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Chegada de 8 milhões de migrantes foi positiva para São Paulo, avaliam sociólogos são-carlenses

) Bahia e Minas Gerais concentram os maiores fluxos migratórios para o Estado; 2,9 milhões de paulistas vivem hoje em outros estados brasileiros

16 SET 2025 • POR Redação • 16h21

De acordo com estudo da Fundação Seade, dos 44,4 milhões de moradores do Estado de São Paulo, 8,6 milhões nasceram em outros estados brasileiros. O levantamento utiliza dados do Censo Demográfico do IBGE de 2022 e indica também que as mulheres predominaram em todos os grupos de naturalidade, exceto entre os estrangeiros. Três sociólogos de São Carlos, especialistas no assunto, ouvidos pelo SÃO CARLOS AGORA, veem a migração como muito mais positiva do que negativa, tanto em aspectos sociais, econômicos e culturais.

Entre os migrantes, destacam-se baianos e mineiros, que juntos respondem por mais de 40% desse contingente. Logo depois aparecem Paraná, Pernambuco e Ceará (30%), seguidos por Alagoas, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro e Maranhão (19%). Essa diversidade reforça a identidade multicultural paulista.

“São Paulo se construiu como ponto de chegada de diferentes povos e continua sendo um destino estratégico de migração no país. Esse movimento marcou e ainda marca profundamente a cultura, a economia e a vida social do Estado”, afirma Paulo Borlina Maia, pesquisador da Fundação Seade.

Em relação à faixa etária dos migrantes, o estudo revela que a idade média dos moradores nascidos em outros estados é de 49 anos, contrastando com a média de 35 anos da população nascida em São Paulo. Já entre estrangeiros residentes, a idade média é de 48 anos. Muitos filhos de migrantes nascem no Estado, o que contribui para o rejuvenescimento da população paulista.

Os dados também mostram a circulação migratória no movimento inverso: 2,9 milhões de paulistas vivem hoje em outros estados brasileiros. Paraná e Minas Gerais concentram 39% desse contingente, enquanto Bahia, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro é destino para 28% e Pernambuco, Mato Grosso, Goiás e Ceará para 16%.

 

FATORES DE EXPULSÃO E ATRAÇÃO - O sociólogo Fransérgio Follis afirma que o processo migratório brasileiro, tanto no passado quanto no presente, é resultado da combinação de fatores de expulsão (que levam as pessoas a sair de um lugar) e de fatores de atração (que fazem com que escolham determinado destino).”Dentre os fatores de expulsão, bastante presentes no Brasil, podemos citar a falta de emprego no campo e nas cidades, principalmente nas cidades pequenas; baixa renda e ausência de oportunidades de ascensão social; carência de serviços públicos de qualidade (saúde, educação, transporte, cultura e lazer); conflitos por terra, especialmente no meio rural, com grilagem e concentração fundiária, impedindo o acesso à terra à população mais pobre; secas frequentes, degradação ambiental”, explica ele.

Fransérgio aponta que dentre os fatores de atração que o estado de São Paulo possui se destacam a oferta de empregos formais e informais; a possibilidade de melhoria da renda e das condições de vida; melhores serviços públicos nas áreas de educação, saúde, cultura, lazer e saneamento básico; a presença de redes de apoio de familiares ou de conterrâneos em razão da migração histórica para o estado.

“A migração de outros estados para São Paulo trouxe mais fatores positivos do que negativos para o estado, pois sempre legou ao estado uma diversidade cultural enriquecedora em vários aspectos, além de farta mão de obra e mercado consumidor”, comenta.

Por outro lado, segundo ele, os problemas sociais provocados pela migração refletem a falta de interesse e competência do Poderes Públicos federais, estaduais e municipais em estabelecer políticas públicas eficientes nas áreas da habitação popular, saúde, educação, capacitação profissional, transporte, geração de emprego, segurança pública, saneamento básico etc.  “Além de políticas atrativas que possibilitassem uma distribuição mais equitativa da população por todo o estado, evitando a mega concentração populacional na metrópole paulistana e todas as dificuldades daí decorrentes”, observa Fransergio.

Segundo ele, a migração em grandes contingentes em pouco tempo também reflete a ausência de uma política de melhor distribuição dos investimentos nas áreas que apresentam fatores de expulsão, dando mais possibilidades, formação e oportunidades para que as pessoas possam permanecer e viver em boas condições nos locais onde nasceram e escolheram para viver.  Isso porque a grande maioria dos imigrantes somente imigram quando forçados, em busca de emprego e dignidade, de melhores condições de vida para si e para os filhos.

 

POLO DE OPORTUNIDADES -  Para a socióloga e cientista política Aline Zambello, o estado de São Paulo, bem como a região Sudeste como um todo, sempre foram considerados polos de oportunidades empregatícias, atraindo historicamente populações de diversas unidades federativas do país.

“Conforme dados divulgados pela Fundação SEADE, observa-se que a população residente em São Paulo, em 2022, além dos naturais do próprio estado, é majoritariamente composta por migrantes oriundos da Bahia — o estado mais populoso da região Nordeste —, seguidos por aqueles provenientes de Minas Gerais — o segundo estado mais populoso da região Sudeste. O contingente populacional migrante não se restringe a essas duas unidades da federação, incluindo também expressivo número de indivíduos nascidos no Ceará, em Pernambuco e no Paraná”, ressalta ela.

A explicação mais plausível para a predominância migratória desses estados em relação aos demais parece residir em um movimento proporcional ao volume populacional de seus estados de origem.

“É notável observar que a taxa de fecundidade no estado de São Paulo tem apresentado trajetória decrescente. Dados do SEADE (https://informa.seade.gov.br/nascimentos-e-idade-das-maes-paulistas-2000-a-2022/) indicam que, no ano 2000, a taxa era de aproximadamente dois filhos por mulher, ao passo que, em 2022, encontrava-se abaixo de 1,5. Nesse contexto, a migração interestadual pode atuar como um mecanismo de reposição de indivíduos em idade ativa, capacitados para integrarem o mercado de trabalho paulista, sobretudo se o fluxo for constituído por população economicamente ativa”, reflete ela.

 

Cumpre destacar, segundo Aline, contudo, que, no período analisado, o estado de São Paulo registrou um saldo migratório negativo, perdendo mais habitantes do que ganhou. Esse fenômeno implica em uma redução total do efetivo populacional no estado. O fluxo de saída pode ser atribuído tanto ao retorno de migrantes aos seus estados de origem quanto à busca por melhores condições de vida e trabalho em outras localidades do país.