Novo Tarifaço de Trump ameaça empregos em São Carlos
No primeiro semestre deste ano, as indústrias de São Carlos exportaram 109 milhões de dólares para os EUA, o que representa 37% do total das exportações.
11 JUL 2025 • POR Marco Rogério • 10h51A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo de Donald Trump foi recebida com preocupação pelo setor produtivo brasileiro e poderá gerar desemprego em São Carlos. De acordo com o CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), 37% das exportações de São Carlos têm como destino o mercado norte-americano.
“Só no primeiro semestre deste ano, as indústrias de São Carlos exportaram 109 milhões de dólares para os EUA. Ou seja, mais de um terço das nossas exportações pode ser afetado por essa medida”, afirma Marcos Henrique dos Santos, diretor regional do CIESP.
Segundo o empresário, a notícia de que os Estados Unidos pretendem impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, a partir de agosto, foi uma grande surpresa. “Se essa decisão for mesmo confirmada, trará prejuízos enormes para milhares de indústrias no Brasil — inclusive para nós aqui em São Carlos e região”, destaca ele.
Se essa tarifa entrar em vigor e não for revertida por meio de negociação, o impacto, de acordo com Santos, será direto na economia local: menos produção, menos vendas e, infelizmente, mais desemprego. “Claro que precisamos buscar alternativas, como novos mercados para nossos produtos. Mas isso leva tempo, e o efeito não é imediato”, explica Santos.
Segundo ele, o que mais chama a atenção é que essa decisão veio sem um motivo econômico claro. “Na verdade, os Estados Unidos tiveram superávit comercial com o Brasil nos últimos 15 anos. Isso torna ainda mais difícil entender o porquê dessa medida — e mais complicado para os dois países chegarem a um acordo rápido.”
Santos reforça que, neste momento, o que mais precisamos é de diálogo e negociação. O setor produtivo está pronto para colaborar, mas é necessário que os governos atuem com agilidade nessa direção.
APOSTA NA DIPLOMACIA – O diretor de assuntos institucionais da Tecumseh do Brasil, uma das mais importantes empresas do setor metalúrgico de São Carlos, Homero Busnello, afirma que, obviamente, o tarifaço não é uma situação boa para os negócios. “Acreditamos em uma saída negociada entre os governos do Brasil e dos EUA. Confiamos que os esforços diplomáticos, liderados pelo Itamaraty e pelo MDIC, encontrem um bom termo”, comenta ele.
SITUAÇÃO PREOCUPANTE – O economista Elton Casagrande afirma que a tarifa é horizontal. “Não temos informações sobre como as câmaras setoriais e os acordos entre setores produtivos ocorrerão. Se for assim, afeta sim. Temos que tomar cuidado. O anúncio é de uma tarifa de 50% sobre qualquer produto que entrar nos EUA, com a ressalva de que tal decisão pode se sobrepor a tarifas setoriais históricas e protocolos já assinados internacionalmente”, comenta.
Casagrande observa que as exportações de São Carlos para os EUA são relevantes, representando praticamente 37% de tudo o que a cidade vende para o mundo. “Chama a atenção que São Carlos tem também como importantes parceiros o México e a Argentina, além de França, Peru e Colômbia. Como o México e a Argentina irão se posicionar diante disso pode ser um aspecto relevante neste jogo internacional. Isso pode nos levar a surpresas. De repente, poderemos ter um desses parceiros — que também são parceiros dos Estados Unidos — nos prejudicando.”
As importações dos Estados Unidos para São Carlos também foram analisadas pelo economista. “A cidade importa pouco mais da metade do que exporta para os EUA. O que é importado entra na composição dos produtos que são exportados. Então, no comércio exterior, se o produto tem preço final sobretaxado e o país aplica a reciprocidade, ao importar paga-se mais caro, e também se paga mais caro para entregar este produto lá. E o preço do produto exportado é maior que o do importado porque ele compõe o preço final. Isso geraria uma inviabilidade para as exportações de São Carlos e de outras regiões. Teria um efeito muito perverso”, avalia.
POTENCIAL PARA DAR DOR DE CABEÇA – Para o economista Paulo Cereda, o tarifaço tem potencial para gerar desemprego. “Dependendo do que ele (Donald Trump) tarifar, a cadeia produtiva afetada poderá comprometer nossas exportações. Num primeiro momento, dependendo do tamanho da tarifa e do tempo em que estiver em vigor, poderá haver a desaceleração de alguma cadeia produtiva brasileira.”
“Muito embora ele esteja tarifando o mundo todo. Depende de como ele taxará o mundo e também de algum acordo unilateral que venha a ser feito com um país ou outro. É preocupante o movimento feito com o BRICS. O mundo está se polarizando, e o Brasil está se aproximando de países totalitários, que também são avessos aos interesses americanos. E o Trump está reagindo. É um momento de muita tensão, e é necessário termos sabedoria. Por ora, Trump anuncia as tarifas, manda seus recados, sobe o tom e força as partes a negociarem. Ele deixou claro que, num primeiro momento, quer negociar. Aí, precisamos acompanhar essas negociações. Potencial para dor de cabeça existe”, conclui.