Brasil

Com o PIX, Brasil pode ter inventado o futuro do dinheiro

26 AGO 2025 • POR Bazoom • 06h35

O Nobel de Economia Paul Krugman voltou os olhos para o Brasil e escreveu que o país pode ter inventado o futuro do dinheiro ao criar o Pix. Em agosto, ele contrapôs a eficiência do sistema brasileiro à nova guinada regulatória dos Estados Unidos para criptoativos, apontando que, na prática, o Pix já entrega aquilo que parte do ecossistema cripto prometia.

Isso é, transferências quase instantâneas e de baixo custo, com ampla inclusão. No pano de fundo da análise, está a primeira lei federal norte-americana focada em stablecoins, o GENIUS Act, aprovada no Congresso e já sancionada, enquanto avançam propostas que limitam uma eventual CBDC varejista nos EUA.

Para Krugman, a resistência política a uma infraestrutura pública de pagamentos ajuda a explicar por que um Pix americano não deve acontecer tão cedo. Isso também ajuda a entender a convivência entre trilhos. No dia a dia, quem compra e vende cripto no Brasil usa o Pix como rampa de entrada e saída de reais.

E, quando prefere negociar diretamente com outras pessoas, recorre a corretoras P2P de criptomoedas, que se apoiam nesses pagamentos instantâneos para dar liquidez e velocidade às transações. Então, não é à toa que o sistema financeiro brasileiro está em foco por grandes nomes do setor.

O que mostram os números do Pix em 2025

Quatro anos depois do lançamento, o Pix já é o meio de pagamento mais difundido entre os brasileiros. Mais de 76% da população utiliza o sistema, segundo o Banco Central. Pesquisas da FGV mostraram ainda que, em 2024, 63% dos brasileiros fizeram pelo menos um Pix por mês, com forte adesão no centro-oeste e sudeste.

Em 6 de junho de 2025, o Pix bateu recorde diário de 276,7 milhões de transações, com R$ 135,6 bilhões movimentados em apenas 24 horas. Com esses números, faz sentido o Nobel focar no caso brasileiro. A adoção massiva se reflete na rotina.

Transferências instantâneas substituíram parte dos boletos e reduzem prazos no comércio eletrônico, enquanto profissionais autônomos e pequenos negócios passaram a receber em segundos, sem a demora de compensações tradicionais. Além disso, em junho de 2025, entrou em operação o Pix Automático.

Essa modalidade permite autorizar cobranças recorrentes, como assinaturas e contas, com um único consentimento do pagador. O cronograma e os ajustes regulatórios foram definidos pelo Banco Central e apresentados no evento Conexão Pix, em São Paulo. Outra novidade é o Pix por aproximação (NFC).

Ele dispensa QR Code em compras presenciais e pode ser usado em wallets digitais. Pelo regulador, o limite inicial é de R$ 500 por transação, com possibilidade de ajuste pelo cliente no próprio banco.

Outros dados importantes do setor

Enquanto o Pix resolve pagamentos do dia a dia, o Drex, projeto de moeda digital do Banco Central, avança em piloto para casos de uso de tokenização e contratos inteligentes no atacado financeiro.

Em fevereiro, o BACEN publicou o relatório da 1ª fase com achados de arquitetura, privacidade e segurança e abriu caminho para a 2ª etapa de testes, que avalia novos cenários propostos pelo mercado. O Drex não substitui o Pix, ele mira liquidação programável e integração com o Sistema Financeiro e de Pagamentos Brasileiro.

Do outro lado, a guinada regulatória americana materializou-se no GENIUS Act, que criou base federal para stablecoins. A lei abre espaço para bancos e emissores operarem com mais clareza regulatória, mas o debate sobre CBDC continua travado por propostas que restringem o papel do Federal Reserve em moeda digital para o varejo.

A comparação realça a tese de Krugman, onde o Brasil adotou uma infraestrutura pública, o Pix, os EUA preferem empurrar pagamentos digitais para trilhos privados e tokens estáveis. Sem dúvidas, a combinação de escala, novos recursos e integração com Open Finance está redesenhando rotinas.

Contas recorrentes deixam de exigir débito automático tradicional e passam a rodar no Pix Automático, com autorização única e gestão dentro do app do banco. No balcão, o Pix por aproximação aproxima a experiência de pagamento da do cartão sem perder a liquidez do Pix.

Para quem atua no e-commerce, o ganho de conversão vem da redução de fricções nos checkouts que passam a oferecer o Pix em um clique. Ao mesmo tempo, o Banco Central segue ajustando segurança e governança do ecossistema.

Endureceu regras de prevenção a fraudes, refinou o Mecanismo Especial de Devolução e alinhou o Open Finance para facilitar iniciação de pagamentos e uso do Pix em wallets. São peças de uma estratégia que explica por que o Brasil não só lançou um meio de pagamento popular, construiu uma infraestrutura pública que continua evoluindo.