Desafios

Urbanização avança em São Carlos e chega a 96%

População urbana era de 232.915 e a rural era de 9.717 em 2020; município está entre os 197 mais urbanizados do Estado de São Paulo

10 MAR 2025 • POR Da redação • 14h36
De acordo com o IBGE, em 2020, São Carlos tinha 232.915 (96%) moradores na zona urbana e 9.717 (4%) moradores na zona rural, somando-se um total de 242.632 habitantes - divulgação

São Carlos, segundo a Fundação SEADE, está entre os 197 dos 645 municípios paulistas com mais de 95% de urbanização. De acordo com o IBGE, em 2020, o município já era 96% urbanizado. Assim, a Capital da Tecnologia segue uma tendência da população paulista, que está cada vez mais urbana. Análise da Fundação Seade mostra que, entre 1980 e 2022, o grau de urbanização no estado de São Paulo passou de 88,6% para 97%. 

De acordo com o IBGE, em 2020, São Carlos tinha 232.915 (96%) moradores na zona urbana e 9.717 (4%) moradores na zona rural, somando-se um total de 242.632 habitantes. É importante ressaltar que, no Brasil, é considerada urbana – segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – aquela sociedade residente em cidades ou distritos com mais de dois mil habitantes."

A urbanização é o processo de transformação de uma sociedade, região ou território de rural para urbano, ou seja, não representa somente o crescimento da população das cidades, mas o aumento dessa em relação aos habitantes do campo. Portanto, quando a população urbana de um determinado local cresce em número maior que a do campo, dizemos que está ocorrendo um processo de urbanização.


A socióloga Evelyn Postigo: “Essa urbanização, pode gerar desafios como a pressão sobre habitação, mobilidade e saúde, além de afetar a produção agrícola e a preservação ambiental”

MUDANÇAS - A socióloga e doutora em Sociologia Urbana pela UFSCar, Evelyn Postigo, explica que a urbanização no Brasil tem se intensificado nas últimas décadas, refletindo mudanças socioeconômicas e tecnológicas que impulsionam a concentração populacional nas cidades. Ela comenta que o Censo de 2022 mostrou que a população urbana do país chegou a 87,9%, enquanto a população rural segue em queda, com um envelhecimento progressivo. Esse fenômeno se repete no estado de São Paulo, onde o crescimento das cidades é acompanhado pela redução da população no campo, alterando dinâmicas sociais e econômicas.
“Em São Carlos, essa tendência é evidente. A cidade, reconhecida por seu polo educacional e tecnológico, tem se tornado cada vez mais urbana, com a população rural representando uma parcela cada vez menor dos habitantes. Essa urbanização quase total traz impactos significativos. Por um lado, fortalece a economia urbana, amplia o acesso a serviços públicos e infraestrutura e atrai investimentos em inovação e pesquisa. Por outro, pode gerar desafios como a pressão sobre habitação, mobilidade e saúde, além de afetar a produção agrícola e a preservação ambiental”, destaca a socióloga. 

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO- Evelyn destaca que para os gestores públicos, essa transformação exige planejamento estratégico. “A expansão da cidade deve ser equilibrada para evitar crescimento desordenado, especulação imobiliária e impactos ambientais. Ao mesmo tempo, é essencial valorizar as áreas rurais remanescentes, seja por meio de incentivos à agricultura ou da preservação de espaços naturais. Em um plano ideal, a administração da cidade deve implementar políticas que conciliam desenvolvimento urbano e sustentabilidade, garantindo qualidade de vida para seus habitantes”, adverte a especialista. 

