Mistério sobre a morte do casal Sundermann completa 29 anos
Casal foi encontrado morto no Dia dos Namorados de 1994 em uma casa no Jardim Nova Estância, em São Carlos.
12 JUN 2023 • POR Redação São Carlos Agora • 07h08Nesta segunda-feira (12), Dia dos Namorados, completa-se 29 anos da misteriosa morte do casal José Luis e Rosa Sundermann. Até o momento os responsáveis pelo bárbaro crime não foram identificados e o caso foi prescrito e arquivado, mas com observações.
Dezenas de volumes com apontamentos sobre a vida do casal, militância política, relacionamento com amigos e outros detalhes de interesse policial hoje encontram-se a disposição da 5ª Delegacia de Crimes Especiais do Departamento de Homicídios de Proteção a Pessoa (DHPP) da capital Paulista que ainda está sem uma resposta do que teria ocorrido na madrugada do dia 12 de Junho de 1994, no interior da casa dos Surdermans, localizada no bairro Nova Estância, região norte de São Carlos.
A única testemunha do crime, o estudante universitário e radialista, Carlos Eduardo Sundermann, na época com 21 anos, o Duda, filho do casal também acabou morrendo na madrugada do dia 26 de abril de 1998, quando passava o final de semana com amigos da UFSCar no sítio Bocaina, na antiga estrada de Analândia, quando durante o acampamento “Duda”, teria caído da cachoeira.
Em maio de 2005, o caso chegou a ser reaberto pelo Departamento de Homicídios e Proteção Pessoal (DHPP) da capital.
O crime
No dia 12 de junho de 1994, por volta das 3h, da madrugada os dois dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados - PSTU, José Luís Sundermann e sua esposa Rosa Hernandes Sundermann, ambos de 37 anos, foram executados no interior da própria residência na rua Peru, no Jardim Nova Estância, em São Carlos.
Segundo a polícia, naquela época, ao chegar em casa, por volta das 3h, o filho mais velho do casal Carlos Eduardo, então com 17 anos, encontrou os corpos dos pais na sala daquela casa.
O então delegado titular do 1º Distrito Policial, da Vila Nery, Felix Francisco Tavelin, hoje aposentado, descartou a possibilidade de latrocínio porque nada teria sido roubado e não havia sinal de arrombamento ou luta corporal na casa.
Apurou-se naquele dia que o casal Sundermann teria saído na noite de 11 de junho, um sábado, da sua residência junto com os filhos e os pais, a um restaurante que existia na região da Praça Itália onde jantaram.
Por volta da 0h30, do dia 12 de Junho, José Luís levou a filha menor e seus pais para casa, porém o filho mais velho ficou na avenida São Carlos, no centro, quando teria ido a um baile da Associação Beneficente dos Alfaiates de São Carlos (ABASC), na rua Jesuíno d Arruda.
Ao regressar para a residência, às 3h no “Dia dos Namorados”, Carlos Eduardo Sundermann, encontrou o portão de entrada da casa trancado, a porta da sala aberta e no centro dela estava o pai, José Luis caído de bruços, morto com um tiro frontal na cabeça e outro no lado esquerdo. Sua mãe, Rosa Sundermann, ainda estava sentada no sofá da sala com as pernas cruzadas e as mãos também cruzadas sobre uma almofada com um tiro na cabeça.
O delegado de plantão naquele dia, era Idineu Ferreira de Araújo, que, juntamente com seus policiais, se deslocou até o local do bárbaro crime. Naquela madrugada, ele também descartou a hipótese de latrocínio ou homicídio seguido de suicídio, devido as circunstâncias em que se encontravam os corpos e a inexistência. "Havia dinheiro, talões de cheques preenchidos os quais foram apreendidos para investigação", declarou o delegado naquele dia.
A reitoria da UFSCar, também naquele dia, pela manhã, lamentou a morte do servidor José Luís e da sua esposa.
O velório do casal Sundermann foi realizado no saguão da reitoria da Universidade Federal de São Carlos e no final da tarde daquele dia 12 de junho, “Dia dos Namorados”, ambos foram sepultados no Cemitério Nossa Senhora do Carmo.
Mistério Persiste
Passados 29 anos o mistério ainda persiste. A polícia chegou a investigar possíveis mandantes e executores do crime, porém não obteve sucesso. Na época o delegado Maurício Antônio Dotta e Silva que respondia pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) chegou a empreender dezenas de viagens para vários locais do país a fim de identificar os matadores do casal “Sundermann”. Um fato que chama atenção é que muitos amigos e pessoas ligadas ao casal, por receio ou por medo, até hoje se negam a falar sobre as vítimas e o que suspeitam de que poderia ter ocorrido naquela madrugada do Dia dos Namorados. Alguns chegam a falar sobre um crime político, o qual segundo a polícia nunca chegou ser.
Vizinhos dizem que no dia do crime ninguém notou nenhuma movimentação na casa, o que sempre acontecia, segundo os próprios vizinhos.
Trajetória política
Neste mês encontramos alguns amigos do casal que concordaram falar sobre os Sundermmans. Um deles pedindo anonimato disse que conhecia bem toda a trajetória política de Rosa e José Luis. Ele não quis comentar sobre o crime apenas falou sobre a trajetória política do casal.
Segundo ele José Luís era vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de São Carlos, ativista da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU). O sindicalista também participou, em 1983, da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da CUT. Rosa, sua esposa, ajudou na coordenação política do PT, e posteriormente no dia 6 de junho de 1994, teria sido nomeada presidente do PSTU, uma semana antes do casal ser assassinado.
Em janeiro de 1979, Rosa e José Luiz Sundermann, participam do 9º congresso de trabalhadores na cidade de Lins. Segundo ele o casal participava da primeira chamada para construção do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele também diz que em março daquele ano, explodiu a greve dos metalúrgicos do ABC.
O movimento de fiação do PT aumentou e em maio de 1980, em nova greve de trabalhadores do ABC, alguns sindicalistas foram presos. Um deles era Luis Inácio da Silva, hoje ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. “Lula”, que naquela época ficou preso por 31 dias. No início de 1981, vários sindicalistas, entre eles o “Lula”, José Luiz Sundermman, José Dirceu, Celso Daniel, também assassinado de forma misteriosa e vários outros, praticamente lançaram o Partido dos Trabalhadores (PT), que teve sua filiação política confirmada em 1983.
De acordo com um amigo do casal, dez anos após, durante os meses de janeiro a setembro de 1993, José Luiz e Rosa Sundermman, participam de movimentos estudantis e em outubro daquele ano, eles e alguns sindicalistas, romperam com o Partido dos Trabalhadores (PT) e lançam a campanha de filiação do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU).
Em dezembro foi realizado o primeiro encontro do partido e já se comentava entre os afiliados em eleger como lideres do partido Rosa e José Luiz Sundermman, tanto era a liderança do casal que durante o congresso realizado em São Paulo nos dias 3, 4 e 5 do mês de Junho de 1994, no dia 6, Rosa Sundermman no final do congresso em que foi lançado o partido, foi ela empossada entre 195 delegados do partido como a presidente nacional do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU). “Infelizmente os ideais dos lideres do PSTU, foram ceifados de uma forma brutal. Sinceramente eu espero que a polícia nunca abandone este caso que para todos que conheciam Rosa e José Luis, foi uma perca muito grande”, finalizou o amigo.