São Carlos abriga cerca de 82 pizzarias; sabor alface é destaque
A pizza começou a figurar no cardápio de restaurantes de São Carlos a partir dos anos 1960, época áurea de estabelecimentos como o Bambi, o Maneco e o Bambu conhecidos como 'os três poderes' do centro da cidade
10 JUL 2025 • POR Marco Rogério • 19h15A pizza é, sem dúvidas, uma das marcas de São Carlos. A cidade abriga hoje cerca de 82 pizzarias. Muitas delas trabalham com o sistema exclusivamente de entregas, também conhecido como delivery. Outras atendem clientes servindo a pizza e também realizando entregas. Um outro grupo de empresas atua com rodízio, onde os clientes podem saborear vários tipos de pizza à vontade por um pagamento fixo.
A tradição da pizza vem do século XIX, com a chegada de imigrantes. Em 1907, o município de São Carlos abrigava 11 mil italianos, para uma população de aproximadamente 38 mil pessoas. De 1886 a 1907, chegaram em torno de 10.289 italianos à cidade. Talvez esta seja a explicação para o sucesso de um prato típico do país da Velha Bota.
A forte imigração italiana, no final do século XIX e início do século XX, trouxe para São Carlos trabalhadores que vieram atuar nas lavouras de café. Essa presença deixou reflexos profundos na economia, na cultura, nos costumes — e, claro, na culinária. Assim como a macarronada, a pizza simboliza a presença italiana. Inicialmente consumida apenas pelos oriundi, não demorou a se popularizar, especialmente a partir da capital paulista, com variações da receita original.
Neste 10 de julho, o Dia da Pizza completa 40 anos. São Carlos se orgulha de sua herança italiana e de suas tradições, e é também apaixonada por pizza, em todas as suas formas e sabores. Em São Carlos, a pizza começou a figurar no cardápio de restaurantes a partir dos anos 1960, época áurea de estabelecimentos como o Bambi, o Maneco e o Bambu — conhecidos como “os três poderes” do centro da cidade, segundo contam os remanescentes da época. As pizzas eram menores que as atuais e consumidas em pedaços, com palitinhos. Naquele tempo, a preferência era pelas pizzas de muçarela”, comenta o memorialista Cirilo Braga.
A urbanização do município, com forte êxodo rural, aprimorou a produção da "redonda" e intensificou a variedade de tipos, formatos e sabores, sempre com generosas coberturas. “No início dos anos 1980, surgiram as primeiras pizzarias com forno a lenha e padrão paulistano, com destaque para a Amici e a Don Rafaelle, que existem até hoje. Na mesma época, foram introduzidas as pizzas com catupiry, surgidas na capital paulista na década de 1970”, explica o especialista.
Segundo ele, hoje, São Carlos é conhecida como a cidade que criou a pizza de alface — o que dá uma ideia da variedade disponível nas dezenas de pizzarias espalhadas pelo município. “A oferta inclui pizzas doces, bordas recheadas e rodízios com mais de 60 sabores — alguns que, certamente, fariam os italianos se arrepiarem. Mantém-se a tradição de servir pizza apenas à noite, com exceção de uma loja localizada no shopping”, destaca.
“Simples, saborosa, associada a celebrações e boas conversas — e, atualmente, disponível por delivery, com a comodidade de chegar à porta de casa — a pizza é uma paixão que atravessa gerações. E cá entre nós: quem pode ser indiferente a uma boa pizza?”, sugere Cirilo.
Pizza italiana e brasileira são diferentes e deliciosas
O jornalista Rodrigo Garavini é natural de Brodowski, no interior paulista. Ele trabalhou como repórter na EPTV Central, em São Carlos, durante vários anos, e atualmente atua no SBT, em Londrina (PR). Morou em Padova, na Itália, entre 2009 e 2010.
“A pizza na Itália é diferente da pizza do Brasil. As duas são boas. Eu talvez goste mais da brasileira porque aqui tem mais recheio, mas os ingredientes na Itália são melhores. Aqui, a massa é mais grossa, o que faz com que a pizza possa ser dividida entre quatro pessoas. A pizza italiana tem a massa fininha e funciona como lanche: cada um come a sua, não existe essa tradição de dividir uma ou várias pizzas. Quando comi a primeira pizza italiana, eu estranhei o gosto. Mas o paladar se adapta e, quando me acostumei, passei a apreciar muito. A melhor pizza que comi na vida foi a Pulhesa, que misturava ovo com gema mole, queijo e panceta”, explica ele.
Italianos capricham no preparo
A educadora Sandra Camargo, que nasceu em São Carlos, mas hoje mora em Wexford, na Irlanda, e conheceu vários países europeus, ressalta que foi a Nápoles conhecer a pizza mais famosa do mundo. Ela explica que, em outros países, a pizza é diferente.
“A Itália é feita de massa. As pizzas são vendidas em padarias como salgados. A qualidade está no preparo e no uso de produtos naturais. Eles fazem os próprios molhos, o que faz diferença no sabor. O Brasil tem tudo isso também e tem o jeito brasileiro, o que faz a culinária ser maravilhosa. Um bom azeite faz toda a diferença para se apreciar uma pizza. Na Irlanda, não há cultura da pizza. É uma pizza sofrida no congelador de supermercado. Existem fast foods de pizza para consumo rápido, que são amadas por crianças e adolescentes, mas ficam muito longe do sabor e da qualidade de uma pizza brasileira ou italiana”, garante ela.
O segredo da boa pizza
O consultor e professor de gastronomia Eumar Alves Lelis, que atuou por muitos anos na área, principalmente em pizzarias, afirma que o segredo para uma boa pizza começa na fermentação da massa.
“E, claro, para uma boa fermentação, é essencial o uso de uma boa farinha. De preferência, fermentação natural. Equilíbrio nos ingredientes. Engana-se quem pensa que uma boa pizza deve estar muito caprichada no recheio. Temperatura adequada. E, de preferência, um bom forno a lenha. Mas cuidado! Tem muitas pizzarias com forno a gás!”, alerta ele.