Setembro Amarelo

Médico alerta sobre prevenção do suicídio em São Carlos

Em 2024, a Polícia de São Carlos registrou 26 ocorrências nas quais pessoas tiraram a própria vida; especialista considera número "preocupante"

11 SET 2025 • POR Da redação • 13h53
O médico da família, Claudio Simas: "O uso de álcool e drogas aumenta significativamente o risco de suicídio. Essas substâncias podem intensificar sintomas de depressão e ansiedade, além de reduzir o controle dos impulsos" - divulgação

O Setembro Amarelo, mês dedicado à conscientização sobre a prevenção do suicídio, reforça a importância de falar sobre saúde mental de forma aberta e responsável. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. Só no Brasil, são 14 mil vidas perdidas. Entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a quarta principal causa de morte, ficando atrás de acidentes, tuberculose e violência. Em São Carlos, foram registrados 26 suicídios em 2024.

Pesquisa do Observatório de Suicídio e Raça, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, chama atenção para um dado alarmante: mais de 82% dos suicídios registrados entre 2019 e 2022, no Nordeste, ocorreram entre pessoas negras. Outro estudo, publicado na revista científica americana Pediatrics, revela que 62,5% das pessoas LGBTQIA+ que participaram do levantamento já pensaram em suicídio e têm seis vezes mais chance de tirar a própria vida em relação a heterossexuais.

O médico de família e comunidade Claudio Roberto Simas, contratado pelo Programa Mais Médicos e atuante na UBS Vila São José, em São Carlos, afirma que o Setembro Amarelo é fundamental porque traz visibilidade a um tema que, por muito tempo, foi cercado de silêncio. Ele destaca que, ao promover diálogo e conscientização, é possível reduzir estigmas e incentivar que as pessoas procurem ajuda. Para ele, a campanha é uma oportunidade de valorizar a vida e prevenir mortes evitáveis.

Segundo Simas, não existe uma causa única para alguém decidir tirar a própria vida. “O suicídio resulta de uma combinação de fatores, como depressão, ansiedade, dependência química, violência, luto ou desesperança. Mais do que um ato de fraqueza, trata-se de um sofrimento profundo, em que a pessoa não consegue enxergar alternativas para lidar com a dor”, explica.

Sobre a saúde mental no Brasil, o médico comenta que o SUS dispõe de uma rede de atenção psicossocial, formada por CAPS, Unidades Básicas de Saúde e equipes de saúde da família. Essa estrutura busca oferecer cuidado integral, desde a escuta inicial até o tratamento especializado. “Avançamos bastante, mas ainda enfrentamos desafios, como carência de profissionais e desigualdade de acesso entre regiões.”

O especialista também alerta sobre a forma de divulgação de notícias sobre suicídio. “A divulgação inadequada pode gerar o chamado efeito contágio, em que pessoas vulneráveis se identificam e repetem o ato. A imprensa deve abordar o tema sem detalhar métodos, sem sensacionalismo e sempre divulgando informações de prevenção, como o telefone 188 do CVV. A mídia tem papel essencial, mas precisa atuar como parceira da vida.”

Simas vê uma relação direta entre o consumo de drogas ilícitas e bebidas alcoólicas e os casos de suicídio. “O uso de álcool e drogas aumenta significativamente o risco de suicídio. Essas substâncias podem intensificar sintomas de depressão e ansiedade, além de reduzir o controle dos impulsos. Muitos episódios acontecem em momentos de intoxicação, quando a capacidade de julgamento está comprometida. Por isso, combater o abuso de substâncias é também uma forma de prevenção”, afirma.

O registro de 26 casos em São Carlos em 2024 é considerado alto pelo médico. “Sim, é um número preocupante. Cada vida perdida impacta famílias inteiras e a comunidade como um todo. Para o tamanho da população de São Carlos, esse índice reforça que precisamos de mais ações de prevenção, fortalecimento da rede psicossocial e campanhas permanentes que incentivem o diálogo.”

Ele ainda ressalta que o suicídio pode ser prevenido. “Precisamos estar atentos a sinais como isolamento, mudanças bruscas de comportamento, falas sobre desesperança e perda de interesse pelo dia a dia. O apoio de familiares e amigos é fundamental. Em São Carlos, além da rede do SUS, qualquer pessoa pode buscar ajuda no CVV, pelo número 188, disponível 24 horas. A mensagem central do Setembro Amarelo é simples: falar pode salvar vidas.”

Este é também o tema da campanha deste ano, promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina: “Se precisar, peça ajuda!”