"Apesar da guerra, a vida segue", afirma brasileira que vive em Israel
Brasileira que convive com a guerra afirma que país sangrou mas não colapsou e deve se reerguer e crescer
28 JUL 2025 • POR Marco Rogério • 20h48A vida em Israel prossegue com o funcionamento da economia, shows, gente trabalhando, estudando etc., apesar de o país estar em guerra há quase dois anos. A afirmação é de Sheila Bomberg, brasileira que vive no país em conflito, em entrevista exclusiva ao SÃO CARLOS AGORA. Ela mora em Kfar Saba, cidade que fica a 20 quilômetros de Tel Aviv.
O conflito começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas matou 1,2 mil pessoas no sul de Israel e fez cerca de 250 reféns, de acordo com dados israelenses. Desde então, a campanha militar de Israel matou quase 60 mil palestinos, segundo as autoridades de saúde de Gaza.
“Nós estamos em guerra desde outubro de 2023, já passamos por momentos muito complicados, muito estressantes. Aqui dentro do país, a população está vivendo uma vida praticamente normal, apesar de tudo. Tivemos 12 dias de pesadelo contínuo com a guerra do Irã contra nós. Foi muito complicado, mas graças a Deus isso acabou. Infelizmente, ainda existem vários reféns em Gaza, e este é o problema, é o calcanhar de Aquiles neste conflito. Mas, apesar das tensões e de alguns alertas de sirene por conta do Iêmen, a vida continua. As pessoas trabalham, têm lazer, têm vidas normais. As crianças, neste momento, estão de férias das escolas, mas a vida segue praticamente como antes. A cultura continua acontecendo com vários shows e o cotidiano segue quase que normalmente”, explica ela.
Sheila acredita que pode haver paz em Israel, mas a situação é complicada. “Não é impossível. Já passamos por isso em 1979, quando houve a assinatura da paz com o Egito, e em 1994, quando foi assinada a paz com a Jordânia. Os Acordos de Abraão abriram portas com os Emirados Árabes, Bahrein, Marrocos e Sudão. Continuamos neste caminho tentando expandir a paz. Infelizmente, ainda existem vários obstáculos, como o conflito com os palestinos, os fatores religiosos, como Jerusalém, que tornam este diálogo muito mais sensível, e a influência de questões externas, como o Irã e o Hezbollah. Enfim, a sociedade civil quer paz. Inclusive, a coexistência em Israel entre árabes e judeus é muito tranquila. É óbvio que a gente nunca sabe quem é o terrorista que habita o corpo de um árabe, mas a convivência é muito boa. A gente vai para cidades com muitos árabes e a convivência é pacífica. Acreditamos que a construção desta paz está na educação, no respeito, nas lideranças comprometidas com soluções reais e não com ideologias, e num apoio internacional equilibrado. Vamos ter a construção da paz de forma lenta, e sou daquelas pessoas que não desistem de acreditar que um dia haverá paz nesta região toda”, comenta ela.
Ela afirma que a dor de parentes e amigos dos reféns do Hamas é indescritível, devido ao nível de crueldade dos terroristas, com estupros, famílias queimadas vivas, crianças decapitadas. “É um absurdo. Houve estupro de mulheres, mas também de homens, assaram crianças em fornos. Não dá nem para imaginar a reação dos familiares dessas vítimas. E, quanto aos reféns libertados, não sabemos como viverão daqui para frente, devido a tudo o que passaram e às imagens que têm gravadas em suas mentes. Acho que isso, infelizmente, nunca vai passar. Infelizmente, o 7 de outubro mudou a cabeça das pessoas em todos os lugares do mundo”, lamenta Sheila.
Ela disse que a guerra deixará muitas sequelas em todo o planeta. “São sequelas emocionais e psicológicas, pois crianças cresceram nesse tempo com sirenes e tendo que se esconder dentro de abrigos. Tem crianças que não sabem sequer o que é a vida sem a guerra. Temos muitos soldados traumatizados. A maioria são muito jovens. Muitos se suicidaram. Alguns reféns que foram libertos também se mataram. Famílias foram destruídas por luto, sequestros e desaparecimentos. Muita gente perdeu tudo, inclusive suas casas. Muita gente mora em hotéis com apoio do governo. Os hospitais estão sobrecarregados, com profissionais cansados e estressados. Muitos idosos sofrendo, muitas viúvas de jovens mortos. Várias gerações ainda vão sofrer com isso. É uma situação muito difícil.”
Sheila destaca que, apesar de toda a resiliência do povo judeu, há a impressão de que o país está mergulhado num pesadelo que nunca vai acabar. “Não adianta termos medo. Temos que seguir adiante. Não sei de onde vamos arrumar forças, mas vamos conseguir.”
Segundo ela, o turismo e a economia foram muito afetados pela guerra. “Trabalho com turismo e, neste segundo semestre, devemos receber muitas visitas. Apesar de tudo, Israel é um país seguro. Existe um sistema de defesa muito forte. Um exército muito forte. Muitas empresas fecharam. O custo da guerra é muito alto. Muita gente que queria investir em Israel desistiu. O custo de vida aumentou e o salário não. Não é brincadeira, não é nada fácil. Apesar de tudo, é nossa resiliência que mantém a economia robusta, com apoio de alguns parceiros, principalmente dos Estados Unidos. Temos muitos investimentos em tecnologias. O país não parou, ele sangrou devido à guerra, mas não colapsou, e, se Deus quiser, vai crescer ainda mais”, conclui ela.