VW São Carlos completa 29 anos e consolida classe média operária
A média salarial conquistada pelos metalúrgicos da fábrica de motores está entre as 15% maiores do país
13 OUT 2025 • POR Da redação • 15h08Completaram-se, neste domingo, 12 de outubro, 29 anos da inauguração da fábrica de motores da Volkswagen de São Carlos. Depois de muitas controvérsias, o então prefeito Rubens Massúcio Rubinho, em seu último ano de governo e em um de seus últimos atos como prefeito, comandou a inauguração da planta ao lado do então governador Mário Covas, do então secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Emerson Kapaz, e do deputado estadual Lobbe Neto, entre outros.
A inauguração foi o símbolo da vitória de São Carlos na guerra fiscal que disputou com vários outros municípios do país pelo investimento da multinacional alemã. A cidade havia acabado de perder a fábrica de caminhões para Resende (RJ), mas acabou conquistando a planta montadora de motores.
A fábrica, aos poucos, dinamizou a economia da cidade e acendeu uma nova chama no sindicalismo. Um grupo de jovens vindos das plantas de montadoras do ABC Paulista começou a gerar um novo tipo de negociação a partir das comissões de fábrica. Esse processo resultou na vitória da CUT em 2010 na disputa eleitoral para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos e Ibaté, o mais forte e importante da cidade.
Trabalhador da VW desde o início desse processo, o metalúrgico e cientista social formado pela UFSCar, hoje presidente da FEM/CUT (Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo), Erick Silva tem toda a sua vida construída a partir da mudança para São Carlos e do crescimento da fábrica de motores. Nesta entrevista exclusiva, ele nos conta um pouco dessa história.
SÃO CARLOS AGORA – O que representou a instalação da VW para a economia de São Carlos?
ERICK SILVA – Creio que o resultado econômico para a cidade consiste nos salários, PLRs e benefícios, tanto dos trabalhadores diretos quanto dos prestadores de serviço na planta e na cidade.
A empresa até hoje não recolhe ICMS ou IPI na cidade, envia os motores para as plantas montadoras e fatura tudo nos carros prontos, deixando os tributos nas cidades de São Bernardo, Taubaté ou São José dos Pinhais, no Paraná. Esse é um problema que o governo do Estado nunca resolveu.
SCA – Como trabalhadores com novas ideias mudaram o sindicalismo local?
ERICK – Muitos de nós viemos do ABC e, como eu, crescemos nas décadas de 70 e 80, quando um metalúrgico em montadora tinha dificuldade para comer, morar, enfim, sustentar a si e à sua família. Vimos o sindicato transformar a vida das pessoas com greves desde a histórica de 1978.
Podemos dizer que, quando chegamos, em 1996, a condição era mais ou menos como em 1978 no ABC. Foi um choque, assim como a atuação dos sindicatos. Tudo isso contribuiu para a construção da oposição metalúrgica e a transformação do sindicato com a vitória da CUT em 2010.
SCA – Como, pagando melhores salários, a VW mexeu com esse mercado, provocando um aumento na renda do trabalhador?
ERICK – A VW, em 1996, pagava menos do que a Tecumseh, Electrolux e Faber. Muitos trabalhadores, principalmente os semiespecializados, não aceitavam trabalhar na VW por conta dos salários. Essa deve ter sido a razão principal de a empresa contratar mão de obra no ABC e na Grande São Paulo, na maioria das vezes indicada pelo pessoal que já trabalhava na fábrica.
Os salários só começaram a mudar, chegando ao que são hoje, a partir da primeira greve de 1999.
SCA – Podemos dizer que a VW criou uma classe média operária em São Carlos?
ERICK – A média salarial conquistada pela companheirada da VW está entre as 15% maiores do nosso país. Depois da transformação do sindicato dos trabalhadores, boa parte da base também se organizou para melhorar salários e benefícios. É seguro afirmar que hoje o poder de compra de uma metalúrgica ou de um metalúrgico se enquadra acima do que é entendido como classe média.
SCA – E na tecnologia? Como a VW foi e é importante para São Carlos?
ERICK – A tecnologia aplicada na produção de motores na fábrica está entre as mais avançadas do mundo, tanto em processo quanto em produto. O nível de qualidade que os trabalhadores desenvolveram já conquistou diversas menções dentro do grupo. A preocupação sempre é ampliar a participação de São Carlos no desenvolvimento e pesquisa; temos plenas condições para isso, considerando as universidades e centros de pesquisa.
SCA – O senhor já disse que a eletrificação salvou a planta da VW de São Carlos. Até quando ela estará completa?
ERICK – O acordo coletivo negociado e assinado pelos sindicatos há dois anos garante a produção de motores para os novos modelos eletrificados, além de um centro de pesquisa sobre eletrificação. Esse acordo é resultado do trabalho conjunto das quatro plantas no Brasil e também abrange a produção de carros híbridos, o que garante a longevidade da fábrica.
SCA – Como o carro elétrico vai mudar a história da indústria brasileira?
ERICK – Certamente temos uma oportunidade de protagonismo da indústria brasileira com nossa base de energia limpa e renovável.
O trabalho que desenvolvemos na FEM-CUT/SP, a partir de 2021, com o projeto “Híbrido Etanol – O Motor do Futuro”, em parceria com VW, Toyota, Unica e vários outros participantes, apontou esse caminho.