"A gente vai procurar justiça", afirma viúva após tragédia na Washington Luís
"Foi tudo muito rápido, não deu tempo de raciocinar. Não tinha sinalização, nem bombeiros. A árvore caiu em chamas sobre o carro", relata Nathielly Araújo Souza Belarmine, sobrevivente do acidente.
9 OUT 2025 • POR Da redação • 14h41A jovem Nathielly Araújo Souza Belarmine, de 24 anos, voltou nesta semana ao convívio familiar em Taquaritinga, após receber alta hospitalar. Ela foi sobreviveu ao trágico acidente ocorrido no último domingo (5), na Rodovia Washington Luís (SP-310), entre Araraquara e Taquaritinga, que resultou na morte de seu marido, o músico Rafael Belarmine, de 35 anos.
O casal havia se casado há apenas dez dias e retornava da lua de mel no litoral paulista, quando um tronco de árvore em chamas caiu sobre o carro em que estavam, no quilômetro 264 da rodovia. Rafael ficou preso às ferragens e morreu ainda no local. Nathielly foi socorrida com ferimentos leves e encaminhada à Santa Casa de Araraquara, onde passou por exames e foi liberada.
“Não tinha sinalização, nem bombeiros”
Em entrevista concedida ao jornalista Auro Ferreira, em sua residência, Nathielly contou detalhes da tragédia e denunciou a falta de sinalização e de equipes de emergência no local, mesmo com o fogo que já se alastrava desde o início da tarde.
“A gente estava voltando do Guarujá, tudo bem até chegar em Araraquara. Eu vi depois do acidente que estava tudo muito queimado perto das árvores, mas antes não dava pra ver. Tinha uma árvore muito grande, tampando a que iria cair. Não tinha nada sinalizado, nem corpo de bombeiros. Quando a gente passou, eu vi a árvore cair em cima da gente”, relatou emocionada.
O impacto fez o carro capotar e deslizar até o acostamento. Mesmo ferida, Nathielly conseguiu agir:
“O carro capotou, e aí eu puxei o freio de mão para ele parar. A árvore caiu e começou a pegar fogo, cobriu a pista inteira. Eu consegui colocar metade do corpo pra fora pra pedir ajuda, e o pessoal do outro lado da pista veio socorrer.”
“Foi tudo muito rápido”
A jovem contou que o casal estava a menos de uma hora de chegar em casa, e que tudo aconteceu de forma repentina:
“Foi algo muito rápido, não deu tempo de raciocinar, de nada. Eu vi tudo. O Rafael perdeu o controle do carro quando a árvore caiu, e infelizmente ele não resistiu.”
"Fogo já durava horas"
De acordo com Nathielly, o incêndio na vegetação próxima à pista já durava horas antes do acidente.
“As pessoas que passaram por ali disseram que o fogo já estava se espalhando desde a uma hora da tarde. Acho que a árvore caiu porque já estava toda queimada por dentro.”
“Vamos buscar justiça”
Abalada, mas firme, Nathielly afirmou que a família pretende processar a concessionária responsável pela rodovia, alegando negligência na manutenção e falta de segurança no trecho.
“A gente vai procurar justiça. Não tinha sinalização, ninguém avisando sobre o fogo, nada. O que aconteceu com o Rafael poderia ter sido evitado.”
“Agora é tentar seguir e se fortalecer”
Mesmo ferida — com machucados no ombro, cabeça e pernas —, Nathielly afirma que tenta encontrar forças ao lado da família.
“É um momento muito difícil para todos nós, mas estamos tentando ficar unidos para que um fortaleça o outro. Agora é aguardar e buscar justiça por ele.”
O corpo de Rafael Belarmine foi velado na noite de segunda-feira (6) na Câmara Municipal de Taquaritinga, e o sepultamento ocorreu na manhã de terça (7), sob forte comoção.
O QUE DIZ A ECOVIAS ECONOROESTE
A Ecovias Noroeste Paulista, concessionária do grupo EcoRodovias, manifesta profundo pesar pelo falecimento ocorrido em decorrência do acidente registrado no último dia 5 de outubro, na Rodovia Washington Luís (SP-310), em Araraquara.
