Geopolítica

Especialistas de São Carlos apontam impacto moderado do "Tarifaço" de Trump na economia brasileira

Com exclusão de 700 itens como aviões, celulose, suco de laranja, petróleo e minério de ferro parte relevante das exportações seguirá com tarifa de até 10%

3 AGO 2025 • POR Marco Rogério • 08h31
De acordo com o Mdic, 64,1% das exportações brasileiras continuam concorrendo em condições semelhantes com produtos de outros países no mercado estadunidense - Freepik

O "Tarifaço" de 50% anunciado pelo governo dos Estados Unidos sobre parte das exportações brasileiras entra em vigor em 6 de agosto. No entanto, após a exclusão de aproximadamente 700 produtos — entre eles suco de laranja, aviões, petróleo e minério de ferro — especialistas consideram que os impactos à economia brasileira serão moderados.

Segundo o economista da UFSCar, Luiz Fernando Paulillo, a medida foi atenuada ao excluir itens estratégicos para o mercado americano. “O consumidor norte-americano não aceita facilmente aumentos abusivos. Houve racionalidade econômica e política na decisão, o que sinaliza abertura para negociações, inclusive envolvendo café e carnes, que seguem sobretaxadas”, avalia.

Paulillo também destaca que produtos com alta competitividade brasileira, como minérios especiais, poderão ser redirecionados à China, o que preocupa os EUA. “Abre-se uma janela importante para reposicionamento comercial e geopolítico do Brasil”, afirma.

Para o historiador Ney Vilela, Trump age mais por oportunismo político do que por estratégia. “Esse tipo de medida pode acelerar o afastamento de parceiros comerciais dos EUA. No caso do Brasil, pode aproximar ainda mais o país da China”, avalia. Ele também observa que a instabilidade gerada por Trump tende a enfraquecer a confiança global no dólar como porto seguro.

O analista geopolítico João Marcos Gomide afirma que, apesar da alta tarifa em produtos como carne e café, os efeitos são menores do que o previsto. “Esses itens podem encontrar outros mercados, embora com perda de margem para os produtores”.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), a medida afeta diretamente 35,9% das exportações brasileiras para os EUA. Outros 44,6% estão isentos da nova tarifa e seguirão com a alíquota de até 10% definida anteriormente. Os 19,5% restantes já estão sujeitos a tarifas específicas aplicadas a todos os países, como no caso de automóveis, aço e alumínio.

A tabela divulgada pelo Mdic, com base nos dados de 2024, detalha o impacto:

Categoria Valor (US$ bilhões) Participação (%) Produtos com nova tarifa (50%) 14,5 35,9% Produtos na lista de exceções (tarifa de até 10%) 18,0 44,6% Produtos com tarifas específicas aplicadas a todos os países 7,9 19,5% Total 40,4 100%

A pasta informou ainda que mercadorias embarcadas até sete dias após a ordem executiva não serão afetadas pelas novas tarifas.

(Com informações da Agência Brasil)