REVOLUÇÃO AGRÍCOLA - O presidente da AEASC (Associação de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de São Carlos), Laert Rigo, avalia que urbanização dos municípios tem algumas causas principais. Segundo ele, uma delas é a crescente presença da tecnologia no campo tem promovido uma transformação profunda no setor agropecuário, acelerando o processo de migração das populações rurais para as áreas urbanas. Ele cita que avanços em automação, biotecnologia e ferramentas digitais aumentaram significativamente a eficiência e a produtividade das culturas e criações, o que, por sua vez, resultou na diminuição da demanda por mão de obra rural, especialmente em regiões dominadas por monoculturas.
“Essa redução da população no campo tem gerado desafios complexos para o poder municipal, que precisa se adaptar a essa nova realidade. Com a diminuição da população rural, o município enfrenta dificuldades no que diz respeito à manutenção de uma infraestrutura adequada, especialmente nas áreas de transporte, saúde e educação. A redução do número de habitantes no campo exige uma reestruturação dos serviços públicos, pois a demanda por serviços essenciais, como escolas e postos de saúde, se concentra principalmente nas áreas urbanas, gerando uma sobrecarga nesses serviços e dificultando a garantia de atendimento adequado, especialmente nos assentamentos e pequenas propriedades rurais”, alerta Rigo.
De acordo com ele, além disso, a manutenção e a expansão das estradas rurais, essenciais para o escoamento da produção agrícola e o acesso da população aos serviços essenciais, se tornam cada vez mais desafiadoras. Com um número reduzido de habitantes no campo, a viabilidade econômica de investir na manutenção dessas vias muitas vezes fica comprometida.
“Outro ponto crítico é o escoamento da produção agrícola. A diminuição da mão de obra e o abandono de algumas atividades rurais tornam cada vez mais difícil garantir o transporte eficiente dos produtos para o mercado. O poder municipal deve assegurar a manutenção das rotas de escoamento, mas com a redução da população e a escassez de trabalhadores, isso se torna um processo mais oneroso e complexo”, reflete.

Outro ponto, segundo Rigo, é que a escassez de mão de obra rural também afeta diretamente a agricultura familiar, que depende de trabalhadores para suprir a demanda local por produtos, como hortaliças e outros alimentos essenciais para escolas, mercados e mercearias. “Com menos pessoas dispostas a trabalhar no campo, o município pode ver uma maior dependência de produtos agrícolas de outras regiões, o que impacta a economia local e sobrecarrega ainda mais a infraestrutura municipal”, diz ele. 

Além disso, Rigo explica que o êxodo rural traz consigo questões sociais e culturais que exigem a atenção do poder público. “O enfraquecimento das comunidades rurais pode levar à perda de identidade e coesão social, além de dificultar a implementação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável. O envelhecimento da população rural é outro fator preocupante, já que as novas gerações migram para as cidades em busca de melhores oportunidades de emprego e qualidade de vida”.

O presidente da AEASC, Laert Rigo:  tecnologia no campo tem promovido uma acelerado o processo de migração das populações rurais para as áreas urbanas

DESAFIOS PARA OS PREFEITOS - Portanto, a saída do homem do campo, alerta Rigo, impõe ao poder municipal a necessidade de uma abordagem integrada, que considere não apenas os desafios logísticos e econômicos, mas também as questões sociais e culturais, de modo a promover um desenvolvimento rural sustentável que beneficie tanto as áreas urbanas quanto as rurais.
“Em São Carlos, essa realidade é particularmente visível na predominância da monocultura da cana-de-açúcar, que ocupam grandes propriedades, e outras menores que são arrendadas para a agroindústria canavieira. Antigamente, essas propriedades abrigavam colônias de residentes trabalhadores rurais, e até escolas em algumas delas. Com a implementação das novas tecnologias agrícolas, muitas dessas colônias foram desativadas e transformadas em áreas de cultivo”, afirma o presidente da AEASC.

Atualmente, a presença humana no campo de São Carlos está predominantemente ligada à agricultura familiar. Pequenos produtores ocupam sítios e chácaras nos arredores da cidade e nos distritos de Santa Eudóxia e Água Vermelha, além dos assentamentos rurais Santa Helena e Nova São Carlos. Esses produtores familiares são responsáveis por grande parte da produção de hortaliças que abastecem as escolas municipais e as prateleiras de mercados e mercearias da cidade.

REDUÇÃO DA POPULAÇÃO RURAL NO ESTADO - A evolução da população residindo em áreas rurais no Estado de São Paulo aponta redução em mais da metade desse contingente, entre 1980 e 2022, atingindo 1,3 milhão de habitantes no último ano censitário, com queda intensificada a partir de 2000. No sentido contrário, o grau de urbanização, indicador que mede a relação entre a população urbana e a total, passou de 88,6%, em 1980, para 97,0%, em 2022. A população urbana quase dobrou no período analisado, correspondendo a 43,1 milhões de habitantes no último ano.
O indicador idade média permite analisar o envelhecimento da população. Para os residentes na área rural, essa idade aumentou 6 anos, entre 2010 e 2022, passando de 32,9 para 38,9 anos, enquanto para a população que vive em área urbana o acréscimo foi de 4 anos (de 33,5 para 37,6 anos). Em 2010, a idade média da população rural era cerca de meio ano mais jovem que a da urbana, invertendo essa relação em 2022, quando os residentes na área rural ficaram em média um ano mais velhos.
Em 2010, 25% dos municípios paulistas (159) apresentavam grau de urbanização elevado, maior que 95%, e se concentravam no eixo rodoviário Anhanguera. Aqueles com grau intermediário (entre 65% e 95%) eram 65% do total e situavam-se mais a oeste do Estado. Apenas 63 municípios (10%) registravam urbanização inferior a 65%, concentrando-se principalmente na região serrana do Vale do Paraíba, no Pontal do Paranapanema e ao sul do Estado. Nesta última categoria, seis municípios tinham menos de 35% de urbanização, com o menor grau pertencente a Pedra Bela (24,9%) na RA de Campinas.