Diante das informações divulgadas por alguns veículos de comunicação, a concessionária esclarece que todas as medidas de segurança e atendimento foram adotadas imediatamente, seguindo rigorosamente os protocolos operacionais estabelecidos para situações de incêndio e interdição de pista.
Atuação no dia da ocorrência
Às 14h39, o Centro de Controle Operacional (CCO) da Ecovias Noroeste Paulista identificou um foco de incêndio fora da faixa de domínio da rodovia para apoiar na sinalização.
As equipes operacionais foram imediatamente acionadas e deslocadas ao local, com viaturas de inspeção, ambulância, guincho leve e caminhão-pipa
Ao chegar ao km 261 da pista norte (sentido Capital–Interior), as equipes constataram que uma árvore de grande porte estava em chamas.
A faixa 3 (faixa de aceleração) foi bloqueada de forma imediata, conforme protocolo de segurança, para permitir o combate direto ao fogo e evitar riscos a usuários e equipes.
Durante o atendimento, a rodovia permaneceu devidamente sinalizada, e os motoristas foram orientados a reduzir a velocidade.
As equipes de campo permaneceram em contato constante com o CCO, que avaliava, em tempo real, a evolução da situação e a necessidade de novas interdições.
Diante da mudança repentina na direção dos ventos, o fogo se intensificou e atingiu a árvore, que acabou rompendo-se de forma vertical e imprevisível, atingindo um veículo leve.
Infelizmente, o condutor veio a óbito no local e a passageira foi socorrida com ferimentos moderados.
Para garantir a segurança dos usuários e das equipes, a pista foi totalmente interditada.
Às 18h10, foi liberada a faixa 1; e às 21h07, a faixa 2.
No mesmo período, equipes distintas da concessionária também atuavam em outros dois incêndios simultâneos:
No km 235 da SP-310 (São Carlos); e
No km 306 da SP-326 (Rodovia Brigadeiro Faria Lima, em Matão).
Protocolo de Atendimento e Fechamento de Pista em Casos de Incêndio
A Ecovias Noroeste Paulista mantém um protocolo específico para ocorrências de incêndio, com foco em resposta rápida, isolamento de risco e preservação da vida.
O processo de atendimento e eventual fechamento de pista ocorre conforme os seguintes critérios técnicos:
1. Identificação e acionamento
Detecção do fogo por:
Monitoramento por câmeras CFTV;
Patrulhamento de inspeção de tráfego;
Chamadas de usuários via 0800-326-3663;
Ou alertas recebidos via sistema interno do Departamento de Atendimento Integrado (DAI).
O CCO aciona imediatamente as equipes operacionais mais próximas e inicia a sinalização preventiva da via.
2. Avaliação de risco e bloqueio
A decisão de bloquear parcial ou totalmente a rodovia é tomada com base em:
Avaliação conjunta entre o CCO e as equipes em campo;
Condições do vento, visibilidade e propagação do fogo;
Presença de árvores, galhos ou outros elementos que possam representar risco imediato.
O bloqueio preventivo de faixas é realizado assim que identificado risco potencial, e a interdição total ocorre sempre que a segurança dos usuários possa ser comprometida.
3. Ações de combate e apoio
Deslocamento de caminhões-pipa (com capacidade de 6 mil litros de água), ambulâncias e guinchos leves, conforme a gravidade do evento.
Atuação coordenada com o Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e demais órgãos parceiros, via RINEM (Rede Integrada de Emergência) e PAM (Plano de Ação Mútua).
Prevenção e monitoramento permanente
A Ecovias Noroeste Paulista possui um mapeamento completo de árvores ao longo dos trechos sob concessão, atualizado em 2024 e protocolado junto à CETESB e à ARTESP.
Esse levantamento classifica cada árvore conforme seu nível de risco (baixo, moderado ou alto) e orienta as ações de poda ou retirada preventiva.
A árvore atingida neste evento constava no mapeamento como de baixo risco, sem indicação de remoção.
A concessionária realiza ações contínuas de poda, supressão e conscientização ambiental, conforme as normas e aprovações da agência reguladora.