Lideranças da educação de São Carlos minimizam Carteira do Professor
A Carteira Nacional de Docente no Brasil (CNDB) é vista pela Apeoesp e pelo CPP como um benefício muito pequeno diante dos problemas que a categoria enfrenta
23 SET 2025 • POR Da redação • 11h15Duas lideranças da educação em São Carlos, em entrevista ao São Carlos Agora, minimizaram a iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de sancionar a lei que institui a Carteira Nacional de Docente no Brasil (CNDB). O novo documento de identidade funcional, emitido pelo Ministério da Educação (MEC), dará aos professores da rede pública e privada descontos em eventos culturais, como cinema, teatro e shows.
Com a sanção, a CNDB deve começar a ser emitida no mês que vem, a partir do dia 15 de outubro, Dia Nacional do Professor.
O dirigente da regional São Carlos da Apeoesp (Sindicato dos Professores Estaduais), professor Ronaldo Motta, afirma que, diante dos problemas e desafios da educação brasileira, a CNDB é “uma gota no oceano”.
“A Carteira Nacional Docente no Brasil (CNDB) surge como um pequeno alento: um instrumento que facilita a comprovação da profissão e possibilita o acesso a alguns benefícios, como descontos em eventos culturais. É um gesto simbólico de valorização, mas ainda muito distante do que a categoria necessita”, ressalta Motta.
Para se ter ideia, segundo o Dieese, o salário médio de um professor da educação básica no Brasil é 34% menor do que o de outros profissionais com o mesmo nível de escolaridade. “Em São Paulo, apesar de ser o estado mais rico do país, a defasagem salarial é histórica, e muitos professores precisam acumular jornadas extenuantes para sobreviver. Além disso, os cortes de verbas têm afetado diretamente o cotidiano escolar: desde a manutenção predial até a falta de profissionais de apoio e materiais básicos de ensino e limpeza”, comenta.
“Portanto, é preciso dizer: a CNDB é apenas uma gota no oceano. O que os professores realmente precisam é que os governos cumpram a Lei do Piso Nacional do Magistério, invistam em infraestrutura, garantam condições dignas de trabalho e escutem os verdadeiros especialistas em educação — os próprios educadores. Porque quem sabe fazer educação é quem está todos os dias nas salas de aula. E, sem a valorização efetiva do magistério, continuaremos no abismo educacional”, completa o diretor da Apeoesp.
Na mesma linha, o vice-presidente do CPP (Centro do Professorado Paulista), professor Azuaite Martins de França, destaca que o direito à meia-entrada de professores para shows, cinema e outros espetáculos já existe há muito tempo. “O problema é que o vínculo de trabalho tinha que ser comprovado por holerite ou outro comprovante oficial. Então, esta carteira profissional, a exemplo da carteira do estudante, passará a ser o documento oficial que reconhece o professor pela sua profissão para ter benefícios culturais e artísticos.”
Azuaite afirma que o professor deve ter uma valorização muito maior do que uma simples carteira para pagar meia-entrada em eventos. “Tem que haver a obrigatoriedade de se pagar o piso nacional aos professores, fazendo com que isso tenha reflexos na carreira do docente. Muita gente mete a boca no governador Orestes Quércia. Vou falar duas coisas sobre o ex-governador Orestes Quércia sem nunca ter sido quercista. A primeira é a participação do ICMS paulista para patrocinar as universidades, o que lhes garante uma certa autonomia financeira. Sem isso, nós não teríamos o desenvolvimento da ciência no Brasil. Segundo, no governo Quércia é que saiu o piso para os professores da rede estadual de cinco salários mínimos no início de carreira. Isso se perdeu ano a ano, e cada vez mais o professor ganha menos, não tendo sequer o reconhecimento de recompor o poder de compra de seu salário de acordo com a lei. Então, existem muitas coisas mais importantes do que a CNDB.”