalho que ele está fazendo aqui, nos Institutos Federais, na UFSCar, no Hospital Universitário, mostra os tentáculos que ele criou e a respeitabilidade que conquistou na cidade. É por isso que ele é um forte candidato a deputado estadual, com grandes chances de representar São Carlos na Assembleia Legislativa de São Paulo. Tenho certeza de que ele é capaz de voar não só com a votação de São Carlos, que será expressiva, mas também com boa votação em todo o Estado de São Paulo, porque ele é ligado a diversas áreas, como saúde, educação, meio ambiente e outras. Tenho muita fé de que ele chegará à Assembleia Legislativa.

SCA O presidente Lula disse, na semana passada, que a esquerda errou ao se afastar das ruas e do povo em geral. O senhor concorda que, por esse motivo, a esquerda perdeu espaço para a extrema direita?
VALENTE Concordo. O papel da esquerda é se conectar com todos os de baixo, todos os explorados, todos os oprimidos, e também com as demandas populares, sem elitizar a participação. Mas nem sempre é possível que isso aconteça, pois existe uma disputa na sociedade. Nos últimos dez a doze anos, temos uma disputa com a extrema direita, que vive um crescimento mundial, inclusive através das redes sociais, das fake news e assim por diante. É claro que precisamos nos reorganizar, sintonizados com as mudanças na sociedade, no consumo, na produção, no mundo do trabalho e tal, e não tratar ninguém com soberba. É o que Lula diz, por exemplo, sobre a ligação com os evangélicos, que foram, de certa forma, cooptados pelo bolsonarismo e não deveriam, porque não são pessoas de grande posse. Então, é uma advertência importante, mas que faz parte da luta de classes. Quem é de esquerda autêntica, que luta pela liberdade, pela democracia, pela construção de um Brasil livre e soberano, tem que estar muito atento a todas as demandas populares.

SCA Recentemente, o ex-ministro José Dirceu disse que Bolsonaro não pode ser preso em uma cela comum, até pela idade que tem. O senhor concorda com ele?
VALENTE Quero falar da condenação do Bolsonaro. Nós tivemos um julgamento no Supremo Tribunal Federal que é histórico. Colocar o Bolsonaro na cadeira, depois de ele não conseguir dar o golpe de Estado, mostrou que a tutela militar não foi capaz de não se dividir. Ele dividiu as Forças Armadas e, pela primeira vez, nós acabamos com a tutela militar. Combatemos a tutela militar e combatemos a impunidade. Ele achou que ia escapar de tudo isso com os generais e etc. Segunda questão: o Bolsonaro tá chorando? Ele defendeu cadeia para todo mundo, ele defendeu ditadura, ele defendeu tortura. A ideologia dele é a seguinte: bandido bom é bandido morto, mas bandido amigo meu é solto. Não dá. Se o preso tiver problema de saúde, a Justiça vai possibilitar tratamento. Nesta questão, não concordo com o Zé Dirceu. Quando o Lula foi preso, tinha mais de 70 anos e ficou um ano e meio preso. Não aceito que o Bolsonaro fique como o Collor, em um apartamento de cobertura de frente para as praias lindas de Alagoas, e o Bolsonaro morando em uma mansão o dia todo. Não, isso não pode acontecer. Ele precisa sofrer algum tipo de punição que apareça para a população como educativa e pedagógica. Ele terá direito à defesa, à progressão de pena e ao tratamento de saúde necessário. Mas a cadeia pública, para ele, neste momento, de alguma forma, é algo educativo para a sociedade brasileira.

SCA O que o senhor pensa das escolas cívico-militares?
VALENTE Sou radicalmente contra militarizar o ensino público. Isso é um erro crasso. E não só isso: é deturpar a ideia de escola. A escola é um espaço de socialização das crianças, de democracia, de liberdade. Uma coisa são os colégios militares, que já existem há décadas e formam militares e familiares de militares. Agora, militarizar a escola pública, não. Colocar tutores militares substituindo professores com dinheiro público, usando verbas da educação, é um erro grave. A militarização traz para as escolas mais violência. Sou radicalmente contra e espero que o Supremo Tribunal Federal (STF) e as justiças estaduais barrem essa ideia, pois é algo muito ruim para a sociedade brasileira.