Escolas públicas - O retrato do descaso que alimenta a desigualdade
18 AGO 2025 • POR Rui Sintra • 07h49Um país se revela não apenas por seus números econômicos ou pela grandiosidade de suas obras, mas pela forma como trata suas crianças e adolescentes.
O recente levantamento divulgado pela AGÊNCIA FAPESP (https://agencia.fapesp.br/degradacao-do-ambiente-fisico-de-escola-publica-e-em-media-ate-27-vezes-maior-do-que-em-particular/55569), que comparou as condições físicas de escolas públicas e privadas em São Paulo, expõe um cenário no mínimo vergonhoso, que não vem só de agora, mas que insiste em se repetir: ambientes escolares que mais parecem ruínas, envoltos por um entorno urbano igualmente degradado.
Enquanto as escolas particulares registram, em média, um índice de desordem muito baixo — quase inexistente —, as estaduais ostentam um escore vinte e sete vezes maior. Não estamos falando de pequenos problemas de manutenção, mas de banheiros entupidos, janelas quebradas, móveis destruídos, ventilação precária e pichações por todo o lado.
Um conjunto de sinais que, mais do que desgastar o aprendizado, comunica aos alunos um recado silencioso e devastador: vocês valem menos. A escola, que deveria ser o centro irradiador de oportunidades, torna-se, para milhões de adolescentes, o reflexo de um país que se acostumou a oferecer migalhas a quem depende do serviço público.
A degradação se estende para fora dos muros: buracos nas calçadas, postes sem luz, uso de drogas na porta. O ambiente escolar e seu entorno se fundem num cenário de abandono que mina a autoestima e alimenta comportamentos de risco.
Há quem insista em dizer que “o que importa é a qualidade do ensino, não a aparência da escola”. No meu ponto de vista é um argumento hipócrita. A pesquisa mostra — e organismos internacionais reforçam — que o espaço físico influencia diretamente a segurança, o bem-estar e até a prevenção da violência. Não se trata de luxo, mas de dignidade.
O dado sobre distorção idade-série — quase 20% dos alunos do 9º ano das escolas públicas estão atrasados em relação à idade adequada — é mais uma prova de que o ambiente hostil impacta o percurso escolar. E aqui está o ponto central: desigualdade educacional não começa com a nota baixa, mas com a mensagem subliminar de que uns merecem aprender em segurança e outros, não.
O que fazer? Pintar paredes e trocar lâmpadas é necessário, mas claramente insuficiente. É preciso entender que a infraestrutura escolar é política de segurança pública, de saúde mental e de cidadania.
Qualquer governante que trate isso como gasto e não como investimento está condenando o país, o estado e o seu município à repetição do fracasso. Enquanto não encararmos a escola pública como prioridade absoluta, continuaremos a formar gerações acostumadas a viver em meio ao abandono — e a acreditar que não há saída.
E essa, talvez, seja a maior violência de todas.