Pesquisadores da USP São Carlos e da Suécia desenvolvem técnica inovadora contra o câncer de mama
3 SET 2025 • POR Rui Sintra • 08h22Um grupo de pesquisadores do Brasil – com participação do IFSC/USP – e da Suécia encontrou uma nova forma de tornar o tratamento do câncer de mama mais eficaz e menos agressivo. A técnica inovadora combina o uso de minúsculas partículas de ouro com uma tecnologia parecida com “microcanudos” invisíveis a olho nu, capazes de injetar essas partículas diretamente dentro das células doentes.
Essas partículas de ouro, que são tão pequenas (da ordem de 10⁹ metros) que só podem ser vistas com equipamentos especiais, têm a capacidade de transformar luz em calor. Quando iluminadas, aquecem a célula onde estão e destroem, seletivamente, as células cancerosas — esse processo é chamado de “terapia fototérmica”. O problema é que, no método tradicional, essas partículas nem sempre chegam ao lugar certo dentro das células, o que diminui bastante sua eficiência.
É aí que entra o grande diferencial da nova abordagem: o uso de estruturas microscópicas chamadas “nanocanudos”. Para se entender melhor, imagine canudinhos superfinos, invisíveis, que atravessam a parede da célula e conseguem levar a partícula de ouro exatamente onde ela deve agir. Com a ajuda de pequenos impulsos elétricos, os cientistas conseguiram colocar muito mais partículas dentro das células cancerosas — cerca de 10 vezes mais do que o método tradicional.
Esse direcionamento mais preciso também faz com que as partículas evitem áreas da célula que poderiam destruí-las antes de funcionar. Em vez disso, elas são levadas diretamente para regiões internas da célula onde conseguem agir com mais potência, levando à morte da célula doente de forma mais rápida e eficaz.
Nos testes feitos em laboratório, a nova técnica foi aplicada em dois tipos diferentes de câncer de mama: o primeiro tipo, chamado MCF7, é considerado mais "controlável", pois responde a hormônios como estrogênio e progesterona. O segundo tipo, chamado MDA-MB-231, é mais agressivo e difícil de tratar, pois não responde a hormônios nem a tratamentos convencionais como certos tipos de quimioterapia. Esse tipo é conhecido como "triplo negativo".
O resultado foi animador: no câncer MCF7, quase todas as células doentes morreram após o tratamento com a nova técnica. Já no câncer mais resistente, o MDA-MB-231, houve uma redução expressiva das células tumorais, muito superior ao que se consegue com o método tradicional. E o melhor foi que essa morte celular aconteceu de forma controlada — um processo chamado apoptose, que evita inflamações ou danos aos tecidos saudáveis ao redor, tornando o tratamento mais seguro.
Segundo os cientistas, essa abordagem pode ser um grande passo na luta contra o câncer, especialmente nos casos mais difíceis. O próximo desafio é adaptar essa tecnologia para funcionar dentro do corpo humano, já que os testes, por enquanto, foram feitos em células cultivadas em laboratório.
A pesquisa é fruto da colaboração entre a USP de São Carlos e a UNESP, em parceria com a Universidade de Lund, na Suécia, tendo como autores os pesquisadores Sabrina A. Camacho, Pedro H. B. Aoki, Frida Ekstrand, Osvaldo Novais de Oliveira Jr. e Christelle N. Prinz.
O estudo foi publicado na revista internacional ACS Applied Materials & Interfaces e pode ser acessado em: link para o artigo.
(Rui Sintra – jornalista do IFSC/USP)