Já em 2022, a urbanização se intensifica no Estado, que passa a registrar 31% dos seus municípios (197) com grau superior a 95%, alargando a concentração no eixo rodoviário Anhanguera, com discreto avanço para o oeste. Os municípios com grau intermediário passaram de 423 para 402, mantendo maior concentração na região oeste. Apenas 46 municípios (7%), mais localizados na região serrana do Vale do Paraíba, no Pontal do Paranapanema e ao sul, apresentaram proporção inferior a 65% e somente Pedra Bela permaneceu com grau inferior a 35%, sendo o município paulista com menor grau de urbanização (27,1%).

POPULAÇÃO RURAL MAIS VELHA-  A idade média da população rural paulista aumentou de forma mais acelerada do que a urbana. Enquanto a média de idade da população urbana subiu de 33,5 anos, em 2010, para 37,6 anos, no meio rural esse avanço foi maior, passando de 32,9 para 38,9 anos no mesmo período.
“A população urbana quase dobrou no período analisado, correspondendo a 43,1 milhões de habitantes no último ano. Esse resultado reflete uma tendência global de concentração da população em áreas urbanas, impulsionada por fatores como oportunidades de trabalho e acesso a serviços”, destaca Paulo Borlina Maia, pesquisador da Fundação Seade.

O estudo ainda revela que, em 2010, 159 municípios paulistas apresentavam grau de urbanização elevado, maior que 95%, e se concentravam no eixo rodoviário Anhanguera. Já as cidades com grau intermediário (entre 65 e 95%) eram 65% do total e encontravam-se mais a oeste do Estado. 
Apenas 10% (63 municípios) registravam urbanização inferior a 65%, localizados principalmente na região serrana do Vale do Paraíba, no Pontal do Paranapanema e ao sul do estado. Na última categoria, seis municípios tinham menos de 35% de urbanização, com o menor grau pertencente à Pedra Bela (24,9%), na RA de Campinas.

 

AVANÇO DA URBANIZAÇÃO -Em 2022, a urbanização se intensificou no estado, passando a registrar 31% de seus municípios (197) com grau superior a 95%, alargando a concentração no eixo rodoviário Anhanguera e discreto avanço para o oeste. 

Os municípios no grau intermediário passaram de 423 para 402, mantendo maior concentração na região oeste. Apenas 46 municípios (7%), mais localizados na região serrana do Vale do Paraíba, no Pontal do Paranapanema e ao sul, apresentaram proporção inferior a 65% e somente a cidade de Pedra Bela permaneceu com grau inferior a 35%, sendo o município paulista com menor grau de urbanização (27,1%).

A evolução da população residindo em áreas rurais no Estado de São Paulo aponta redução em mais da metade desse contingente, entre 1980 e 2022, atingindo 1,3 milhão de habitantes no último ano censitário, com queda intensificada a partir de 2000. No sentido contrário, o grau de urbanização, indicador que mede a relação entre a população urbana e a total, passou de 88,6%, em 1980, para 97,0%, em 2022. A população urbana quase dobrou no período analisado, correspondendo a 43,1 milhões de habitantes no último ano.

O indicador idade média permite analisar o envelhecimento da população. Para os residentes na área rural, essa idade aumentou 6 anos, entre 2010 e 2022, passando de 32,9 para 38,9 anos, enquanto para a população que vive em área urbana o acréscimo foi de 4 anos (de 33,5 para 37,6 anos). Em 2010, a idade média da população rural era cerca de meio ano mais jovem que a da urbana, invertendo essa relação em 2022, quando os residentes na área rural ficaram em média um ano mais velhos